Etanol de milho ganha protagonismo e impulsiona o agro no centro da transição energética do Brasil
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O agronegócio brasileiro, conhecido mundialmente por sua capacidade de alimentar o planeta, assumiu um novo e estratégico protagonismo: o avanço da transição energética do país. No centro dessa revolução, um produto ganha destaque: o etanol, em especial o derivado do milho, que está rapidamente se consolidando como um dos pilares da descarbonização e da segurança energética do país.
Tradicionalmente, a produção de etanol no Brasil esteve ligada à cana-de-açúcar. No entanto, o etanol de milho vem conquistando uma fatia cada vez maior do mercado. Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram um crescimento exponencial.
Em 2017, a produção de etanol de milho era de cerca de 500 milhões de litros. Em 2023, esse número saltou para mais de 6 bilhões de litros, representando aproximadamente 19% da produção total de etanol do Brasil.
Graças a avanços tecnológicos, o rendimento de grãos de milho por hectare aumentou em cerca de 30% na última década. Isso permite que a indústria produza mais etanol sem comprometer a produção de alimentos.
Para Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), o Brasil demonstra que é possível aliar produção e preservação. “O Brasil não precisa escolher entre produzir alimentos, energia e proteger o meio ambiente. Já fazemos tudo isso junto e podemos fazer ainda mais”, afirma.
Dados recentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelam a dimensão dessa transformação: o agronegócio já é responsável por quase 30% de toda a energia consumida no Brasil e por impressionantes 60% da energia renovável utilizada. Sem essa contribuição, a participação de renováveis na matriz energética brasileira cairia de cerca de 49% para aproximadamente 20%, um patamar muito próximo da média global.
Aprovado recentemente, o projeto de lei que institui o "Combustível do Futuro" é um marco para a transição energética no Brasil. Ele estabelece uma série de medidas que beneficiam diretamente o etanol, incluindo o de milho, ao promover a ampliação do uso de biocombustíveis na matriz de transportes.
A nova política abre caminho para o aumento progressivo do percentual de etanol anidro na gasolina, podendo chegar a até 30% ou 35%. Essa medida, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, diminui a dependência do país da importação de gasolina, o que gera mais estabilidade de preços.
A expansão do etanol de milho é um dos fatores que dão segurança para o avanço de políticas públicas como o programa "Combustível do Futuro". O deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), relator do projeto e presidente da Comissão de Transição Energética da Câmara, é um dos grandes defensores dessa agenda.
O Deputado destaca que o aumento da produção, impulsionado pelo milho, permite discussões concretas sobre o aumento da mistura de etanol na gasolina para até 35%. "Os biocombustíveis são a rota mais custo-efetiva do mundo para promover a transição energética e uma formidável oportunidade para gerar investimento e produzir riqueza, não abriremos mão disto!", afirma o deputado.
A coordenadora do Observatório de Bioeconomia da FGV, Talita Priscila Pinto, afirmou que 80% das emissões de gases de efeito estufa no mundo vem dos combustíveis fósseis. Segundo ela, hoje um dos principais desafios da humanidade para se descarbonizar é reduzir essas emissões.
O sucesso do etanol é a base para a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), um programa inovador que remunera os produtores pela sua eficiência ambiental. Através dos Créditos de Descarbonização (CBIOs), o RenovaBio incentiva a produção de biocombustíveis que emitem menos gases de efeito estufa. Desde sua implementação em 2020, o programa já evitou a emissão de mais de 147 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente ao que 1 bilhão de árvores fariam em duas décadas.
“Quando a gente olha para os biocombustíveis, vemos que são o sucesso da bioeconomia do ponto de vista econômico, social e ambiental e o Brasil se destaca do resto do mundo de forma positiva. É a agroenergia mostrando para o mundo que é possível gerar mais emprego, se desenvolver, fomentar a economia e ser um fator promotor de descarbonização”, destacou a Coordenadora da FGV.
Talita lembrou que o setor agropecuário é a única atividade econômica que consegue remover carbono da atmosfera. “A agroenergia é uma fonte de remoção que é potencializada desde o manejo da terra à queima desses combustíveis quando comparada com o petróleo e outras fontes fósseis. Por isso, estamos em um momento estratégico para se posicionar como país e contar a história como deve ser contada.”
Já o ministro Fávaro destacou a importância do agro brasileiro na iniciativa. “ O Brasil se destaca como um país de produção energética, muito impulsionada pela nossa agropecuária. Pequenos, médios e grandes produtores são protagonistas dessa transição energética, que vem da terra, do solo e da fotossíntese. Transformando-se em biocombustível, biogás e biomassa. A agricultura, em parceria com o setor de Minas e Energia, está promovendo uma verdadeira revolução. Este é um exemplo para o Brasil e para o mundo”, destacou.
Indústrias automotivas
As indústrias automotivas no Brasil estão em um movimento de preparação estratégica para a crescente participação do etanol de milho na matriz de combustíveis. A principal vantagem é que a tecnologia flex fuel, já consolidada no mercado brasileiro, facilita a transição. Isso significa que, do ponto de vista do motor, a troca do etanol de cana-de-açúcar pelo de milho não exige grandes alterações nos veículos já existentes. A composição química de ambos é a mesma, o que garante a compatibilidade.
No entanto, a indústria já está olhando para a próxima geração de veículos, focando na eficiência energética e na redução ainda maior de emissões.
As montadoras, como Toyota, Honda e Stellantis, têm investido em tecnologia híbrida flex. Esses veículos combinam um motor a combustão que funciona com etanol ou gasolina e um motor elétrico. O etanol, com sua queima mais limpa, é o combustível ideal para esses sistemas. Ele reduz as emissões de dióxido de carbono (CO2) em até 90% em relação à gasolina, além de emitir menos material particulado e óxidos de nitrogênio.
Para maximizar a eficiência, as montadoras estão desenvolvendo e ajustando componentes como sistemas de injeção direta de combustível e unidades de controle eletrônico (ECUs) para reconhecer e aproveitar ao máximo as características do etanol de milho. Isso garante que o veículo entregue o melhor desempenho e consumo, independentemente do tipo de etanol utilizado.
Um ponto de destaque é o desenvolvimento de motores adaptados para veículos pesados. Embora a maioria dos caminhões ainda utilize diesel, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) tem acompanhado de perto a pesquisa e o desenvolvimento de caminhões a etanol e híbridos. A tecnologia já existe e está em teste, com o objetivo de reduzir a dependência do diesel, um combustível de origem fóssil e com emissões mais altas.
Com relação a distribuição do etanol, seja de milho ou de cana, é distribuído por meio de uma complexa rede de dutos, ferrovias e caminhões-tanque. O que muda, é o aumento da produção em regiões onde o milho é abundante, como o Centro-Oeste. Isso melhora a logística e reduz os custos de transporte do biocombustível para outras partes do país.
Preços
Com o avanço da transição energética, o Brasil se torna menos dependente de combustíveis fósseis importados, o que fortalece a economia e protege o país de flutuações geopolíticas e de preços internacionais do petróleo. Estudo da BTG Pactual indica que o custo de produção do etanol de milho tem se tornado cada vez mais competitivo em relação ao de cana-de-açúcar.
O preço final do combustível na bomba é resultado de uma complexa equação que inclui o preço da matéria-prima (etanol ou gasolina), impostos, custos de distribuição e margem de lucro. No caso do etanol de milho, ele atua em vários pontos para ajudar a reduzir os custos.
A produção de etanol de cana-de-açúcar é sazonal, concentrada durante a safra da cana, o que causa oscilações nos preços ao longo do ano. Já a produção de etanol de milho, por utilizar um grão que pode ser armazenado, funciona durante o ano todo. Isso garante um abastecimento mais constante e menos sujeito a picos de preço de entressafra.
“A presença do etanol de milho no mercado atua como um regulador, equilibrando a oferta total de biocombustível no país. Um suprimento mais estável e previsível tende a mitigar a volatilidade e, consequentemente, a pressão sobre os preços”, destacou o banco BTG Pactual.
O processo de produção de etanol de milho gera coprodutos valiosos, como o DDGS (Dried Distillers Grains with Solubles), que é uma ração animal rica em proteína. A venda desses subprodutos gera uma receita adicional para as usinas, o que permite que elas vendam o etanol a um preço mais baixo e ainda mantenham a rentabilidade.
O etanol de milho tem o potencial de ser mais econômico e estável em relação ao preço do diesel, que sofre com as flutuações do mercado internacional. Para a CNT, uma previsibilidade maior nos preços de combustíveis é vital para o planejamento das empresas de transporte, que operam com margens de lucro apertadas.
Investimentos:
Com relação aos investimentos no setor, já foram investidos mais de R$ 20 bilhões na construção de novas usinas e na ampliação das existentes nos últimos cinco anos, principalmente na região Centro-Oeste, onde a produção de milho é vasta e a logística favorável.
A iniciativa de aumento progressivo do percentual de etanol anidro na gasolina, criada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), impulsiona o surgimento de novas indústrias verdes no Brasil. O programa irá destravar investimentos que somam R$ 260 bilhões em diversas áreas e ações, que vão evitar a emissão de 705 milhões de toneladas de CO2 até 2037.
Empresas como a Inpasa, maior produtora de etanol de milho do Brasil, são a prova viva desse avanço. Com investimentos bilionários em novas e gigantescas usinas em estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Maranhão, a Inpasa já responde por quase 50% do etanol de milho produzido no Brasil. Suas plantas processam milhões de toneladas de grãos e, além do combustível, produzem o DDG (grãos secos de destilaria com solúveis), um farelo de alto valor nutritivo para a pecuária, e geram a própria bioeletricidade a partir de biomassa, em um modelo de economia circular.
A transição energética brasileira, liderada pelo agronegócio com o etanol de milho, é uma demonstração de como o país pode unir produção de alimentos e energia limpa de forma eficiente e sustentável, servindo de modelo para o mundo.
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