Entrevista: Pecuária brasileira precisa de gestão e marketing, afirma Fabiano Tito Rosa, gerente de mercado da Minerva Foods

Publicado em 02/12/2013 14:54 e atualizado em 02/12/2013 16:22

O Brasil é hoje líder mundial na exportação de carne bovina. Com os altos investimentos em tecnologia e no estado sanitário, pecuaristas e outros profissionais do setor apostam em uma maior abertura de mercados e uma participação ainda maior do produto brasileiro nas exportações mundiais. Mas para continuar crescendo, o setor precisa investir em gestão e marketing. O governo, por sua vez, precisa contribuir resolvendo seus problemas de logística e da grande carga tributária. É o que explica Fabiano Tito Rosa, gerente da área de pesquisa de mercado da Minerva Foods. 


Notícias Agrícolas (NA) - O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) informa que até 2020 o Brasil irá suprir 44,5% da demanda mundial de carne. Isso é tangível?
Fabiano Tito Rosa (FTR) - É tangível, mas temos que ter cuidado com essas estimativas de longo prazo. Temos que ir ajustando isso no curto e médio prazo. Mas é perfeitamente possível, dadas nossas condições de produção. A indústria brasileira é hoje líder mundial, temos o maior rebanho do mundo, estamos melhorando nosso status sanitário e estamos aplicando tecnologia em um ritmo superior à média mundial. 
 

NA - Qual é a participação da carne bovina brasileira no mercado mundial hoje?
FTR - Hoje, de toda a carne bovina que é exportada do mundo, entre 25% e 30% saem do Brasil. 
 

NA - O que ainda precisamos mudar na pecuária nacional para que o produto brasileiro seja mais competitivo? 
FTR - O Brasil produz um boi inteiro, é com esse produto que nós trabalhamos... Tem mercados onde a gente consegue encaixar bem o boi inteiro, como os mercados de commodities. O Brasil já é extremamente eficiente em termos de produção. A gente pode discutir alguma coisa em relação à qualidade, mas nossa produção é bastante eficiente. Produzimos uma carne relativamente boa, que atende aos padrões dos mercados emergentes, e a gente produz a baixo custo. É óbvio que sempre tem o que melhorar e a gente têm que buscar cada vez mais produtividade.
Eu acho que o Brasil tem muito espaço hoje para aumentar produtividade, dadas às condições favoráveis do país, e precisa investir mais na gestão. As tecnologias já existem e são disseminadas. Mas para utilizar essas tecnologias de forma eficiente, você precisa de gestão, para saber qual tecnologia usar, em que momento usar, saber quais adequações vai precisar... Gestão da mão-de-obra, para usar a tecnologia de forma correta. Gestão do capital, pois investir demanda recurso... Esse é um ponto que podemos melhorar e que vai trazer bons resultados. 
 

NA - E fora da porteira, o que precisa ser feito? 
FTR - O governo também precisa fazer sua parte. Assim como acontece com outros setores da economia brasileira, nós temos o problema tributário, de logística, insegurança jurídica, que no campo é bastante latente. Temos uma série de entraves em que o estado precisa fazer sua parte.
 

NA - Quais são as principais atitudes que devem ser tomadas pelo país para melhorar o setor? 
FTR - Tem alguns pontos que incomodam muito. Em primeiro lugar precisamos cuidar da questão logística, que atrapalha tanto na hora da compra do boi quanto na venda da carne. Precisamos melhorar as condições das rodovias, malha ferroviária, portos... Esse é um grande gargalo para o agronegócio como um todo.
No caso da indústria frigorífica temos os créditos tributários, que existem na teoria, mas não existem na prática. Há uma dificuldade muito grande para usar esses créditos. É um problema que precisava destravar, principalmente no estado de São Paulo. 
Na produção, temos uma grande insegurança. As fazendas são invadidas, patrimônio é destruído, animais são roubados... E nada se resolve. Parece que tem alguns grupos acima da Lei. 
E como todo o agronegócio, a gente trabalha muito mal a questão do marketing. Precisamos promover nossa imagem, fazer um marketing institucional da carne, promover o consumo... Os elos dessa cadeia não discutem muito juntos. 
 

NA - Estamos abatendo menos fêmeas e dando início a uma fase de retenção de matrizes. O que isso significa para o mercado? 
FTR - Isso é cíclico. Quando a pecuária está em bom momento, a cria está dando bom resultado. O produtor retém matriz para produzir mais bezerros e aproveitar o momento. Quando ele retém matriz, ele retira animais que estavam indo para abate para o mercado e os preços começam a subir... Mas depois, com a produção de mais bezerros, retenção de matriz e aplicação de tecnologia, uma hora essa produção cresce demais e o preço do bezerro cai. Quando a atividade não dá mais aquele resultado que ele esperava, ele é obrigado a dispensar mais fêmeas para compensar essa queda no preço do bezerro. Nós estamos vindo de 3 a 4 anos de aumento no abate de fêmeas, isso põe mais animais do mercado e ajuda a indústria. Este ano, apesar dessa oferta alta, como o frigorífico puxou muito o abate, conseguimos equilibrar o mercado. O que a gente está vendo, é que com a recuperação do preço do bezerro, estamos recuperando a margem da cria e podemos dar início ao processo de retenção de matrizes em 2014 ou 2015. É isso que está se desenhando, que é a virada do ciclo. 
 

NA - O Brasil já tem seus mercados consumidores tradicionais, como Rússia, União Europeia, China, Egito e agora o Irã também abriu seu mercado, com o acordo nuclear. Existem mercados que o Brasil ainda está tentando conquistar?
FTR - O Brasil é hoje o maior exportador de carne bovina do mundo, mas ainda não tem acesso a metade do mercado com carne in natura. São grandes importadores, como Estados Unidos, Japão, Taiwan, Coréia do Sul, Canadá e México que não compram carne brasileira por conta de uma barreira sanitária, que na verdade é uma barreira comercial. Basicamente não compram carne de nações que não sejam totalmente livres de febre aftosa sem vacinação. Apesar de que não é isso que está nos acordos, não tem justificativa técnica para isso, mas é assim que eles trabalham. Falta abrir esses mercados grandes. 


NA - E a abertura do mercado do Irã, irá trazer um aumento significativo de demanda para a carne brasileira?
FTR - O Irã já era um mercado brasileiro há muito tempo. As nossas vendas caíram por lá por conta das sanções, que foram levantadas contra o país... Essas sanções estão sendo flexibilizadas agora e devemos exportar mais para o Irã. 
E a gente vem fazendo um trabalho dentro de casa, de melhoria do estado sanitário, e fora de casa, que é de negociação para conseguir abrir esses mercados novos. Também existe uma boa possibilidade de abertura dos Estados Unidos. Como eles são vitrine, isso poderia facilitar entrar em outros mercados.

 

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Notícias Agrícolas

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