Importações de diesel dos EUA superam as da Rússia e ampliam riscos geopolíticos para o Brasil, aponta especialista

Publicado em 17/09/2025 10:11
Mudança no perfil de fornecedores em 2025 torna o país mais sensível a decisões externas; Vitor Sabag, do Gasola, analisa os efeitos sobre custos logísticos e preços ao consumidor

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Ministério do Desenvolvimento, o Brasil vem alterando de forma significativa, em 2025, o perfil de seus fornecedores de diesel. Entre janeiro e junho, a Rússia respondeu por aproximadamente 53% do volume importado, enquanto os Estados Unidos representaram 19,5%. Em julho, no entanto, a situação se inverteu: quase metade do diesel comprado pelo Brasil (45%) teve origem americana, contra 35% proveniente da Rússia, conforme registros da ANP e análises da consultoria Datamar. Esse movimento reforça a dependência externa do país e aumenta a exposição a fatores geopolíticos que ultrapassam o controle interno.

 

A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) aponta que o fluxo de cargas oriundas dos EUA ganhou tração ao longo do inverno do Hemisfério Norte e que, entre agosto e setembro, as entradas americanas tendem a superar as russas — a depender de preço, disponibilidade e frete —, movimento coerente com a leitura do Preço de Paridade de Importação (PPI) divulgada em agosto pela entidade.

Para o especialista em combustíveis Vitor Sabag, do Gasola — empresa de tecnologia que atua na gestão e monitoramento de consumo de combustíveis —, o revezamento de fornecedores precisa ser observado sob a ótica de risco: “Ao buscar mais contratos com fornecedores americanos, o Brasil reduz a dependência russa no curto prazo; por outro lado, aumenta sua sensibilidade a decisões políticas e comerciais dos Estados Unidos, que podem alterar rapidamente o custo de importação e a previsibilidade de preços”.

Essa sensibilidade não é apenas uma hipótese distante, pois em agosto de 2025, os Estados Unidos dobraram tarifas de importação sobre a Índia, como represália à continuidade das compras de petróleo russo, mostrando como ajustes diplomáticos podem ter repercussões imediatas no mercado internacional.

Para o Brasil, a leitura é de cautela: analistas e agentes de mercado discutem o risco de medidas semelhantes afetarem países que ampliaram compras de diesel e fertilizantes russos desde 2022. “Qualquer restrição, sanção ou tarifa adicional imposta ao comércio de diesel teria efeito direto sobre o consumidor brasileiro, impactando a logística, o transporte de cargas e o preço de mercadorias básicas”, avalia Sabag.

Apesar de a Petrobras manter o preço interno do diesel estável há quatro meses, o mercado segue exposto às flutuações externas. Isso porque a cotação internacional do combustível e a variação do câmbio continuam influenciando os custos de importação. “Existe uma defasagem natural entre a política de preços nacional e as referências globais; quando o câmbio se move e o frete encarece, a cadeia sente”, reforça o especialista.

Na avaliação de Sabag, os próximos meses dependerão da oferta global e do humor geopolítico: “Se a normalização operacional das refinarias russas se confirmar no fim de 2025 e não houver novas barreiras comerciais do lado americano, a tendência é de alívio relativo; mas qualquer ruído regulatório ou tarifário pode inverter o sinal rapidamente”. Para ele, o ponto central é lembrar que o diesel move o Brasil — do agronegócio ao transporte rodoviário — e que oscilações na oferta ou no preço reverberam em toda a economia, chegando ao bolso da população.

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Fonte:
Abicom

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1 comentário

  • Henrique Afonso Schmitt blumenau - SC

    Quando um país não tem plano estratégico, quando seus governantes não pensam no bem-estar da Nação e, sim, nos interesses que os conservem no poder, o país entra em parafuso, derrocada, exatamente como está acontecendo conosco. A falta de plano estratégico faz com que apesar de termos petróleo, não temos combustível. Apesar de termos matéria prima para adubos e fertilizantes e defensivos agrícolas, não temos estes produtos acabados. Nosso exército depende do humor internacional, porque seus equipamentos dependem do exterior em 90% aproximadamente, segundo informações. Nossa saúde depende de multinacionais para ter remédios. Nossa infraestrutura de transporte, armazenagem e escoamento, incluindo os portos, está sucateada. E assim, poderíamos enumerar muitos mais ítens que estão "entregues às baratas". Mas, nossos governantes tem outros problemas prioritários, e a Nação vai empobrecendo, porque - entre outros fatores - o Estado avança sobre a renda dos cidadãos tirando deles mais de 35% de suas rendas e oferecem quase nada em troca...QUANDO ISSO VAI MUDAR?

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    • anderson boff missal - PR

      Poisé Sr Henrique, o Brasil só mudou os séculos mas continua sendo colônia, vc já deu a explicação os nossos 3 poderes tirando algumas exceções só querem o voto e o dinheiro público, mas acrescentaria no seu comentário o povo brasileiro, uma boa porcentagem, que só pensa no hoje, no dinheiro fácil, não tem interesse próprio de melhorar se não for com dinheiro fácil imagine se preocupar com país e são esses mesmo que votam no que tem de pior. Brasil só muda quando mudar a educação e as leis mas a pergunta quem irá mudar?

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