J Ganes vê safra de café do Brasil ainda menor e alerta para 2022
A safra de café do Brasil que está sendo colhida parece ser ainda menor do que avaliações apontaram no início do ano, com o impacto de uma severa seca nos cafezais, e há preocupações com a próxima temporada, devido a problemas no desenvolvimento das lavouras, disse a especialista em soft commodities Judith Ganes.
Após passar os últimos dias por lavouras nas principais regiões produtoras de arábica, como Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Mogiana, Ganes está se deslocando para o Espírito Santo, maior produtor de grãos conilon.
Essa é a terceira viagem de Ganes ao Brasil para verificar a safra atual, que ela considerou ter sido "devastada" pela seca e as altas temperaturas. Antes esteve no maior produtor e exportador do mundo em dezembro e fevereiro.
Ela afirmou acreditar que a safra do país ficará entre 5% a 10% menor do que considerou em fevereiro, ressaltando que anteriormente acreditava que frutos poderiam se desenvolver e ficar um pouco maiores.
"Isso me faz crer que a safra será menor do que eu pensava em fevereiro", declarou a norte-americana por telefone, ressaltando que produtores têm reportado a necessidade de um número maior de grãos para formar uma saca de café.
Após passar por cidades mineiras como Varginha, Três Pontas, Alfenas, Patrocínio e Monte Carmelo, ela disse ter dúvidas se a produção de arábica brasileira poderia alcançar 30 milhões de saca de 60 kg, o que, se fosse o caso, ainda representaria uma queda de 20 milhões de sacas na comparação com a temporada passada, que foi "enorme".
Com a colheita da safra brasileira avançando para cerca de metade da produção estimada, a especialista ressaltou que o movimento nos armazéns de Minas Gerais e São Paulo parece fraco.
"Tem café chegando, mas é lento, muito lento", afirmou.
2022
A mesma seca prolongada que afetou a temporada 2021 deverá carregar adversidades para 2022, uma vez que os pés de café têm apresentado problemas no desenvolvimento e muitos parecem escolher soltar folhas em vez de frutos, "tentando sobreviver".
"É muito prematuro, é algo para acompanhar... elas podem escolher, em vez de florar, soltar folhas... é um sinal que as árvores estão em modo sobrevivência, e não vão produzir frutos, estão escolhendo sobreviver", disse ela, sobre informações obtidas nas lavouras.
"Ainda é muito cedo, mas com espaço reduzido de internodes, e pés em estresse é muito difícil de a lavoura se recuperar..."
Segundo a especialista, a colheita de 2022 vai ser maior que a deste ano, período de baixa no ciclo bienal do arábica, "mas não vai ser uma grande safra".
"Algumas pessoas afirmam que a safra 2022 vai ser maior do que 2020 (último ano do ciclo de alta), absolutamente não", destacou.
Sobre as geadas da última semana, a especialista disse ter visto algumas áreas queimadas pelo frio, mas mais em baixadas, onde o fenômeno costuma ser mais intenso.
Ela não espera danos significativos advindos das geadas, algo em torno de até 300 mil sacas.
Para Armando Mattiello, presidente da Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal) que acompanha a especialista na expedição técnica, as regiões mais atingidas pelas geadas foram na Alta Mogiana, conforme reportaram produtores à Reuters.
"Geou um pouco no sul de Minas, pegou lavouras novas, algo não tão significativo, mas pegou, vemos que 1% a 2% da safra do ano que vem deve quebrar (pela geada)", disse Mattiello, observando que o frio intenso em uma lavoura comprometida pela seca indica problemas adicionais.
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