Negociações climáticas entram na última semana e delegados abordam questões mais difíceis
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Por Lisandra Paraguassu e Kate Abnett e Sudarshan Varadhan
BELÉM (Reuters) - Ministros de várias partes do mundo estavam se preparando para os últimos e tensos dias de negociações na cúpula climática da ONU, na tentativa de garantir um acordo que demonstre a determinação global em meio à crescente assertividade das nações em desenvolvimento.
A tarefa não será fácil. Os países estão agora se debruçando sobre algumas das questões mais difíceis -- muitas das quais foram deixadas de fora da agenda formal para garantir que as negociações continuem, mesmo que uma questão fique emperrada.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também deve chegar na quarta-feira para ajudar a reunir consenso entre as partes na cúpula da cidade amazônica de Belém, antes da última sessão programada para sexta-feira.
"O tempo da diplomacia performática já passou. Agora é hora de arregaçarmos as mangas, nos unirmos e realizarmos o trabalho", disse o chefe do clima da ONU, Simon Stiell, às delegações em um discurso de abertura da segunda semana da conferência.
A nova dinâmica da diplomacia climática teve China, Índia e outras nações em desenvolvimento mostrando mais força neste ano, enquanto a União Europeia foi abalada pelo enfraquecimento do apoio interno e os Estados Unidos, outrora dominantes, não participaram.
Questionado se havia alguma questão dominando as negociações, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, respondeu: "Tudo, tudo. É muito complicado".
O ministro dinamarquês do clima, Lars Aagaard, afirmou que a União Europeia estava demonstrando liderança, mas que ainda há muito chão pela frente nas negociações.
"Hoje é segunda-feira, então acho que é um pouco cedo para dizer quem está ativo e quem está liderando essas negociações. Poderemos avaliar isso quando chegarmos ao final", avaliou.
A principal meta do Brasil para a COP30 é chegar a um termo que reafirme o Acordo de Paris de 2015, ao mesmo tempo em que reconheça suas deficiências, estabelecendo planos claros para ações climáticas futuras.
O trabalho da cúpula é "árido, complicado, angustiante, cansativo -- e absolutamente necessário", disse o ministro de Energia do Reino Unido, Ed Miliband.
ATENÇÃO ÀS DIFERENÇAS
Ao longo da última semana, negociadores tiveram a oportunidade de expor suas diferenças em três questões principais: financiamento climático, medidas comerciais unilaterais e cortes de emissões planejados que ficam muito aquém do necessário.
O objetivo central do tratado de Paris, de evitar o aquecimento além de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, não será alcançado.
As tendências atuais de emissões fazem com que o mundo se aqueça em pelo menos 2,3 graus Celsius, o que, segundo o ministro do Clima da Noruega, as partes concordaram que precisaria ser resolvido.
"É imprescindível poder falar sobre como fechar a lacuna daqui para frente", disse o ministro, Andreas Bjelland Eriksen, à Reuters.
Um bloco de países em desenvolvimento também está buscando um cronograma de pagamento para garantir que os países ricos cumpram as promessas feitas na COP29 do ano passado de entregar anualmente US$300 bilhões em financiamento climático até 2035. Os EUA -- ausentes da COP30 -- descumpriram compromissos anteriores.
ALGUM PROGRESSO
A Dinamarca, que produz a maior parte de sua eletricidade a partir do vento, anunciou uma nova meta obrigatória para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 82% até 2035, em comparação com os níveis de 1990.
"Acreditamos que esse é o número mais alto e mais ambicioso de qualquer país do mundo desenvolvido", disse Aagaard.
A meta da Dinamarca é substancialmente mais ambiciosa do que o compromisso geral da UE de reduzir as emissões em 66,25% a 72,5% até 2035.
A Coreia do Sul, que opera a sétima maior frota de usinas elétricas a carvão do mundo, anunciou que deve deixar de construir novas usinas a carvão e desativar quase dois terços das usinas existentes até 2040. As demais também serão desativadas, embora o cronograma não tenha sido detalhado.
A transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos países em desenvolvimento, no entanto, continua uma questão polêmica.
O plano da Indonésia de desativar 6,7 gigawatts de capacidade de usinas elétricas movidas a carvão até 2030 corre o risco de fracassar devido à paralisação dos desembolsos de financiamento dos países ricos.
"Se não houver ninguém realmente disposto a financiar a eliminação gradual do carvão, teremos que pensar se a eliminação gradual é de fato a melhor opção", disse à Reuters Paul Butarbutar, chefe do Secretariado da Indonésia do programa Just Energy Transition Partnership.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, Valerie Volcovici, Katy Daigle, Simon Jessop, William James, Kate Abnett e Sudarshan Varadhan; reportagem adicional de Eduardo Baptista em Pequim)
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