Café: Safra brasileira é suficiente para honrar exportação e consumo, diz CNC

Publicado em 25/09/2020 14:27 e atualizado em 27/09/2020 15:00


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou, na terça-feira, 22 de setembro, seu novo levantamento para a safra 2020 de café no Brasil, que foi estimada em 61,6 milhões de sacas de 60 kg.

O volume apurado pela estatal reforça o posicionamento que o Conselho Nacional do Café (CNC) adotou ao longo de todo esse ciclo cafeeiro, de que não haveria uma supersafra no Brasil e que o total produzido seria suficiente para honrar os compromissos com as exportações, que devem ficar ao redor das 40 milhões de sacas, e com um consumo interno na casa de 21 milhões de sacas.

De acordo com o presidente do CNC, Silas Brasileiro, notícias de que o Brasil colheu uma supersafra de café e que não tem onde armazená-la constituem uma verdadeira especulação mercadológica.

"Sempre observamos esta movimentação que visa, principalmente, a depreciar o produto nas negociações. Mas esses atores esquecem que tirar competitividade e, consequentemente, a renda dos produtores gerará um impacto em médio e longo prazo no equilíbrio, hoje existente, entre oferta e demanda", analisa.

BRASIL TEM CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO

A safra brasileira de café deste ano foi positiva no que diz respeito a volume - é a segunda maior colheita da história – e, em especial, qualidade. As questões climáticas na época da colheita, com quatro meses praticamente sem incidência de chuvas, favoreceram o andamento dos trabalhos.

Além disso, diante do cenário de pandemia da Covid-19, o CNC, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), lançou a cartilha “Orientações sobre prevenção ao coronavírus durante a colheita do café”, que contribuiu para o bom desenvolvimento da cata.

“A combinação de clima seco com as instruções que transmitimos permitiram um andamento célere da colheita, culminando em maior entrada de café nos armazéns de nossas cooperativas em um período mais estreito. Isso não foi problema, pois as coops cafeeiras que compõem o CNC vêm se estruturando e aumentando suas capacidades”, explica Brasileiro.

COMERCIALIZAÇÃO

Outro ponto levantado por ele, que justifica o maior volume de café estocado nas cooperativas, reflete o profissionalismo e a capacitação dos produtores na negociação. “A maior parte desse café nos armazéns não implica excesso de oferta, uma vez que, dependendo da cooperativa e de sua localidade, entre 60% e 70% desse produto estocado já se encontra comercializado, percentual acima de uma média, para esse período, que se situa pouco acima de 40%”, revela.

O presidente do CNC destaca que os produtores estão cada vez mais capacitados e contam com a expertise dos departamentos técnicos das cooperativas para realizarem bons negócios, travando suas vendas de maneira antecipada. “O resultado é que os cafeicultores cooperados entregam, hoje, seu café acima de R$ 600 por saca, preço superior ao negociado no mercado físico atualmente", compara.

As diversas formas de comercialização que as cooperativas do CNC oferecem, como barter, que envolve a troca do café por insumos e maquinários, por exemplo, também contribuem para o cenário de bons volumes estocados. “Por isso grande parte dos cafés armazenados já está vendida, com nossas cooperativas os preparando para entregá-los aos compradores”, explica.

Brasileiro anota, ainda, que a demanda pelo produto brasileiro permaneceu aquecida, mesmo com o cenário da pandemia da Covid-19. “O Brasil cumpriu seu papel de produzir com qualidade em quantidade para suprir a demanda dos nossos clientes internos e internacionais. Dizer que há uma supersafra e que existe café sobrando, sem espaço para armazenamento, não condiz com a realidade do país, que possui a cafeicultura mais estruturada e profissional do mundo”, conclui.

ATUALIZAÇÃO DO FUNCAFÉ

Até hoje (25), 30 instituições financeiras assinaram contratos para o recebimento de recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), totalizando R$ 5,108 bilhões, valor que corresponde a 89,45% do total de R$ 5,710 bilhões disponíveis. Ainda restam dois agentes – Santander Brasil (tomou parcialmente os recursos) e Citibank – que se credenciaram a rubricar os contratos, envolvendo um montante de R$ 602,5 milhões.

Já a liberação dos recursos aos agentes até o momento se encontra em R$ 2,061 bilhões, com data de referência de 4 de setembro. Do volume repassado, R$ 861,4 milhões foram destinados à Comercialização, o que corresponde a 37,5% do disponibilizado para esta linha; R$ 566,4 milhões para Custeio (35,4%); R$ 362,1 milhões ao Financiamento para Aquisição de Café - FAC (31,5%); e R$ 270,6 milhões para Capital de Giro (41,6%).

Café do Brasil ganhará mercado com volumosa safra de boa qualidade, diz BSCA

LOGO REUTERS

SÃO PAULO (Reuters) - Após sofrer inicialmente impacto da pandemia, a demanda global por cafés especiais está sendo retomada com força, o que permitirá ao Brazil escoar uma safra com maior volume de grãos diferenciados e até mesmo ganhar mercado na categoria premium no exterior, avaliou uma representante do setor brasileiro.

Em entrevista à Reuters, a diretora-executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vanúsia Nogueira, estimou que as vendas desses grãos diferenciados brasileiros podem aumentar 5% em 2020, graças a uma colheita abundante e de "excelente" qualidade, em um ano em que concorrentes "não estão conseguindo entregar" por conta de impactos da pandemia.

Para ela, o Brasil conseguiu concluir os trabalhos do campo em 2020 sem grandes sobressaltos, com organização do setor e ajuda de processos mecanizados na colheita existentes hoje na maior parte dos cafezais brasileiros, o que reduz a necessidade de trabalhadores no país que é o terceiro no ranking com mais casos de Covid-19.

A Colômbia, terceira produtora global e a principal em café arábica lavado, está amargando queda de 10% nas exportações no acumulado do ano, com a federação de cafeicultores citando restrições à mobilidade para controlar a pandemia. Já a Costa Rica alertou que o fechamento das fronteiras para conter o vírus reduz a mão de obra para a colheita.

"Achamos que vamos aumentar a nossa participação em cafés especiais e sustentáveis. Com certeza vamos aumentar, a safra está muito boa e tem concorrentes nossos que não conseguiram entregar, o que é interessante para nós", disse Vanúsia, gestora do projeto "Brazil. The Coffee Nation", uma parceria da BSCA com a agência de promoção de exportações Apex para elevar vendas de cafés especiais do país.

De outro lado, o Brasil, maior produtor e também o maior fornecedor de cafés certificados, segundo a BSCA, "passou até com certa tranquilidade" pela colheita em plena pandemia.

Segundo a executiva, que trabalha no setor há 19 anos, isso ocorreu também em função do profissionalismo exigido na certificação dos produtos, o que fez com que o país conseguisse incorporar as orientações preventivas à Covid-19 na colheita.

O Brasil responde por quase 30% das mais de 60 milhões de sacas certificadas no mundo por organismos como RainForest Alliance, UTZ, 4C e Fair Trade, disse a associação. Além disso, cerca de 10 milhões de sacas, ou aproximadamente 15% produção brasileira, é formada por cafés especiais, segundo a BSCA.

"Tivemos pouquíssimos casos de Covid durante a colheita e estamos concluindo esse processo agora, e foi uma safra muito boa em termos de quantidade e qualidade, e sem sofrimento", afirmou ela, cuja família produz café em Três Pontas (MG).

Além das floradas terem sido uniformes para a formação da safra 2020, o período de colheita foi bastante seco, o que reduz problemas de qualidade e evita interrupções. A cautela com a pandemia acabou ajudando, pois produtores aguardaram mais o amadurecimento dos frutos, para otimizar os trabalhos e minimizar riscos, obtendo assim um maior volume de café cereja.

Dessa forma, ela espera que os cafés brasileiros tenham bom desempenho na fase internacional do concurso Cup Of Excellence, que premia os melhores cafés do mundo.

DEMANDA

Vanúsia comentou que a pandemia afetou o mercado de cafés especiais de várias formas, primeiro com uma grande demanda e consumidores europeus esvaziando as prateleiras, em um movimento de "pânico". Depois, os compradores --clientes de especiais têm contratos de longo prazo-- pisaram no freio, dizendo, "vamos querer, mas mais tarde".

"Achamos que teríamos um 'delay' de 60 dias, mas aos poucos, à medida que há a reabertura, o pessoal começou a pedir de novo, e tivemos até falta de embalagem, o que é bom, quando começa a faltar embalagem mostra que estamos tendo uma retomada em velocidade muito maior do que se esperava", revelou.

Um exemplo de aumento de demanda é a Coreia do Sul, "que está pedindo mais café do que no ano passado", disse Vanúsia, que citou ainda projeção recente da Organização Internacional do Café de que o mercado em geral vai crescer.

As exportações de cafés diferenciados do Brasil, com qualidade superior ou algum tipo de certificado, ainda estão em queda de 12% de janeiro a agosto, para 4,4 milhões de sacas, conforme dados do conselho de exportadores Cecafé, após uma safra em 2019 com problemas de qualidade, uma tendência que Vanúsia espera ser revertida ainda este ano.

"Esperamos aumento, apesar de tudo."


 

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Fonte:
CNC/Reuters

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