Banho frio, privada coletiva, 3 refeições... o dia-a-dia na Papuda

Publicado em 17/11/2013 16:58 e atualizado em 18/11/2013 06:29

Encaminhados ao complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, os condenados no processo do mensalão que foram presos neste final de semana terão três refeições por dia e terão de tomar banho frio. As informações são do jornal Folha de S.Paulo. 

Segundo a publicação, os dois réus condenados ao regime fechado cumprirão a pena nas penitenciárias DF-1 e DF-2. Os próprios presos têm de levar suas vestimentas e roupa de cama. As peças têm de ser brancas ou em tons pastéis. Os detentos podem receber visitas de familiares a cada 15 dias. (NR.: O vaso sanitário é coletivo...)

Os réus do regime semiaberto podem ficar no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), que fica na Papuda. As celas do local variam de tamanho, de acordo com a quantidade de presos. Kátia Rabello e a ex-funcionária do publicitário Marcos Valério Simone Vasconcelos cumprirão pena no Presídio Feminino. 

Na VEJA: Das mordomias do mensalão ao banho frio na cadeia

Genoino e Dirceu passam mais uma noite no complexo prisional da Papuda, onde dormem em beliches em uma cela que mede 12 metros quadrados

É em uma cela de 12 metros quadrados, com um único cano de água fria para o banho e beliches para dormir, que José Dirceu e José Genoino passarão as noites no complexo prisional da Papuda até que a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal decida seus destinos. Na noite de sábado, eles chegaram à ala federal do presídio, em Brasília. Outros nove condenados no processo do mensalão também estão detidos na capital federal.

As condições da prisão levaram os advogados do ex-presidente do PT e deputado licenciado a solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a transferência para o regime domiciliar. Eles sustentam o pedido na condição de saúde do petista, que passou por uma cirurgia cardíaca em julho, em São Paulo, e chegou a passar mal no voo entre Belo Horizonte e Brasília, no sábado. Neste domingo, os defensores afirmaram que ele teve uma nova crise na cadeia e teve de ser atendido por um médico particular.

Genoino aproveitou para dramatizar. Em um manifesto disse que se considera vítima de "uma farsa surreal". "Estamos presos em regime fechado, sendo que fui condenado ao semiaberto. Isso é uma grande e grave arbitrariedade, mais uma na farsa surreal que é todo esse processo, no qual fui condenado sem qualquer prova, sem um indício sequer", disse, acrescentando: "Se morrer aqui, o povo livre deste País que ajudamos a construir saberá apontar os meus algozes."

Processo - Na verdade, Genoino e Dirceu nem começaram a cumprir a pena de fato: até agora, todo o trâmite fez parte apenas do processo de apresentação dos condenados à Justiça e da reunião deles em Brasília, cidade determinada pelo STF. Quando passarem ao regime semiaberto, os condenados devem ser levados ao Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Brasília. Mas é possível que a transferência seja feita apenas na segunda-feira.

Apesar de terem sido condenados a regime fechado, Dirceu e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, ainda podem ter parte da sentença alterada porque têm direito a embargos infringentes. Como os recursos só serão analisados pelo STF em 2014, a dupla começou a cumprir uma pena menor, o que lhes dá direito ao semiaberto.

Mulheres - Até segunda-feira, a ex-banqueira Kátia Rabello e Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Marcos Valério, devem ser transferidas para o presídio feminino da Colmeia, a cerca de 40 quilômetros do Centro de Brasília. Por ora, elas permanecem na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Na coluna Política & Cia, do blog de Ricardo Setti:

VEJAM ESSA: o governo petista do DF construía, clandestinamente, celas especiais para abrigar os mensaleiros em caso de condenação. A Justiça proibiu

A SALA DOS MENSALEIROS --  As celas para os presos especiais seriam individuais e teriam: cama de solteiro; banheiro com privada; chuveiro elétrico; televisão; muito diferente do padrão da penitenciária local (FOTO: Cristiano Mariz)

A SALA DOS MENSALEIROS -- As celas para os presos "especiais" -- os mensaleiros -- seriam individuais e teriam cama de solteiro, banheiro com privada, chuveiro elétrico e televisão, muito mais confortáveis do que o padrão da penitenciária da Papuda (CLIQUE NA IMAGEM PARA VÊ-LA EM TAMANHO MAIOR) (FOTO: Cristiano Mariz)

Reportagem de Hugo Marques publicada em edição impressa da VEJA

ENTRE A CELA E A SALA

Às vésperas da eventual decretação da prisão dos mensaleiros, a Justiça manda suspender obras em presídio que estava sendo reformado para dar mais conforto aos petistas condenados

É inquestionável que no sistema prisional brasileiro impera, como regra, o sistema de punição extremada adicional.

Um criminoso condenado à pena de privação da liberdade vai ser submetido na penitenciária a uma série de outros castigos.

Ele pode ser estuprado.

Com certeza vai ser achacado por grupos de bandidos que comandam o comércio de drogas e produtos ilegais na cadeia e que vão exigir um pedágio para que os familiares consigam fazer chegar ao preso pacotes com roupas, comida e cartas.

Com raras exceções, o presidiário vai ter de sobreviver em celas superlotadas, em condições desumanas.

Ou seja, adicionalmente à pena de perda da liberdade, ele sofrerá castigos extremos aos quais a Justiça não o condenou. Esse é o destino que espera alguns dos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal a penas de prisão fechada, caso se confirme a sentença, com a aceitação ou não dos embargos infringentes.

É justo submetê-los ao inferno carcerário brasileiro convencional ou, por se tratar de políticos, banqueiros e empresários, o grupo não deveria cumprir pena no mesmo ambiente onde estão estupradores, assassinos e assaltantes violentos? Essa é a discussão que, certamente, se seguirá ao ato final da eventual condenação dos mensaleiros pelo STF.

Juízes encarregados de fiscalizar os direitos dos presos dizem que não é aceitável colocar os mensaleiros em prisões comuns. Isso equivaleria a expor a vida deles a riscos de morte e agressão violenta. Há consenso entre especialistas em torno dessa questão de que é preciso evitar esse tipo de situação.

Minimizar esses choques, porém, é bem diferente do que se tentou fazer em Brasília, onde o governo [petista] do Distrito Federal mandou construir quatro celas especialmente para receber os mensaleiros condenados. Seriam celas individuais com televisão, cama, chuveiro elétrico e banheiro privativo — uma ala com grau de conforto inaudito em uma penitenciária brasileira.

ALBERGUE -- A ideia era proporcionar segurança e conforto aos condenados no escândalo do mensalão, como José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha (Fotos: Joel RodrIgUes / Estadão Conteúdo :: André Borges / FolhaPress :: Marlene Bergamo / FolhaPress)

ALBERGUE -- A ideia do governo petista do Distrito Federal era proporcionar segurança e conforto aos condenados no escândalo do mensalão, como José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha (Fotos: Joel Rodrigues / Estadão Conteúdo :: André Borges / FolhaPress :: Marlene Bergamo / FolhaPress)

Era para tudo ser feito na surdina, mas o plano foi descoberto. No ano passado, o governo do DF liberou 3,3 milhões de reais para obras de reforma e ampliação do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), instituição do sistema penal para presos que cumprem penas no regime semiaberto, que trabalham durante o dia e dormem na cadeia.

A obra, segundo o edital, tinha como objetivo ampliar as instalações, criando 600 novas vagas. Como se vê no detalhe da foto no começo deste texto, a ampliação começou — simultaneamente a uma discreta reforma no prédio que fica situado na ponta do complexo.

Ali, no pequeno galpão, trabalhavam até dias atrás pouquíssimos operários. Eles já haviam trocado parte do telhado, reduziam o tamanho das janelas, construíam paredes no interior, revestiam o teto com forro de madeira para diminuir o calor e retocavam a pintura pelo lado de fora.

No pequeno estacionamento à frente do prédio, uma pilha de tijolos e um monte de areia denunciavam a obra. Trabalhadores do local confirmaram que o galpão estava sendo transformado em quatro pequenas salas, com banheiro e instalações completas para receber chuveiro elétrico, televisão e até uma pequena geladeira.

Esses detalhes, porém, deveriam ser omitidos do grande público. Há algumas semanas, o secretário de segurança do DF, Sandro Avelar, foi procurado pelo secretário de Governo, Swedenberger Barbosa, que lhe transmitiu um pedido que recebera do “Diretório Nacional do PT”. Os petistas, segundo ele, queriam saber da possibilidade de promover reformas no CPP de modo a receber alguns dos condenados no processo do mensalão, permitindo que eles cumprissem suas penas com segurança e o mínimo de conforto.

A superlotada penitenciária da Papuda, em Brasília

A superlotada penitenciária da Papuda, em Brasília (Foto: Cristiano Mariz)

Combinou-se então a transformação do pequeno galpão nas salas especiais. Já havia o dinheiro liberado e os operários encarregados do serviço. Não fugiria, em princípio, do escopo da obra: ampliação e reforma do complexo.

“Era um pedido legítimo da direção do partido, preocupada com o futuro dos deputados condenados. Em Brasília, hoje, não existe um lugar seguro para os condenados em regime semiaberto cumprirem suas penas em segurança. Não havia motivos para não atender”, explicou um funcionário do governo de Brasília que acompanhou o processo.

Uma reportagem do jornal Correio Braziliense revelou a existência da parte secreta da obra. Na semana anterior à passada, o Supremo Tribunal Federal concluiu a primeira leva de recursos apresentados pelos condenados do mensalão, os chamados embargos de declaração. Alguns dos réus mais destacados, como o ex-ministro José Dirceu, alimentavam a expectativa de que suas penas pudessem ser reduzidas nessa etapa do julgamento. Ficaram só na esperança, porém.

Se os ministros reduzissem a pena que foi imposta a José Dirceu pelo crime de formação de quadrilha, ocorreria uma mudança drástica no seu futuro: ele poderia trocar o regime fechado pelo semiaberto, e, quem sabe, até cumprir a pena nas salas especiais de Brasília.

O ministro Ricardo Lewandowski, mais uma vez, foi um dos que mais se empenharam para convencer a corte a acolher os argumentos dos mensaleiros. No auge de seu esforço, ele chegou a fazer uma acusação grave contra o próprio tribunal: disse que seus colegas ministros teriam aumentado desproporcionalmente as penas de alguns condenados para forçá-los a cumprir a sentença em regime fechado.

O arroubo foi ignorado pela maioria dos ministros. A admissibilidade dos chamados embargos infringentes, e, em caso de admitidos, o seu acatamento constituem a última tentativa de alguns dos réus de reduzir as penas e escapar da cadeia.

DEU ERRADO -- o juiz Ademar Vasconcelos e o secretário Swedenberger Barbosa: privilégio abortado (Fotos: Sergio Dutti :: José Cruz / ABr)

DEU ERRADO -- o juiz Ademar Vasconcelos e o secretário Swedenberger Barbosa: privilégio abortado (Fotos: Sergio Dutti :: José Cruz / ABr)

Na quarta-feira, dia 4, repórteres de VEJA voltaram ao CPP. Os tijolos e a areia tinham desaparecido, assim como os operários que trabalhavam no local. Obra ali? Sim, de fato há duas em andamento: a ampliação das instalações e a reforma, mas, segundo os funcionários do complexo, a versão agora é que os operários estão simplesmente fazendo uma adaptação para transformar o velho galpão em um novíssimo paiol.

Ninguém nunca ouviu falar em salas especiais para mensaleiros.

O desmentido, porém, não convenceu totalmente a Justiça. “Nada pode ser feito à minha revelia. Querer inovar, querer criar modelos dentro de um sistema estabelecido por lei é inaceitável. O Estado não é para privilegiar deputados”, advertiu o juiz Ademar Silva de Vasconcelos, titular da Vara de Execuções Penais.

O magistrado informou ao secretário de Segurança Pública que desautorizava qualquer mudança na estrutura do presídio sem sua prévia concordância.

Procurado, Sandro Avelar disse que não podia falar “sobre o que eu nem sei se existe”. Ex-assessor de gabinete do ex-ministro José Dirceu, o petista Swedenberger Barbosa também negou a intervenção em favor dos mensaleiros. “Vou processar quem fizer qualquer tipo de ilação”, mandou dizer através de um assessor.

Por enquanto, a obra do CPP continua, mas só a de ampliação. A construção do albergue clandestino está oficialmente suspensa.

(por Ricardo Setti, de Veja.com.br)

 

NO G1.com.br:

Em voo, presos do mensalão foram algemados e

proibidos de conversar

Nove dos condenados foram transferidos para Brasília, no sábado (16).
Justiça deve decidir nesta segunda (18) onde cada um vai cumprir pena.


 

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Os nove condenados no processo do mensalão que tiveram a prisão decretada e foram transferidos para Brasília no sábado (16), viajaram algemados no avião da Polícia Federal e foram proibidos por agentes que os escoltavam de conversar uns com os outros, de acordo com reportagem do Fantástico.

O uso das algemas chegou a ser contestado pelos advogados de defesa. A Polícia Federal alega que se trata de uma regra de segurança.

A aeronave da PF partiu de Brasília no início da tarde de sábado para buscar os condenados que tiveram a ordem de prisão decretada na véspera pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ministro José Dirceu e o deputado licenciado José Genoino (PT-SP) embarcaram no jato em São Paulo. Os outros sete réus, entre eles o operador do mensalão, Marcos Valério, foram apanhados na capital mineira.

Na trecho final da viagem, entre Belo Horizonte e Brasília, os nove presos sentaram-se nas poltronas das janelas. Ao lado de cada um deles estava um agente da Polícia Federal. Antes da decolagem, todos foram algemados.

José Roberto Salgado, ex-dirigente do Banco Rural, ficou na primeira fileira. Atrás dele, pela ordem, estavam Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério; Katia Rabelo, ex-presidente do Banco Rural; José Genoino; José Dirceu; Romeu Queiroz, ex-deputado pelo PTB; Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Marcos Valério; Ramon Rollerbach, ex-sócio de Marcos Valério; o operador do mensalão, Marcos Valério, foi quem ficou mais atrás.

A aeronave da PF que trouxe os detentos pousou em Brasília por volta das 17h45. Os presos deixaram o avião e ingressaram em um microônibus branco com vidros escuros. Somente às 19h o veículo deixou o terminal aeroportuário, escoltado por três carros da PF, em direção ao Complexo Penitenciário da Papuda. Para lá foram levados ainda Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, atual PR; e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Os dois, que também tiveram as prisões decretadas, haviam se entregado à polícia em Brasília.

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, também teve a prisão decretada mas continua foragido. De acordo com a família, ele foi para a Itália. O nome dele está na lista de procurados da Interpol, a polícia internacional.

Primeiro dia na prisão
No Complexo Penitenciário da Papuda estão os nove homens presos. Eles estão na ala federal do Centro de Detenção Provisória, divididos em dois grupos: um de cinco e outro de quatro presos. Cada cela tem 12 m2, um sanitário no chão, um cano de água fria para o banho e quatro camas de concreto.

Durante a madrugada deste domingo, José Genoino passou mal e precisou ser atendido por um médico – durante o vôo para Brasília, ele já havia tido uma crise de pressão alta. Por conta disso, no começo da tarde o advogado de Genoino, Luiz Fernando Pacheco, entrou com um pedido no STF para que o ex-presidente do PT cumpra a pena em regime domiciliar – ele foi condenado a 6 anos e 11 meses em regime semiaberto.

O advogado divulgou ainda uma frase de Genoino em que ele afirma que sua prisão em regime fechado, no Complexo da Papuda, é uma “arbitrariedade”, diz estar “muito doente” e que corre risco de morrer na prisão.

“Estamos presos em regime fechado, sendo que fui condenado ao semiaberto. Isso é uma grande e grave arbitrariedade, mais uma na farsa surreal que é todo esse processo, no qual fui condenado sem qualquer prova, sem um indício sequer”, disse Genoino, segundo seu advogado. “Sou preso político e estou muito doente. Se morrer aqui, o povo livre deste país que ajudamos a construir saberá apontar os meus algozes.”

Além de Genoino, Delúbio Soares também recebeu os advogados. Os parentes dos presos só poderão fazer visitas a partir de terça-feira (19).

Katia Rabelo e Simone Vasconcelos
As duas mulheres estão presas na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Elas foram transferidas da Papuda, que não tem área feminina, na noite de sábado.

Por enquanto, nenhum dos presos começou a cumprir a pena formalmente. O juiz titular da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, Ademar de Vasconcelos, recebeu as cartas de sentença dos presos neste domingo. Só com esses documentos ele pode analisar a situação de cada condenado e determinar onde cada um vai cumprir a pena, o que deve acontecer nesta segunda (18).

Os condenados em regime fechado devem ir para a ala 1 do presídio. Quem for cumprir a pena em regime semiaberto deve ir para o Centro de Internação e Reeducação, também na Papuda. As duas mulheres devem ir para um presídio feminino.

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terra.com.br + VEJA

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