Especialista estima que as chuvas poderão se intensificar
Nos últimos 50 anos, é dramática a degradação do capital natural do planeta, com emissões de gases de efeito estufa e perda acentuada de biodiversidade, sem falar da poluição e da extração da água. “Já falávamos há 15 anos que o Brasil poderia ter problemas com a água. E o país está procurando se posicionar para recuperar essa perda, provocada pelo manejo inadequado. Com isso, devemos ter uma certa regularidade de água nos próximos cinco anos", disse o pesquisador da Embrapa Informática Eduardo Assad na Unicamp nesta quinta-feira (11). Sua fala foi feita no contexto do Fórum Permanente de Ciência, Tecnologia e Inovação realizado no Centro de Convenções da Universidade, em evento promovido pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e organizado pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU).
A variação da temperatura e das precipitações, comentou ele, afeta negativamente a produção de alimentos no Brasil. Mas isso é pouco significativo em vista do grande impacto observado em outros lugares do planeta. Por outro lado, os prejuízos, não tão ínfimos, poderão ser da ordem de 7 bilhões a partir do ano de 2020, garantiu o pesquisador.
Os maiores impactos previstos para o país são a intensificação das chuvas no Sul e no Sudeste, que já acontecem com maior frequência. “E, como não protegemos as beiras dos rios, vem a erosão e, em consequência, as inundações. Torço para nunca mais ver no noticiário a foto de um brasileiro morto por causa de inundações”, afirmou.
Segundo o pesquisador, que forneceu um panorama das mudanças climáticas, o Nordeste deverá se tornar árido em 60 anos, haverá uma gradual substituição da floresta amazônica oriental por vegetação de savana e uma diminuição na disponibilidade da água no Semiárido de 2 a 3 mm por ano. “Em dez anos, isso poderá chegar a 20 mm por ano, piorando muito quadro”, admitiu. "Também haverá aumento no nível do mar, trazendo problemas das ressacas, atingindo milhares de pessoas nos 8 mil quilômetros de costa."
Eduardo Assad informou que, até o mês de novembro, um grupo de especialistas, entre os quais ele se inclui, se reunirá na Academia Brasileira de Ciências (ABC) para discutir a redução desse tipo de impacto que tem como causa a concentração do dióxido de carbono na atmosfera. De acordo com ele, "saímos de 320 partes por milhão para 400 partes por milhão. Se essa concentração dobrar, a temperatura poderá produzir um aumento de 5º C. Ocorre que já subimos 2º C. Para a Europa, isso seria ótimo, contudo, para os trópicos, seria o contrário. No Brasil, já temos uma elevação de 2,5º C. Logo, estamos em situação de risco”, ressaltou.
Ele sublinhou que também está sendo observado um aumento nos episódios de ondas de calor. Campinas, por exemplo, no ano passado, teve um calor insuportável (34º C), isso já no outono. “As implicações são sérias também para o café, por ele ser mais vulnerável. Buscamos soluções genéticas e, na semana passada, conseguimos isolar genes tolerantes ao aquecimento", comemorou.
Eduardo Assad acredita que é preciso uma reação pontual, pois a frequência das chuvas está aumentando e é preciso se preparar porque chuvas ainda mais intensas deverão acontecer, alertou. A agricultura pode ser afetada sim, e a disponibilidade de recursos hídricos pode interferir nas condições de produção de energia. "Todas as esferas do governo, indústria, comércio e sociedade precisam estar envolvidas para dar uma resposta adequada a essa demanda."
Os fios elétricos, disse, deveriam ser subterrâneos, para proteger a população. “Adotamos um sistema que os Estados Unidos deixaram de usar na década de 1930. Ainda há que se considerar que, de 1940 para cá, a chuva dobrou de intensidade. No Sudeste, tem menos variações. No Sul já há picos de chuva mais fortes. Em Blumenau, houve uma chuva de 300 mm num único dia. Deste modo, temos que estar preparados para o pior. A pior chuva é a que está por vir”, sentenciou. Além disso, o especialista realçou que, no futuro, algumas tragédias poderão acontecer e que é preciso tomar decisões rápidas para evitar que um mal ainda maior aconteça, quando as populações mais desassistidas serão as mais atingidas.
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