Com a indústria pagando mais no mercado interno, Brasil deve ter queda nas exportações do conilon
O Brasil pode observar uma nova baixa nos embarques de café conilon nos próximos meses, segundo o analista de mercado Fernando Maximiliano, da StoneX Brasil, o diferencial do preço do café conilon no mercado interno voltou ao patamar positivo, fazendo com que seja mais vantajoso para indústria fazer as negociações no mercado interno.
Em contrapartida, o país deve observar uma redução nos embarques, já que o Vietnã - maior produtor de café tipo conilon do mundo também vem mostrando certa recuperação e com isso o Brasil acaba perdendo competitividade no mercado externo.
Segundo o levantamento da Stonex, o diferencial voltou a ficar positivo em meados de janeiro. "Não teve uma movimentação muito expressiva no mercado interno, o mercado na Bolsa de Londres caiu, mas mesmo com essa queda o mercado interno foi firme para manter os preços nos pamatares que estamos vendo", destaca.
O indicador Cepea finalizou a semana com alta de 0,61% e com o conilon sendo negociado por R$ 822,73. Outro fator importante para manter o conilon com mercado firme é o fato da indústria estar optando pelo conilon na composição de blend, principalmente pela oferta mais restrita do café arábica, que vem mantendo esse tipo de café na casa dos R$ 1.500,00/saca.
O analista acrescenta que os dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) já mostraram um recuo no embarque do café conilon. No período entre junho e dezembro de 2021, o país embarcou 1.7 milhão de sacas, o que representa uma queda de 39% já que no ano anterior esse número era de 2.7 milhões de sacas.
"Isso já foi reflexo desse diferencial. Não faz sentido vender para o exterior com a indústria pagando melhor no mercado interno. A expectativa continua sendo de queda para o mês de janeiro, mas precisamos lembrar que esse reflexo não é imediato. Vamos observar um impacto maior nas exportações de fevereiro ou março", acrescenta. Os dados do Cecafé referente aos embarques de janeiro serão divulgados nos próximos dias. Porém, Maximiliano destaca os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que já mostraram queda de 19,8% em relação a janeiro de 2021.
O especialista destaca ainda os problemas logísticos que devem perdurar durante os próximos meses. O Cecafé divulgou recentemente, através do CoffeCast, que ainda não há expectativa de melhora no curto prazo para os problemas logísticos que atingem o setor exportador a nível mundial. No ano passado o Brasil deixou de embarcar aproximadamente 3 milhões.
A recuperação dos embarques do Vietnã vem impactando diretamente os preços na Bolsa de Londres, que inclusive recuou nos últimos dias. O país asiático foi um dos primeiros a sentir os impactos do caos logístico. Em dezembro de 2021 o avanço nos embarques foi de 57% e janeiro a alta foi de 9%. Sem o café do Brasil, o Vietnã deve continuar sendo responsável pela maior parte do abastecimento de café tipo conilon no exterior. "Para o produtor isso é muito bom. Perde competitividade lá fora, mas sem a indústria interessada no café aqui dentro teria que vender para o mercado externo por um preço mais baixo", finaliza.
Veja a variação do preço do café tipo conilon na Bolsa de Londres no último mês
