Centro de Citricultura do IAC obtém certificação internacional de sustentabilidade e se torna a única fazenda de pesquisa com esse status

Publicado em 28/11/2022 13:59
O Instituto responsável pela verificação, o Imaflora, nunca havia certificado uma fazenda de pesquisa, apenas comerciais.

O Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do Instituto Agronômico (IAC) tem a única fazenda de pesquisa agronômica com certificação internacional de sustentabilidade. O Selo Ouro Farm Sustainability Assessment (FSA) ou Avaliação de Sustentabilidade da Fazenda foi obtido no final de outubro de 2022, graças a investimentos e adequações realizados em aspectos relacionados ao meio ambiente, as questões trabalhistas, sociais e de gestão. Isso significa que todas as áreas da Unidade do IAC, em Cordeirópolis, interior paulista, incluindo campos experimentais, jardins clonais e estufas, estão de acordo com padrões internacionais de sustentabilidade ambiental. Além de proporcionar qualidade e confiança a consumidores, o objetivo com essa certificação é engajar agricultores no fluxo das melhorias e criar um roteiro para avanços contínuos. A certificação é fruto da parceria estabelecida com a Fundação Solidaridad, há dois anos.

A FSA pertence à plataforma SAI (Iniciativa de Agricultura Sustentável) e está sujeita a rigorosas análises de estruturas e procedimentos adotados, que são avaliados assim como ocorre para obtenção de uma certificação nos moldes da ISO.

E quais benefícios esse passo inédito traz ao consumidor e ao setor citrícola paulista e nacional? De acordo com o pesquisador e diretor do Centro de Citricultura IAC, da Secretaria de Agricultura, Dirceu Mattos Jr., no cenário em que a sustentabilidade já aparece como um tema inegociável na agricultura, a certificação traz ao consumidor a possibilidade de conhecer a origem e a qualidade do produto consumido, criando confiabilidade.

“Imagine o consumidor de frutos ou suco de laranja, em qualquer parte do mundo: ele poderá ler na embalagem do produto por quem foi processado, que pomar originou aquela laranja, que viveiro produziu aquela muda que formou o pomar e, numa ponta bastante distante, em qual fazenda foram produzidas a semente e a borbulha, de alta qualidade genética e sanitária – atestados como produtos e serviços estratégicos do Centro de Citricultura do IAC, que deu origem àquilo que consumiu. Construímos uma relação de rastreabilidade e confiança”, explica. Internamente, a certificação agrega ganhos de eficiência e satisfação de trabalho da equipe da unidade de pesquisa.

O Centro de Citricultura do IAC obteve 100% de conformidade nos critérios ‘Essenciais’ e ‘Básicos’ e 96% nos critérios ‘Avançados’, ficando acima do exigido para o nível Ouro, que são de 100% de cumprimento de critérios essenciais, 100% dos básicos e 75% dos avançados.

A verificação foi realizada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), organização brasileira sem fins lucrativos, que trabalha desde 1995 para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, gerar benefícios sociais e reduzir os efeitos das mudanças climáticas. O Imaflora nunca havia certificado uma fazenda de pesquisa, apenas áreas comerciais.

“O Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC demonstrou compromisso com a sustentabilidade e qualidade técnica para atendimento das exigências nível Ouro do SAI. Para o Imaflora, realizar uma verificação em uma fazenda experimental é um fato inédito e esperamos que essa validação sirva como referência para a promoção das boas práticas socioambientais no fortalecimento da cadeia citrícola e, principalmente, na inclusão dos pequenos citricultores que demandam de informação qualificada”, afirmou o coordenador de Certificações Pleno do Imaflora, Alessandro Rodrigues.

Para alcançar o Selo Ouro, no processo de avaliação foram respondidas 118 perguntas, baseadas em práticas de agricultura sustentável e reconhecidas pela indústria de bebidas e alimentação. O conteúdo da entrevista abrange os impactos ambientais, como agroquímicos, ar, biodiversidade, proteção da lavoura, gestão da fazenda, plantio, gestão do solo, dos resíduos e da água; além de fatores econômicos, como estabilidade financeira, acesso ao mercado e conformidade legal. Também são analisados os aspectos sociais da agricultura, incluindo saúde e segurança, condições de mão de obra e comunidade local.

Para obter essa certificação, o Centro investiu em várias etapas de organização e implementação de dados e processos, durante cerca de um ano. Esses processos envolvem desde o cuidado com a segurança do trabalhador, a tomada de registros de operações e manutenção de históricos de uso de produtos, estoque e descarte correto de embalagens, organização administrativa e sinalização de riscos, até o estabelecimento de infraestrutura apropriada para abastecimento de máquinas, por exemplo.

“No contexto da citricultura sustentável, vê-se uma atividade que preconiza a equidade entre os vieses ambiental, social e econômico. O Brasil, como um dos principais produtores agrícolas do mundo, precisa fomentar ações que favoreçam a sustentabilidade na agricultura”, comenta Mattos Jr.

A verificação do Centro de Citricultura no sistema de avaliação FSA começou em 2020, a partir da parceria firmada com a Fundação Solidaridad para desenvolver o projeto Fruto Resiliente, que treina citricultores de pequenas propriedades no estado de São Paulo. O objetivo desse projeto é capacitá-los para a adoção de práticas de campo que proporcionem sua continuidade, eficiência e sustentabilidade da produção citrícola com economia do uso de recursos. Atualmente, o Projeto reúne 200 participantes.

“O comprometimento da equipe do Centro de Citricultura com os ajustes propostos pela equipe da Fundação Solidaridad foi fundamental para alcançar o nível Ouro da SAI. O processo de ajustes das práticas da Fazenda Experimental serviu de exemplo para os citricultores, através de vídeos e do dia de campo, e agora a marca de sustentabilidade alcançada pelo Centro impulsionará ainda mais o interesse, principalmente dos produtores e produtoras de pequenas propriedades”, avalia o coordenador de Projetos da Fundação Solidaridad, Guilherme Ortega.

O FSA é uma ferramenta desenvolvida pelos membros da SAI Platform, que é utilizada pelos agricultores para avaliar a sustentabilidade de suas fazendas. A referência serve de base para a melhoria contínua das práticas, a fim de ampliar as oportunidades de negociar com empresas interessadas em produtos de origem sustentável. “Um mecanismo de pontuação facilitado fornece aos agricultores e seus clientes uma visão geral da sustentabilidade de suas fazendas”, explica Fernando A. Azevedo, pesquisador da equipe envolvido nessa ação.

Mattos Jr. e Azevedo viram a oportunidade para compartilhar conhecimentos e apoiar práticas agrícolas sustentáveis no campo e nas estufas do Centro de Citricultura do IAC. “A decisão foi para mostrar aos citricultores que o processo é possível”, comenta Azevedo.

Para os dois cientistas, informação, organização, cooperação e realização definem o esforço empenhado na obtenção desse certificado. “Vimos que poderíamos ser melhores e mais eficientes no trabalho. A sustentabilidade será inegociável no nosso negócio também. Preparar a Instituição para atender à demanda pública, cuja consciência é crescente na pauta ESG (sigla para Enviromental, Social and Governance), é estar preparado não só para continuar, mas para ir à frente no cenário de ciência e tecnologia. Isso, deve ser nossa inspiração para o IAC e a APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios)”, resume Mattos Jr..

A SAI é uma iniciativa global da cadeia de suprimentos de alimentos e bebidas para a agricultura sustentável que oferece às indústrias de alimentos um fórum exclusivo para discussão, ação e busca de soluções em questões de sustentabilidade contribuindo para aumentar o valor do consumidor e a confiança do cliente nos produtos da indústria de alimentos, bem como o bem-estar geral da sociedade, incluindo a qualidade do meio ambiente e o bem-estar dos agricultores.

“A acreditação vem integrar novas ações ao ambiente já acreditado pelas normas de qualidade ISO 9001 e demonstrar a preparação do Centro de Citricultura para desenvolvimento de projetos de pesquisa e inovação num novo cenário de demanda do usuário”, afirma Azevedo.

No mundo, cerca de 200 mil fazendas já passaram pela verificação FSA-SAI, em mais de 40 países, em todos os continentes. Essas áreas englobam mais de 70 culturas agrícolas, cultivadas de acordo com a agricultura sustentável certificada pela FSA.

Fundação Solidaridad

A Fundação Solidaridad é uma organização internacional da sociedade civil que atua há 13 anos no Brasil para o desenvolvimento de cadeias de valor socialmente inclusivas, ambientalmente responsáveis e economicamente rentáveis da agropecuária. Com atuação em mais de 40 países, busca acelerar a transição para uma produção inclusiva e de baixo carbono, contribuindo para a segurança alimentar e climática do País e do mundo. Atualmente desenvolve com seus parceiros iniciativas de sustentabilidade nas seguintes cadeias: cacau, café, cana-de-açúcar, erva-mate, laranja, pecuária e soja.

Para participar do projeto da Solidaridad, basta acessar o link do blog CitrosConecta e se cadastrar na página do Fruto Resiliente (https://www.citrosconecta.org/treinamento-fruto-resiliente).

Por que o Centro buscou esse certificado?

Dirceu Mattos Jr. explica que o mapeamento de processos e organização de atividades foi um objetivo na busca desse reconhecimento. “Percebe-se uma movimentação do setor citrícola principalmente para atender aos compromissos assumidos no Pacto do Suco Sustentável ou Sustainable Juice Covenant (SJC), que é uma iniciativa internacional dos principais players do setor de sucos, que unem forças para melhorar a sustentabilidade das cadeias de suprimentos de sucos em todo o mundo”, comenta.

Os membros da SJC se comprometeram com a meta de 100% de abastecimento sustentável até 2030. “Nesse sentido o mínimo exigido é o nível bronze da ferramenta FSA SAI ou equivalente em outros padrões”, esclarece Fernando A. Azevedo.

Os cientistas do IAC relatam que muito trabalho já vinha sendo feito pelo Centro de Citricultura, antes mesmo da certificação. Porém, a correta comunicação e o treinamento das equipes demonstraram ser elementos essenciais e facilitadores de trabalho, para melhores resultados e satisfação das pessoas envolvidas.

“A resultante foi o aumento do aproveitamento do esforço de todos. Outro objetivo, tão importante, foi estar junto do citricultor que participa do projeto Fruto Resiliente, para criar confiança e demonstrar que a adoção de boas práticas na fazenda traz enormes benefícios ao seu negócio”, diz.

O Centro de Citricultura do IAC já conduzia atividades sustentáveis. Por exemplo, a adoção de práticas de controle fitossanitário e o treinamento da equipe do Centro de Citricultura pelo Programa Aplique Bem do IAC já eram práticas cotidianas. Houve melhorias na qualidade de máquinas e equipamentos, como pulverizadores, na organização de registros de resultados da análise química de solo e foi criado um histórico de adubações, para a melhor manutenção das coleções de trabalho e jardins clonais. Outro avanço obtido no processo da certificação foi sinalizações de riscos nos ambientes de trabalho e a realização de treinamento da equipe com assessoria externa. “De novidade, criamos histórico de saúde do trabalhador, ampliamos treinamentos e implantamos sistema de controle de dados para uso de insumos, entre outros”, diz o diretor do Centro de Citricultura do IAC.

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Fonte:
IAC

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