Falta de diesel já é realidade na Argentina e governo deve elevar porcentagem de biodiesel para 12,5%

Publicado em 15/06/2022 11:37 e atualizado em 15/06/2022 14:33
Filas de caminhões se formam pelos postos do país em esperas de até 12 horas com escassez que já dura meses e altos preços; veja vídeo e imagens

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A falta de diesel, temida de importadores a caminhoneiros no Brasil, já é uma realidade na Argentina. Para driblar a escassez e os altos preços, o governo do país deve aumentar a mistura do biodiesel no diesel por 60 dias, saindo dos atuais 5% para 12,5%, segundo fontes do setor. As informações são do jornal La Nacion.

A medida deve ser oficializada nos próximos dias. No ano passado, em uma medida controversa, a Argentina reduziu a mistura do biodiesel de 10% para 5%, mas agora vai precisar voltar atrás. Com isso, a oferta do produto gerou uma lacuna de 880 mil metros cúbicos. Além disso, há o impacto da guerra sobre o mercado de petróleo.

"A medida leva em consideração a disponibilidade de capacidade de produção de biodiesel para aumentar a oferta de óleo diesel com um produto 100% nacional, podendo elevar o volume acima dos atuais 5%", disse a Câmara Argentina de Biocombustíveis (Carbio), sem mencionar o percentual que seria elevada a mistura.

A medida, que deve mexer com diversos setores da economia argentina, inclusive o agronegócio, já que o país é um dos maiores produtores de soja da América do Sul, foi discutida nos últimos dias com o governo e diversas entidades. Várias províncias no país enfrentam problemas no abastecimento de diesel há cerca de dois meses.

A Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac) levantou que, entre os dias 25 de maio a 5 de junho, 19 províncias em todo o país tinham algum problema de abastecimento, de um total de 23 mais a cidade autônoma de Buenos Aires. Desse número, 14 tinham muito pouca ou nenhuma oferta nos postos.

Ainda de acordo com a Fadeeac, mais de 1/4 dos caminhoneiros no país estão ficando mais de 12 horas nos postos para conseguir abastecer e 36% espera entre 6 a 12 horas para ter o tanque cheio do combustível.

No período de três anos, o preço do diesel na Argentina saiu de 23,05 de peso argentino o litro (R$ 0,96/l) para 113,40 (R$ 4,73/l), ou seja, um avanço de quase 400% no período. Os dados são dos fornecedores de combustíveis da Argentina.

Veja a variação no preço dos combustíveis na Argentina nos últimos anos:

"O histórico de utilização de corte nacional de 10%, bem como as experiências de outros países com cortes de até 20%, e o uso de biodiesel puro nas frotas argentinas de transporte público de passageiros e carga, mostram a capacidade técnica de biodiesel para substituir o diesel no transporte, além de sua contribuição para a melhoria da saúde pública e do meio ambiente", disse a Câmara Argentina de Biocombustíveis (Carbio).

De acordo com Claudio Molina, diretor-executivo da Associação Argentina de Biocombustíveis e Hidrogênio, a indústria de biodiesel da Argentina pode fornecer esse volume maior demandado neste momento, já que utiliza apenas 40% de sua capacidade de produção, que é de 4,4 milhões de metros cúbicos por ano.

A Argentina como um todo consome 14 milhões de metros cúbicos por ano de biodiesel, considerando todas as atividades. A produção local é de 11.500.000 metros cúbicos por ano. Por sua vez, a demanda por biodiesel é de 520 mil metros cúbicos. Nesse contexto, seguindo os números, segundo Molina, a necessidade de importação é de 1.980.000.

TRANSPORTE DA SAFRA

A decisão do governo argentino de elevar a mistura de biodiesel no diesel deve movimentar o agronegócio no país, já que precisará destinar maior volume de soja para a produção do biocombustível.

De outro lado, a falta de diesel, que já é realidade no país, poderia impactar o escoamento da safra. Alguns produtores de frutas, inclusive, temem perder a colheita com a escassez. Como consequência dos altos preços dos combustíveis, o custo do frete disparou no país sul-americano.

No caso das frutas, produtores de limão já têm descartado a produção devido aos problemas de logística ou deixado os frutos no pé até cair.

"Aqui há uma fábrica que nos paga 5 pesos o quilo da fruta. Nós temos um custo de 4 pesos com colheita e frente, ou seja, sobra 1 peso por quilo. Mas quando queremos enviar para outras fábricas em Monte Caseros, Chajarí ou Concordia, esse custo sobe para 6 pesos, então não é conveniente porque perdemos dinheiro", disse ao La Nacion o secretário da Associação de Citricultores de Bella Vista, Oscar Barbera.

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Na cidade de Bella Vista, com cerca de 4.500 hectares de plantações, produtores começaram a colher e descartam as frutas
- Foto: Reprodução/La Nacion

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TEMORES DE ESCASSEZ NO BRASIL

Uma escassez de diesel como ocorre na Argentina está distante no Brasil, conforme fontes ouvidas pelo Notícias Agrícolas. Ainda assim, o temor é levantado por entidades, de importadores a caminhoneiros, e um aumento da mistura do biodiesel no diesel também já está na pauta por aqui - atualmente está em 10% - podendo passar para 12% agora e 14% ao longo de 2022.

"A ampliação para 12% pode representar uma redução da necessidade de importação de diesel no curto prazo ou de aumento da cobertura do abastecimento de diesel pelo suprimento local, que hoje é de 38 dias para o diesel S10, conforme anunciado pelo próprio governo e pode variar em função da cadência de recebimento do diesel importado", afirma Francisco Turra, presidente do Conselho de Administração da APROBIO.

Ao Notícias Agrícolas, a Abiove disse que "um possível aumento de B10 para B14 reduziria a necessidade de diesel mineral importado no mercado em aproximadamente 1,3 milhão de m³ no segundo semestre de 2022", diminuindo os temores de desabastecimento.

"Isto representa 13,5% de redução das importações previstas de diesel mineral para o período, enquanto se o aumento fosse para B12, haveria uma redução de 6,7% das importações (0,66 milhão de m³)", disse, apesar de o Brasil estar na entressafra de soja.

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Por:
Jhonatas Simião
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Cácio Ribeiro de Paula Bela Vista de Goiás - GO

    Fosse eu governante já teria emplacado 15% de mistura!!

    Estamos em contagem regressiva para o início do plantio aqui no BR...

    Decisões precisam acontecer em tempo hábil!!

    Não tem jeito.., " se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!"

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