Na FOLHA: Lula radicaliza discurso e preocupa o setor empresarial

Publicado em 15/06/2014 06:37
por VALDO CRUZ, DE BRASÍLIA, na edição da Folha de S. Paulo deste domingo

Aliado do ex-presidente Lula, o empresariado já começa a ficar preocupado com o tom mais radical do discurso do petista nos últimos eventos em defesa da presidente Dilma Rousseff.

Lula tem criticado empresários, atacado a mídia e até defendido medidas econômicas que destoam do receituário adotado em seus dois mandatos na Presidência.

Em recente reunião, empresários fizeram a avaliação de que o ex-presidente pode colocar em risco seu "patrimônio" político ao voltar a entoar o discurso mais radical do "nós contra eles".

A Folha ouviu de dois interlocutores do mundo empresarial que Lula fez um bom governo ao se firmar como político com bom trânsito em todas as camadas da sociedade. Agora, dizem, ele parece optar pelo enfrentamento para tentar estancar a queda de Dilma nas pesquisas.

O risco, afirmam, é o efeito contrário, com o PT voltando a ser um partido com elevada rejeição na classe média e empresarial. A expectativa dos executivos próximos a Lula é que, se Dilma for reeleita, ele retome um discurso mais amigável e menos radical.

Um interlocutor do presidente confirma que ele está "magoado" com empresários agraciados com benefícios nos governos petistas e que, hoje, circulam em almoços e jantares oferecidos aos principais candidatos adversários, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

"Estamos recebendo relatos de que empresários que frequentam o Palácio do Planalto estão cumprimentando o Aécio como 'meu presidente'", critica um interlocutor de Lula, reservadamente.

Do lado dos empresários, gerou preocupação a fala de Lula em evento recente em Porto Alegre, quando criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, defendendo que o governo deveria liberar mais crédito e gastar mais.

Neste momento, está claro que um dos problemas do governo atual, diz um empresário, foi exatamente não segurar os gastos federais, o que pressionou a inflação.

CONSELHEIROS

Em tom de brincadeira, a Folha ouviu que Lula deve estar ouvindo pouco dois de seus antigos conselheiros, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Ambos são defensores de um política fiscal mais austera para segurar a inflação dentro do centro da meta, hoje de 4,5% ao ano.

Auxiliares de Lula dizem que o recado do ex-presidente em Porto Alegre não teve como alvo apenas Arno Augustin, mas principalmente o Banco Central. A avaliação é que o BC teria apertado demais a política monetária e provocado uma escassez de crédito na economia.

Com isso, a retração no ritmo econômico foi muito forte exatamente no ano eleitoral, o que levará o país a ter um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 na casa de 1,5%, abaixo do registrado em 2013, de 2,5%. 

Dilma cancela ida a convenção do PT em SP e irrita campanha de Padilha

Mesmo com dificuldades de avaliação entre o eleitorado paulista, a presidente Dilma Rousseff cancelou a participação que faria neste domingo (15) no lançamento da candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao Palácio dos Bandeirantes.

A decisão surpreendeu e irritou o comando da campanha de Padilha que tem feito ampla divulgação do ato ressaltando a presença de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho do petista. A cúpula da campanha avalia que a medida trará desgaste ao candidato logo na largada.

Um dos motes da campanha de Padilha é justamente reforçar a ligação com o governo Dilma, apresentando os dois como responsáveis por um novo ciclo de mudança.

O Palácio do Planalto informou que a mudança na agenda foi motivada pelo encontro de Dilma com a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, que terá um jantar com a petista em Brasília.

Segundo os assessores, Dilma vai se preparar para o encontro ao longo do dia. Ela deve receber ministros para tratar de medidas que serão tratadas no encontro. Alguns petistas, no entanto, disseram que foram avisados de que a presidente estaria gripada e por isso estaria ausente.

Padilha aparece em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com 3%. Ele está atrás do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que reúne 44%, e Paulo Skaf (PMDB), com 21%, segundo pesquisa Datafolha.

São Paulo, maior colégio eleitoral do país, é o principal objeto de desejo do PT na disputa pelos governos locais na eleição de outubro. O Estado é governado pelos tucanos há quase duas décadas e onde a rejeição a Dilma é maior que em outras regiões do país.

Aécio diz que 'tsunami' varrerá PT do governo

PSDB escolhe senador de MG como candidato à Presidência da República

Em discurso, tucano resgata ações de FHC, enfatizando programas sociais que precederam o Bolsa Família

DE SÃO PAULO

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) assumiu oficialmente o posto de candidato dos tucanos à Presidência da República num discurso com forte tom emocional e duras críticas ao PT e à gestão de Dilma Rousseff.

Aécio disse que a administração petista não tem se mostrado "digna" de atender às necessidades do povo. Segundo ele, não há mais uma "brisa" de mudança no ambiente político, mas uma "ventania"."Um tsunami vai varrer do governo aqueles que não têm se mostrado dignos de atender às demandas da sociedade", concluiu.

A convenção nacional do partido aconteceu na manhã deste sábado (14), em São Paulo. Os principais nomes do PSDB estiveram ao lado de Aécio no evento, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seu antecessor no cargo, José Serra. Aécio foi lançado candidato sem que o nome do vice tenha sido definido. Ele o fará até o fim do mês.

O mineiro acusou o PT de ter enganado os eleitores que elegeram a sigla. "Acreditaram na propaganda de quem dizia defender a ética e elegeram um governo que foi protagonista de um dos mais vergonhosos casos de corrupção da nossa história", afirmou, em referência ao mensalão.

Aécio chegou a dizer que a gestão Dilma é marcada por "desacertos de todos os lados". "Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o Plano Real é quem hoje permite a volta da inflação", atacou, lembrando a posição do PT quando o plano foi lançado.

"Estamos aqui para dizer um basta em definitivo àqueles que se apropriaram do Estado", finalizou.

O presidenciável fez uma longa defesa do governo FHC e respondeu de forma velada às críticas do PT, que há anos acusa o PSDB de ser privatista e não ter sensibilidade social. Aécio disse que "nenhum outro governo, na história recente, deixou um legado de transformações e bases tão sólidas para que o país avançasse como o do PSDB".

"O Plano Real conquistou para o Brasil o mais nobre valor que uma nação pode ter: confiança nela própria." Ele disse ainda que a gestão FHC "estruturou a rede de proteção social" do país e deu "início ao que se transformaria depois no Bolsa Família".

Ao discursar, Fernando Henrique também foi duro. Ele insinuou que Dilma é "arrogante" e defendeu Aécio como o nome que "encarna" o sentimento de mudança.

O senador mesclou as críticas que fez ao PT com um discurso de que sua candidatura representa a retomada da confiança e o reencontro do "país consigo mesmo".

Em uma referência aos protestos que tomaram o país, defendeu a reaproximação entre o povo e a política. "É urgente o esforço para nos reencontrarmos com a nação que sempre fomos. Não podemos deixar que a indignação nos paralise, que o rancor nos consuma."

Os tucanos trataram a candidatura de Aécio como o desfecho da trajetória de Tancredo Neves, avô do mineiro. "Tancredo deu a vida para o Brasil mudar. É dele que descende Aécio", disse FHC.

Serra, que por anos disputou o protagonismo com Aécio, disse que o mineiro irá liderar a oposição e que o partido está "unido". Recebeu, ao fim, um abraço.

Na convenção, 451 delegados votaram. Aécio teve 447 votos --três brancos e um nulo. Ao ser questionado se o voto nulo era dele, Serra, aos risos, respondeu: "Mas eu nem votei". (DANIELA LIMA, GUSTAVO URIBE E PATRÍCIA BRITTO)

 

Aécio foca social e esconde jogo na economia

Objetivo do programa é conter especulações de que o PSDB recorrerá a medidas extremas para conter a inflação

Economistas escalados para auxiliar o candidato tucano ao Planalto têm no DNA a intolerância à inflação

DANIELA LIMAMARIANA CARNEIRODE SÃO PAULO

Candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves fará da primeira versão de seu programa de governo um antídoto às acusações de que irá fragilizar políticas sociais.

Após ser atacado pelo PT ao dizer que não evitaria "medidas impopulares", seu time de auxiliares no campo econômico passou a dar poucos detalhes sobre as mudanças para a área.

Em outra frente, para conter especulações de que recorrerá a medidas extremas no ambiente econômico, Aécio determinou que seu programa tenha "como coluna vertebral a preocupação social".

O PT tem explorado o discurso de que o tucano achatará o salário mínimo e adotará métodos mais duros para conter a inflação.

As duas medidas têm custos sociais --aumento do desemprego e menor crescimento-- no curto prazo e, por isso, têm sido evitadas por Dilma Rousseff. Para diversos economistas, essa opção da presidente tem levado o país ao marasmo econômico.

Todos os economistas escalados para auxiliar o tucano têm no DNA a intolerância à inflação. Arminio Fraga, cotado para o Ministério da Fazenda num eventual governo do PSDB, carrega a marca de ter fixado a maior taxa de juros (45% ao ano, em 1999).

A estratégia, considerada dura à época, produziu resultado um ano depois. A inflação desacelerou de 8,94% para 5,97% entre 1999 e 2000. Mas não ficou imune a críticas na ocasião e agora voltou a ser explorada nas redes sociais por dirigentes do PT.

Samuel Pessôa, outro economista ligado a Aécio, é crítico da atual regra de reajuste do salário mínimo, atrelado ao crescimento econômico de dois anos atrás.

Já defendeu que o reajuste acompanhasse o PIB per capita, que em 2013 cresceu 1,6%. Se adotada, a alteração teria representado perda. Em 2013, descontada a inflação, o mínimo subiu mais: 2,64%.

Segundo o coordenador do programa de Aécio, Antonio Anastasia, o documento explicitará que "não haverá medida contra o povo". Para demonstrar preocupação social, Aécio assinou projeto que favorece beneficiários do Bolsa Família, garantindo repasses por até seis meses após ingresso no mercado formal.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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