Famílias retiradas de área indígena em MT superlotam cidades vizinhas

Publicado em 09/01/2013 06:31 e atualizado em 09/01/2013 08:11
Famílias de Posto da Mata estão abrigadas em salas de aula de escolas nas pequenas cidades vizinhas. Excesso populacional da noite para o dia gera problemas na região. Por Dhiego Maia, do G1 MT.

A desocupação do vilarejo de Posto da Mata, em Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá, que concentrou nos últimos dois meses o foco de resistência dos posseiros contrários à desocupação da Terra Indígena de Marãiwatsédé, dos Xavantes, tem gerado um problema social nos municípios da região nordeste de Mato Grosso. A migração forçada inflou da noite para o dia a população de cidades 'nanicas' que não contam com infraestrutura para receber tanta gente de uma só vez.


O prefeito do município de Bom Jesus do Araguaia, a 983 quilômetros de Cuiabá, Joel Ferreira, contou ao G1 que as salas de aula e a quadra de esportes de uma escola da cidade abrigam centenas de famílias oriundas de Posto da Mata. “Já cadastramos 110 famílias, mas a previsão é que até mil pessoas venham para cá. Não temos estrutura para tanta gente. Nenhuma ambulância está rodando e a folha de pagamento está cinco meses atrasada. A nossa situação não está nada fácil”, afirmou Ferreira.


Ele revelou ao G1 que o município doou uma área correspondente a 70 lotes para abrigar as famílias remanescentes do vilarejo. Mas o local não conta com redes de água, esgoto e nem energia elétrica. “Essa área não tem estrutura, mas seria a saída para as famílias que desmontaram suas casas e construirão aqui residências menores”, destacou. O local já abriga 100 pessoas que por conta própria decidiram morar no loteamento que recebe água de um caminhão-pipa.


Em Alto Boa Vista, os moradores de Posto da Mata também resolveram buscar abrigo nas duas únicas escolas da cidade. Mais de 200 pessoas estão espremidas em salas de aula. Quem não encontrou espaço abrigou-se na quadra de esporte. “As duas escolas estão ocupadas. Estamos distribuindo cestas básicas e sopão, mas não temos estrutura para abrigar tanta gente assim”, destacou o prefeito Leosipe Domingues Gonçalves.


O prefeito afirmou ainda que muitas famílias estão se unindo para alugar casas. Segundo ele, tem residência com duas, três famílias juntas. O prefeito ressaltou que os recursos de Alto Boa Vista concentravam-se em Posto da Mata. A cidade não conta com empregos e se sustenta na agricultura e pecuária. “Lá em Posto da Mata tinham 92 comércios, uma casa veterinária, um armazém com capacidade para abrigar mil sacos de arroz e um laticínio que já chegou a produzir 40 mil litros de leite por dia”, revelou o prefeito.


O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) diz que ofereceu uma área no município de Ribeirão Cascalheira, a 150 quilômetros de Alto Boa Vista. Quem esteve no local afirmou que as terras são improdutivas. “Aquela área não presta. Tenho 64 anos e entendo de terra e aquela não presta para nada. Nem se calcarear ela, não dá certo”, disse o produtor Edvaldo Paulino.


Desocupação


Quatro dias após o término do prazo dado pela Justiça para desocupação do vilarejo, algumas famílias ainda estão no local retirando os últimos pertences. Segundo o prefeito de Alto Boa Vista, aproximadamente 20% da população ainda continua em Posto da Mata nesta terça-feira (8). Um caminhão-guincho derruba as residências que restaram na comunidade. Os currais também já foram destruídos.


Suiá Missú: Área será devolvida aos Xavantes

No último comunicado à imprensa, a Fundação Nacional do Índio (Funai) classificou como satisfatório o processo de desocupação, apesar do registro de um conflito entre produtores e homens da Força Nacional de Segurança na primeira ação de desocupação que terminou com vários feridos dos dois lados. Também em Posto da Mata, um caminhão carregado com sete toneladas de alimentos que seriam entregues aos índios da etnia Karajás foi incendiado. O ato de vandalismo motivou a ocupação dos vilarejo pela Força Nacional de Segurança no dia 30 de dezembro.

A área em disputa tem uma extensão aproximada de 165 mil hectares. Ainda de acordo com a Funai, o povo xavante ocupa a área Marãiwatsédé desde a década de 1960. Nesta época, a Agropecuária Suiá Missu instalou-se na região. Em 1967, índios foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e lá permaneceram por cerca de 40 anos.

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Bispo que deixou cidade de MT após ameaça de 
morte retorna para casa

Com o término do processo de desocupação da Terra Indígena de Marãiwatsédé, em Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá, um dos maiores defensores dos Xavantes em Mato Grosso retornou para casa. Ameaçado de morte desde que o conflito entre índios e posseiros se intensificou, Dom Pedro Casaldáliga, de 84 anos, foi forçado a deixar São Félix do Araguaia, a 1.159 quilômetros de Cuiabá, na madrugada do dia 7 de dezembro escoltado pela Polícia Federal.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um grupo de posseiros enviou uma série de ameaças direcionada a Casaldáliga que dizia que ele 'era o problema' e que 'faria uma visita para ele'. Segundo o secretário da Presidência da República, Nilton Tubino, a PF abriu um inquérito para apurar o caso. “Foi aberto um inquérito para tentar investigar a origem [ das ameaças]. Nesta terça-feira (8), o padre Paulo Santos, que vive com Casaldáliga há dois anos, afirmou ao G1 que o bispo não queria sair da cidade.
“Se dependesse dele não teríamos saído daqui. A Polícia Federal nos procurou dizendo que seria melhor que deixássemos a cidade. Depois que ele ouviu a Prelazia achou melhor tomar a decisão de deixar São Félix do Araguaia”, disse o religioso.

No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, os dois religiosos foram recebidos por outra equipe da Polícia Federal e levados para uma cidade do interior de Goiás que não foi revelada  pela Polícia Federal. O religioso aproveitou a permanência no estado vizinho para rever o amigo, também bispo emérito de Goiás, Dom Tomas Balduíno.

No dia 7 de dezembro, Casaldáliga e o padre Paulo Santos deixaram a residência do religioso escoltados por um agente da PF. Eles foram levados até o aeroporto da cidade. Em um voo fretado, Casaldáliga e o padre seguiram até Brasília.

O G1 apurou que a saída do religioso de São Félix do Araguaia foi recomendada pela PF tanto pelas ameaças direcionadas a ele como também pela vulnerabilidade da residência em que ele vive. Um dos lemas da vida do religioso, adepto da Teologia da Libertação, foi o de ‘nada possuir’. A PF temia que a residência simples e sem muro facilitasse o acesso dos autores das ameaças até ele que sofre do ‘Mal de Parkinson’ e está com a saúde debilitada.

“A gente voltou no anonimato de forma bem tranquila para não criar expectativa em ninguém. Dom Pedro já esteve nas celebrações das missas. Todos avaliaram que era a hora de voltar e assim decidimos retornar”, disse o padre Paulo.

Ainda de acordo com o padre Paulo Santos, a residência de Casaldáliga continua sendo monitorada pela PF, uma vez que a desocupação de Marãiwatsédé não terminou. Sobre a conquista dos xavantes, o padre informou ao G1 que Dom Pedro está feliz com a notícia, mas que, no momento, prefere não se manifestar sobre o caso.

Casaldáliga se aposentou da igreja em 2005 e na Ditadura Militar (1964-1985) também foi ameaçado, perseguido e chegou a ser confundido com outro religioso que foi assassinado no lugar dele.

Jornalista diz que Direitos Humanos é hipocrisia

A desintrusão da Reserva Indígena Marawatsede que está acontecendo desde o dia 10 de dezembro na região de Alto Boa Vista tem despejado centenas de famílias na beira da estrada.

De acordo com o advogado da Associação dos Produtores da Suiá Missu, Luiz Alfredo a decisão da Justiça que autoriza a desintrusão, tinha junto um ofício à OAB -Ordem dos Advogados no Brasil, ordenando que dois representantes dos Direitos Humanos acompanhassem a operação comandada pela FUNAI, porém desde o dia que começou a operação nenhum representante da entidade apareceu na área.

De acordo com produtores,  os Direitos Humanos deles estão sendo violados, eles estão sem moradia, sem condições de trabalhar, as crianças estão abaladas psicologicamente, e nenhum Direito Constitucional está sendo garantido, nem a idosos e nem às crianças,   eles denunciam que a Polícia também está abusando do poder.

A Jornalista que faz a cobertura do caso desde o dia 03 de dezembro escreveu e gravou um vídeo onde fez duras criticas à Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República Maria do Rosário.

Camila Nalevaiko classificou como hipocrisia o discurso de Maria do Rosário durante a solenidade de entrega do Prêmio Direitos Humanos 2012. Ela disse que o discurso é contraditório e bem diferente da realidade presenciada na região do Araguaia.

Abaixo o vídeo de desabafo e criticas à Maria do Rosário e aos Direitos Humanos no Brasil.

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Fonte:
G1 MT (TV CentroAmerica)

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4 comentários

  • Andre Luiz Scariot Gentil - RS

    Parabéns pela reportagem Camila. Mas ter que ver isto nesta época é um absurdo. Sabendo que os índios hoje possuem reservas indígenas somando uma área de 125.545.870 ha e eles não passam dos 900.000 índios, o que da em torno de 140 ha por índio, logo pode se perceber que o problema não é falta de terra e sim de infraestrutura, pois a funai só pensa em ampliar e demarcar novas reservas indígenas pelo Brasil a fora, deixando seu papel de lado.

    O problema não deve ser falta de terras, pois segundo dados do censo agropecuário o país conta com 5.175.636 estabelecimentos rurais e quase a metade(47%) sobrevivem com menos de 10 ha e acredito que nestas pequenas áreas tenham no minimo uma família ali trabalhando. Ai vem a pergunta, sera que o problema dos índios se resolvem demarcando e ampliando áreas?

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  • Emanuel Geraldo C. de Oliveira Imperatriz - MA

    > Marcos de Carvalho, incrivel que essa brutalidade foi feita, destruidas vidas, destruidas casas, familias... e a decisão é ainda preliminar, não foi julgada definitiva e o historiico documental é enorme. comprovando fraudes apresentadas ao presidente Fernando Henrique, que homologou reserva erguida falsamente. O STF precisa saber a verdade ou esse país se tornara uma imensa reserva indigena cheia de minerios, rios, biodiversidade sob comamdo dos EUA e da Europa e nós seus colonos!

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  • Marcos de Carvalho Dias Poços de Caldas - MG

    A última vez que estive no Posto da Mata foi em novembro do ano passado. A população estava apreensiva com a ameaça da desintrusão mas - ainda - esperançosa. Não era crível que aquela ameaça de "despejo" fosse concretizada. Afinal, o Brasil não é um país livre, democrático, onde o estado de direito deve falar mais alto?

    De lá até hoje aconteceu o impensável: em nome da JUSTIÇA a Força Nacional e Polícia Federal foram usadas para expulsar de suas casas gente honesta, trabalhadora, cuja maior ambição era progredir e crescer com e para o bem de seu país.

    Quando voltar ao Posto da Mata não verei mais nem a pequena vila nem tantos bons amigos que lá moravam. Eles foram despejados e se espallharam, não levando consigo nem a esperança de dias melhores.

    Parabéns à jornalista Camila Nalevaiko por sua matéria. O Brasil todo precisava ouvi-la.

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  • Emanuel Geraldo C. de Oliveira Imperatriz - MA

    Impressionante o desabafo da jornalista Camila. Parabens! Direitos humanos no Brasil não existe para produtores rurais, crianças, velhos, pessoas comuns...só para marginais, muitos engravatados em Brasilia! O ministro Ayres Brito deve estar satisfeito com sua obra Suia Missú (e tambem com sua obra Raposa Terra do Sol) onde ele certamente não leu historia, limitando-se a um laudo fraudulento de uma antropologa que pensa como ele e que nem foi na area, laudo parcial, fez sim justiça conforme sua ideologia jogando na miseria milhares de brasileiros honestos! E a imprensa covencional nada noticiou dessa guerrilha desumana onde o Big Brother é mais importante que as vidas destruidas no Araguia! A Globo, no final da desocupação, limitou-se a noticiar durante 1 ou 2 segundos a inverdade ocorrida pois não se interessou em buscar a verdade e evitar aquela injustiça! Pior: no Brasil, hoje, exstem centenas de Raposas, Bahia e Suia Missu acontecendo, chegando ao cumulo de requisitar 30% do Estado do MS e nossos politicos e organizações como CNA, FPA etc pouco fazem, tornando a luta desigual, salvo poucos deputados engajados na luta, nenhum do Maranhão, onde resido!

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