China quer produtos do agro do Brasil de maior valor, além de grãos, diz embaixador

Publicado em 08/04/2021 14:25

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - O governo chinês está ciente das preocupações brasileiras para elevar o valor agregado de suas exportações para a China, enquanto o país asiático "está pronto" a trabalhar para que este objetivo seja alcançado, disse o embaixador da China no Brasil Yang Wanming, nesta quinta-feira.

"Não se trata apenas de uma lição de casa brasileira, mas uma das prioridades para a nossa cooperação, para colocar a parceria em outro patamar", disse o embaixador, durante evento online promovido pela revista Exame.

O Brasil, que tem na China o maior mercado para exportações de produtos agrícolas, principalmente soja, açúcar e carnes, poderia aumentar embarques de itens de maior valor agregado e processados, incluindo mais proteínas animais, frutas e café, acrescentou a autoridade.

Ele disse ainda que o país asiático está expandindo suas importações de matérias-primas para ração animal, como o milho, e que o Brasil praticamente não vende o cereal aos chineses, ao sinalizar como o comércio poderia crescer ainda mais --em 2020, apesar da pandemia, exportações agrícolas brasileiras subiram quase 10%, para 34 bilhões de dólares, disse Wanming.

O Brasil, maior produtor e exportador global de soja, quer exportar, além do grão, o farelo de soja --mas o embaixador do maior importador mundial da oleaginosa não citou este produto processado explicitamente.

Disse apenas que as empresas chinesas "estão otimistas com o futuro do investimento na área agrícola do Brasil", para se aproveitar da competitividade do agronegócio brasileiro.

"O custo da mão de obra está cada dia mais elevado, e os empresários têm cada vez mais desejo de importar produtos de valor agregado ou processado, e não somente matérias-primas, e também têm interesse ainda maior para fazer investimentos no mercado exterior", completou.

Segundo ele, à medida que o PIB per capita da China cresce, o Brasil deveria "aproveitar essas oportunidades para atrair mais investimentos de chineses no setor de processamento de produtos agrícolas, para elevar o valor agregado dos produtos exportados à China".

Ele lembrou que a gigante agrícola do país, a Cofco, já investiu quase 5 bilhões de dólares no Brasil, em projetos como terminais portuários, silos e processadoras de soja, sendo atualmente a quarta maior exportadora de grãos brasileiros.

Ele comentou que, com sofisticação da dieta chinesa em momento em que a renda cresce, há potencial para o aumento do consumo per capita de carne bovina pelos asiáticos, ainda relativamente baixo para esta proteína.

"Mesmo assim já somos os maiores importadores mundiais de carne bovina. À medida que a dieta se sofistica, o consumo de carne bovina dobrará nos próximos anos. Como fornecedor estável, o Brasil também verá suas vendas crescerem de forma constante."

O Brasil, além de principal exportador global de carne bovina, é líder em frango.

Ele comentou que a China comprou 11,3 milhões de toneladas de milho no ano passado, mais do que dobro ante 2019, e quase nada do Brasil.

"Estima-se nos próximos anos que as importações de milho vão superar a marca de 30 milhões de toneladas", comentou, sinalizando que os brasileiros poderiam avançar neste mercado.

Ele disse que outro segmento com grande potencial é o de frutas, e que o país asiático está disposto a expandir a lista para abacate, limão, após abrir compras de melão brasileiro.

Com consumo relativamente baixo de café, o embaixador também vê o Brasil ganhando este mercado na China.

"O café está conquistando a cada dia os jovens chineses, de maneira que o consumo cresce quase 20% ao ano, muito acima da média mundial de 2% ao ano... Ao Brasil, maior produtor e exportador, basta se valer da estratégia de marketing adequada, e o café brasileiro certamente ocupará uma fatia maior na China."

Tal como nas frutas e no milho, a participação do café brasileiro no total importado pelos chineses é pequena perto da capacidade de exportação do Brasil desses produtos.

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Fonte:
Reuters

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2 comentários

  • Claudio Murador

    A empresa chinesa COFCO investiu 5 milhões de dolares no Brasil, em rede portuárias, empresas de exportação, terras e, com certeza, vai investir mais..., será que é para o bem do povo brasileirol? com certeza será para as empresas chinesas que enviam nossos produtos para aquele Pais, em atendimento o bem do povo chines que aumenta anualmente sua qualidade de vida e de consumo.

    Vão incrementar as importações do Brasil acrescentando varios produtos, alem de carne, soja, etc, ... serão outros produtos, ficando para nós mais aumento de preços em nosso consumo diário, no café, frutas, milho, etc.

    Portanto, cada vez mais a terra brasileira vai ficando nas mãos de poucos, sem explicação... a concentração é

    muito grande, e poucos se beneficiam dessa riquezas.

    O nosso País corre o risco de ver acontecer a perda do poder aquisitivo da classe trabalhadora, e as consequencias podem atingir também aqueles que necessitam do consumo desta classe, .

    Os brasileiros estão engolindo e vão pagar pelas exportações como pelas importações do País asiático

    Observamos a concorrencia sofrida no comércio brasileiro com a quantidade de importações de produtos vindo da China...

    Tem aqui um comentário intitulado "ou o Brasil alimenta a China ou a China engole o Brasil", e nele observamos a falta de projeção, de planejamento a longo prazo, de nosso governo, sobre a arrecadação de tributos que vai para o orçamento fiscal que sai do bolso do consumidor brasileiro, que sustenta a nação, ... a economia brasileira, e seu crescimento, não podem ser baseadas somente nas exportações de produtos primários , e sim na capacidade do consumo interno do povo brasileiro, que vem com a geração de empregos em nossa atividade interna de produção, comercio e serviços.

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  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Bonzinho esse embaixador ! Não terão como sustentar a intensa necessidade de navios graneleiros..., só para soja estão com 200 exclusivos . Se forem precisar de importar milho , provocarão um aumento violento nos fretes e talvez não encontrarão tamanha frota.

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