Clubhouse: Aplicativos de áudio exploram o antigo apelo da voz humana (..sentem necessidade de contar histórias)

Publicado em 07/03/2021 15:15

Se você jogar no Google “o que é o Clubhouse?”, encontrará uma enxurrada de artigos escritos nas últimas semanas sobre essa rede social de rápido crescimento. O aplicativo ainda não tem 1 ano de idade e grande parte da agitação vem do fato de que é restrito para convidados, trazendo consigo um elemento de exclusividade.

O principal diferencial do Clubhouse é seu formato: em áudio, o que o diferencia das redes sociais estabelecidas e dos serviços de mensagens como Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp e YouTube que usam texto, fotos, vídeo ou uma mistura. O Clubhouse combina a estrutura das salas de chat de texto da velha internet com o imediatismo e a emoção da voz humana.

Salas aleatórias são diferencial; App surfa no sucesso de podcasts
O serviço de mídia social está explorando a criatividade, a intimidade e a autenticidade que o áudio pode oferecer, uma tendência que está no cerne da atual era de ouro do podcastingReprodução/Nieman Lab (NIEMAN LAB)

 

Por Damian Radcliffe*

Se você jogar no Google “o que é o Clubhouse?”, encontrará uma enxurrada de artigos escritos nas últimas semanas sobre essa rede social de rápido crescimento. O aplicativo ainda não tem 1 ano de idade e grande parte da agitação vem do fato de que é restrito para convidados, trazendo consigo um elemento de exclusividade.

O principal diferencial do Clubhouse é seu formato: em áudio, o que o diferencia das redes sociais estabelecidas e dos serviços de mensagens como Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp e YouTube que usam texto, fotos, vídeo ou uma mistura. O Clubhouse combina a estrutura das salas de chat de texto da velha internet com o imediatismo e a emoção da voz humana.

O serviço de mídia social está explorando a criatividade, a intimidade e a autenticidade que o áudio pode oferecer, uma tendência que está no cerne da atual era de ouro do podcast.

Em meio ao “hype”, o Clubhouse enfrenta desafios de privacidade e assédio que podem dificultar a trajetória ascendente da empresa. Começou com 1.500 usuários e era avaliado em US$ 100 milhões em maio de 2020. Evoluiu para 2 milhões de usuários ativos semanais e uma projeção de US$ 1 bilhão.

COMO FUNCIONA

O primeiro desafio é receber um convite. O aplicativo em si é muito fácil de navegar. Você pode consultar sua agenda para encontrar conversas com base em seus interesses, o que pode ser identificado na inscrição. Navegar pelas “salas” com discussões em andamento também é uma opção. Você também pode configurar seu próprio evento. As salas podem ser públicas ou privadas, com a opção de ouvir em silêncio ou participar da conversa. É possível entrar e sair das salas à vontade.

As atividades normalmente variam de entrevistas a painéis de eventos e discussões abrangentes. Alguns esforços são ainda mais ambiciosos: no final do ano passado, um grupo de membros do Clubhouse fez duas apresentações de “Lion King: The Musical”, apresentando atores, narradores e um coral.

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Sala em que foi realizada a apresentação do musical Lion King

QUAL O DIFERENCIAL?

Exclusividade, atenção da mídiaenvolvimento de Elon Musk, o fundador da Tesla, e investimentos de grandes empresários ajudaram a despertar o interesse pelo aplicativo. Como um estudioso da narrativa, identifiquei 3 outros fatores que podem contribuir para seu apelo contínuo.

Primeiro, o áudio é um meio íntimo. Você pode ouvir as inflexões no tom de voz das pessoas, que transmitem emoção e personalidade de uma forma que o texto sozinho não consegue. Se você faz uma piada ou é sarcástico em um texto ou e-mail, sua tentativa de humor pode facilmente falhar ou ser mal interpretada. Isso é menos provável quando as pessoas podem ouvi-lo.

Além disso, ouvir as pessoas diretamente pode trazer empatia e compreensão –em tópicos difíceis aos quais os ouvintes podem ter se tornado insensíveis, como lutovício e suicídio– de uma forma que o texto sozinho não consegue.

Em 2º lugar, há serendipidade. Embora conversas organizadas e eventos sejam cada vez mais realizados no Clubhouse, você pode passear, entrando em salas sobre tópicos que vão de hip-hop a tecnologia de saúde.

Escutar conversas aleatórias traz consigo uma certa imprevisibilidade. É difícil saber onde procurar conversas de qualidade, e é por isso que a rede está se propondo a desenvolver um programa de “criadores” projetado para nutrir “influenciadores de Clubhouse”. Mas, às vezes, conteúdo frívolo e trivial não faz mal. Afinal, seria exaustivo ouvir TED Talks 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Essa abordagem não estruturada tem apelo em um momento em que os hábitos de mídia das pessoas são cada vez mais regidos por algoritmos, tornando difícil esbarrar em algo novo.

Finalmente, há o fato de que o áudio é um ótimo “pano de fundo”. Cresci em uma casa onde a rádio pública, a BBC, no meu caso, sempre tocava na cozinha. O áudio é perfeito para realizar multitarefas. As pessoas podem ouvir enquanto vão para o trabalho, sentam-se à mesa ou levam o cachorro para passear.

O Clubhouse explora esses elementos e, em um momento em que muitas pessoas estão privadas de contato humano, por conta da pandemia, ele permite que uma pluralidade de vozes e experiências humanas murmurem em 2º plano.

AS DORES DO CRESCIMENTO

O Clubhouse está se expandindo rapidamente, trazendo com ele maior escrutínio. A empresa está enfrentando problemas que são familiares a muitas outras redes sociais, gerenciamento de desinformação.

Em um espaço não regulamentado, as pessoas podem dizer o que quiserem. Isso tem implicações para a verificação de fatos e moderação de conteúdo, permitindo que as teorias da conspiração se espalhem. Jornalistas e usuários relataram questões de assédioantissemitismomisoginia e racismo, embora isso vá contra as diretrizes do Clubhouse.

As preocupações com privacidade e segurança também são muitas. Os bate-papos foram retransmitidos online. No início do mês, o Stanford Internet Observatory revelou falhas de segurança que significavam que os dados dos usuários eram vulneráveis ​​e acessíveis ao governo chinês. O aplicativo pode não se enquadrar às regras de proteção de dados da Europa, conhecida como PIBR, por exemplo.

Outros comentaristas mostram-se preocupados com o fato de que os usuários acabam entregando os contatos salvos em seus aparelhos ao se inscreverem no aplicativo.

O aplicativo está disponível apenas para usuários do iPhone, o que significa que ele não funciona em outros dispositivos. Isso é um problema, visto que mais de 70% da população mundial usa o Android, o sistema operacional móvel do Google.

Enquanto isso, fechar uma conta também parece ser mais problemático do que deveria.

APROVEITANDO A MODA DO ÁUDIO

Resta saber se as pessoas ainda estarão falando sobre o Clubhouse daqui a 6 meses. O que está claro, no entanto, é que a atenção que o aplicativo está recebendo é parte de uma reinvenção e revigoramento mais amplo do meio de áudio, tendência que vem crescendo nos últimos anos.

O podcast continua a se expandir. Mais de um milhão de podcasts já estão disponíveis e, para serviços de streaming de áudio como o Spotify, eles estão no centro de sua estratégia de crescimento.

Enquanto isso, o Audible, serviço de audiolivros da Amazon, está se expandindo em todo o mundo, e alto-falantes inteligentes como Amazon Echo e Google Home estão entre as tecnologias de crescimento mais rápido de todos os tempos, permitindo que os usuários ouçam música, podcasts ou o último boletim meteorológico sob demanda.

Não é apenas o Clubhouse que está buscando aproveitar essa tendência. O Facebook está criando um clone do aplicativo, enquanto o Twitter Spaces é a mais recente incursão da rede de microblog no mundo do áudio. O analista da indústria de tecnologia Jeremiah Owyang identificou mais de 30 tentativas de adaptações ao áudio por parte de redes sociais. Ele chamou o meio de “’Cachinhos Dourados’ da década de 2020: texto não é suficiente e vídeo é demais; o áudio para interação é perfeito”.

Os humanos sentem a necessidade de se conectar e contar histórias desde tempos imemoriais. Este é o “ingrediente secreto” do áudio, conduzindo grande parte do interesse renovado pelo meio. O Clubhouse pode ser a fogueira digital de hoje, mas é altamente improvável que seja a última.

*Damian Radcliffe é professor de jornalismo na Universidade de Oregon. Este artigo foi republicado do Conversation sob licença Creative Commons.

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O texto foi traduzido por Carina Benedetti. Leia o texto original em inglês.

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O Poder360 tem uma parceria com duas divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos que o Nieman Journalism Labe o Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.

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Fonte:
Poder360

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