Tereza Cristina fala à Xinhua: "Venda de soja à China não afeta a Amazônia"

Publicado em 25/06/2020 19:28 e atualizado em 26/06/2020 09:59
Entrevista à Xinhua: "Agro brasileiro reforça padrões para evitar COVID-19 de olho no mercado chinês", afirma a ministra da Agricultura brasileira

Brasília, 24 jun (Xinhua) -- O agronegócio brasileiro está focado neste momento em conter casos do novo coronavírus entre os trabalhadores do setor, além de adotar medidas estritas para evitar a contaminação, ainda que pouco provável, de produtos. A afirmação é da ministra brasileira da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, em entrevista exclusiva à Xinhua na noite desta quarta-feira.

O país asiático, segundo a ministra, compra hoje 88% da soja brasileira destinada à exportação. "A China é um grande comprador e parceiro. Temos um produto de qualidade, com mais óleo, são mercados complementares. Além disso, tradings chinesas também operam no Brasil para levar os grãos à China", disse a ministra. Ela refutou qualquer rumor de que o apetite chinês por soja corresponda ao desmatamento ou sua ampliação na região amazônica.

"A soja brasileira é produzida especialmente no Centro-Oeste, além de em estados da região Sul, e há espaço para que cresça sem desmatar nada", garantiu Tereza Cristina, lembrando que o maior estado produtor no Brasil, o Mato Grosso, tem parte do território classificado como Amazônia Legal, embora não seja do bioma amazônico.

PORTARIA QUER ELIMINAR RISCOS COM PANDEMIA

Para evitar quaisquer casos ou riscos, o ministério, junto às pastas da Economia e da Saúde, publicou, por meio da Portaria Conjunta Número 19, de 18 de junho, uma série de medidas de segurança que indicam padrões para transporte, manuseio e outros quesitos na produção e escoamento do agronegócio brasileiro. A partir de agora, todos os participantes da cadeia produtiva são obrigados a adotarem tais padrões, sob fiscalização do governo.

A portaria coincide com esforços cada vez mais estritos da China para evitar uma segunda onda de contaminações pelo novo coronavírus. Em Beijing, desde 11 de junho foram confirmados casos justamente detectados no mercado distribuidor de produtos agropecuários de Xinfadi, responsável pelo abastecimento de 80% da capital chinesa. A fonte primária do novo coronavírus no local ainda é pesquisada. Produtores no Brasil temiam que controles mais estritos poderiam significar restrições às vendas brasileiras ao país asiático.

"Desde o início da pandemia, adotamos um Comitê de Gestão e Acompanhamento para prevenir casos nas cadeias do agronegócio brasileiro, a fim de que houvesse maior segurança para os trabalhadores. Os protocolos de segurança são de profissionais da saúde, cumprindo o que a ciência preconiza, realizado em conjunto com entes privados e infetectologistas de hospitais como o Sírio-Libanês e o Einstein, em São Paulo", afirmou a ministra.

Ela reforça que não houve qualquer disrupção no agronegócio no Brasil, ainda que tenha havido interrupções pontuais, especialmente em frigoríficos. Para a ministra, o fato de a produção estar em um ambiente rural, com menos densidade populacional pode ser um fator determinante.

Segundo a ministra, hoje há 102 plantas brasileiras habilitadas a vender proteínas para a China - carnes bovina, suína e de frango, e a ideia é consquistar tal confiança pelas autoridades sanitárias chinesas que estas aceitem plantas indicadas pelo ministério no Brasil.

Segundo Teresa Cristina, este é o padrão utilizado em relação à produção norte-americana e quem acaba por escolher os fornecedores são os próprios agentes de mercado.

AMPLIAR A CESTA DE EXPORTAÇÃO AGRÍCOLA PARA CHINA

A ministra relembrou um fato inusitado na última visita presidencial brasileira à China, quando aos brasileiros foi oferecido um café. A ideia foi também estimular o grupo a trabalhar mais a promoção do grão no mercado chinês. Segundo Tereza Cristina, é um desejo do ministério ampliar a cesta de produtos agrícolas brasileiros exportados à China. Ela destaca a recente inclusão do melão como um dos produtos neste processo. Frutas estão entre as prioridades brasileiras para venda à China. A próxima, segunda a ministra, será a uva.

O governo quer começar a trabalhar também no envio de castanhas à China, e a ministra destaca ainda setores como o vinícola. "Nossas espumantes são de excelente qualidade", diz Tereza Cristina, ao afirmar que o Brasil tem produtos agropecuários "de qualidade e em grande volume". O etanol está também entre as prioridades em relação à China: "No Brasil, a gasolina tem adição de 27,5% de etanol por litro, o que garante uma energia mais limpa", diz a ministra.

Quando se refere aos pequenos e médios produtores, a ministra afirma que trabalha junto ao governo chinês para que sejam diminuídas as barreiras não tarifárias aos produtos - incluindo burocracias que permitem a habilitação de novos produtores para a venda - e destaca que nas proteínas 20% dos vendedores à China são pequenos e médios produtores.

RECORDAÇÕES DA CHINA

Tereza Cristina já esteve duas vezes na China como ministra, posto que assumiu em 2019. Mas antes disso já havia conhecido o país, há 14 anos. Segundo ela, a rapidez do desenvolvimento é algo que a impressiona, além de os benefícios para os cidadãos chineses. "Sou fã da China", revelou a ministra, que disse que também sente um povo gentil quando viaja ao país.

Além de Beijing, a ministra conhece outras cidades, como Shanghai, e localidades no interior. Segundo ela, a intenção é voltar quando a pandemia passar. "A gastronomia também me encanta", revela.

Governo do Brasil determina medidas de prevenção e controle da Covid-19 em frigoríficos e indústrias de laticínios

Os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Economia (ME) e da Saúde (MS) definiram em portaria conjunta as medidas destinadas à prevenção, controle e mitigação dos riscos de transmissão da Covid-19 nas atividades desenvolvidas na indústria de abate e processamento de carnes e derivados destinados ao consumo humano e laticínios. O objetivo da norma, que foi elaborada após conversas com o Ministério Público do Trabalho, é garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores, o abastecimento alimentar da população, os empregos e a atividade econômica.

As orientações contidas na Portaria Conjunta Nº 19, publicada nesta sexta-feira (19) no Diário Oficial da União, são de observância obrigatória. A fiscalização ficará a cargo do Ministério da Economia. No mês passado, o governo já havia divulgado um manual com recomendações para frigoríficos em razão da pandemia, que será substituído pelas medidas previstas na portaria. 

“Essa portaria vai harmonizar mais as ações para que os frigoríficos possam, neste momento de pandemia, trabalhar com a segurança de seus funcionários e também para que possam continuar a produção, trabalhando de maneira normal e trazendo os alimentos para abastecer o Brasil e o mundo”, disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Entre as orientações trazidas pela portaria está a necessidade de acompanhamento de sinais e sintomas de Covid-19 e afastamento imediato por 14 dias dos funcionários que tiverem casos confirmados, suspeitos ou contactantes de confirmados de Covid-19. Os afastados do trabalho só poderão voltar às suas atividades antes de 14 dias de afastamento mediante exame laboratorial descartando o Covid e se estiverem sem sintomas por mais de 72 horas.

No interior das indústrias, o distanciamento entre os funcionários deverá ser de pelo menos 1 metro, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde. Se essa distância não puder ser implementada, os trabalhadores devem usar máscaras cirúrgicas além dos equipamentos de proteção individual (EPI), e serem instaladas divisórias impermeáveis entre esses funcionários ou fornecidas viseiras plásticas ou óculos de proteção, além de medidas administrativas como escalas de trabalho diferenciadas.

A organização deve promover o trabalho remoto quando possível e adotar medidas para evitar a aglomeração de trabalhadores na entrada e saída do estabelecimento.

As instalações devem dar preferência à ventilação natural e, se o ambiente for climatizado, deve ser evitada a recirculação do ar, com reforço na limpeza e desinfecção dos locais de trabalho.

Todos os trabalhadores devem ser orientados para a necessidade de higienização correta e frequente das mãos, evitando filas com distanciamento inferior a 1 metro, além de aglomerações. Também deverão ser reforçados os cuidados nos refeitórios, nos vestiários e no transporte dos trabalhadores, quando fornecido pelas organizações.

Quando houver a paralisação das atividades em decorrência da Covid-19, devem ser feitas a higienização e desinfecção do local de trabalho, áreas comuns e veículos utilizados antes do retorno das atividades. Também deve haver triagem dos trabalhadores por médico do trabalho, garantindo afastamento dos casos confirmados, suspeitos e contactantes com os confirmados de Covid-19.

Não deverá ser exigida a testagem laboratorial de todos os trabalhadores como condicionante para retomada das atividades. Quando for adotada a testagem de trabalhadores, ela deve ser realizada de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde em relação à indicação, metodologia e interpretação dos resultados.

As empresas devem continuar cumprindo todas as normas de segurança do trabalho já previstas e outras medidas de saúde, higiene e segurança previstas em acordo coletivo. As medidas previstas na portaria poderão ser revistas ou atualizadas a qualquer momento, em razão dos avanços no conhecimento e controle da pandemia.

Apenas nos frigoríficos existem atualmente 3.299 estabelecimentos processadores de carnes e derivados registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), dos quais, 445 comercializam proteína animal. Nas linhas de inspeção dos frigoríficos trabalham 1.948 pessoas. 

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Fonte:
Xinhua (estatal chinesa)/MAPA

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