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Segunda safra além do milho: produtores buscam alternativas de cultivo em 2024

Publicado em 15/02/2024 07:05
Área de milho safrinha deve recuar e dar espaço à outras culturas

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O mais recente relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a segunda safra de 2024 terá plantio de 15,879 milhões de hectare de milho. Caso confirmado, este patamar seria 7,5% menor do que os 17,179 milhões de hectares registrados em 2023. 

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“A redução na área cultivada é devida às baixas cotações do cereal e atraso do plantio da soja, o que reduzirá a janela ideal de cultivo, além do temor dos agricultores sobre uma possível redução das precipitações a partir de abril”, explica a Conab. 

Diante desta redução, uma parte dos produtores brasileiros devem abandonar a tradicional dobradinha soja/milho e apostar no cultivo de culturas alternativas nesta segunda safra de 2024. Entre as principais opções estão sorgo, gergelim, algodão, trigo, girassol e até o arroz. 

“Tem culturas secundárias trazendo um aumento mais expressivo para o sorgo, embora historicamente seja pequeno, tem expectativa de área plantada maior em um cenário capitaneado pelo risco climático apertando a janela de plantio em algumas regiões. Temos culturas secundárias como o gergelim que entra em algum momento em algumas regiões, temos o trigo que fica mais para a região Sul. Então temos um mix de alternativas que o produtor pode estar de olho sim”, relata Stefan Podsclan, Consultor de Grãos e Projetos na Agrifatto. 

“Uma parte do que já foi plantado migrou para o algodão, que avançou na área que era de milho em 2023. Agora para quem ainda vai plantar, o milho pode se estender até o final de fevereiro e depois surgem como alternativas o sorgo, o feijão e até o arroz, as opções estão muito variadas nessa segunda safra. Culturas como feijão e arroz tem expectativa de mais rentabilidade do que o milho, já no caso do sorgo é mais uma questão de janela de plantio”, avalia o Analista de Mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze.  

SORGO 

Sorgo imagem

Analista da Embrapa Milho e Sorgo e Coordenador do Movimento + Sorgo, Frederico Botelho, aponta o sorgo como a principal alternativa de cultivo na segunda safra brasileira, com área que vem crescendo constantemente nos últimos anos, especialmente na parte Central do país. 

“Nós batemos na tecla não da substituição, mas da utilização de cada cultura em sua janela de cultivo ideal. O produtor precisa se atentar ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para se posicionar da melhor maneira. Entre a segunda quinzena de fevereiro e meados de março muitas regiões já têm restrição ao milho, mas a janela ainda é oportuna para o sorgo”, explica Botelho. 

Para o Mato Grosso, a Conab aponta que há aumento na procura por culturas alternativas e proporcionado elevação nas projeções de área de culturas como sorgo. “Representa uma opção bastante interessante no sentido de que apresenta maior resistência ao clima seco, característica que deve se sobressair em 2024, dado os atrasos nos ciclos que têm ocorrido. O sorgo também exerce papel parecido ao do milho na alimentação animal. Nesse contexto, sua área projetada já ultrapassa os 100 mil hectares, marca não registrada há muitos anos no estado”. 

A Companhia também projeta elevação no cultivo em estados como Bahia e Piauí. “Na Bahia espera-se o crescimento do cultivo em relação à safra passada por conta da expansão agrícola e da redução do cultivo do milho, oportunizando o fim da estação chuvosa num cultivo de baixo custo. Por se tratar de cultura mais rústica que o milho e, consequentemente, mais resistente ao déficit hídrico, o sorgo tem apresentado uma área de cultivo crescente no Piauí”, aponta a Conab. 

Diante do cenário de atraso na safra de soja e encurtamento da janela para o milho em muitas regiões brasileiras, Botelho aposta em um crescimento no cultivo de sorgo em 2024 apoiado nas principais características da cultura. 

“O sorgo vem sendo cada ano mais observado pelos produtores pois tem uma janela de plantio maior e mais tolerância aos stress hídrico. Além disso, tem um mercado com demanda crescente com as indústrias de etanol de cereais e de rações expandindo o mercado”, relata o analista de Embrapa. 

O cultivo do sorgo também traz características positivas do lado agronômico. “Quanto mais dentro da janela maior é o retorno. O sorgo também não tem problemas com a cigarrinha do milho, deixa boa condição de palhada pós-colheita e no momento da dessecação da soja pré-plantio já que tem a possibilidade da rebrota. Além disso o sistema radicular da planta é maior do que o do milho e deixa matéria orgânica também no subsolo. Por fim, os custos de produção do sorgo ficam em torno de 50% dos do milho, enquanto a comercialização gira entre 80 e 85% do preço do milho”, diz Botelho. 

GERGELIM 

Gergelim em Ribeirão Cascalheira (MT). Envio de Vanderlei Secco.

Outra cultura que pode se beneficiar desta redução de plantio do milho é o gergelim. Os dados oficiais da Conab indicam que “o quadro de encurtamento da janela de plantio para o milho, na segunda safra, com consequente elevação dos riscos climáticos associados a essa cultura, tem movimentado a procura por culturas alternativas e proporcionado elevação nas projeções de área de culturas como o gergelim”. 

O município de Canarana no Mato Grosso é a principal região produtora de gergelim do Brasil, e por lá a expectativa é de novo aumento no cultivo, ganhando a disputa por áreas de segunda safra com o milho.  

“Muito pouco plantio de milho na nossa região. Tenho falado com muitos produtores e a grande maioria deve plantar gergelim. O milho está sendo deixado de lado em função de preço e da própria janela que foi pouca no início”, diz Arlindo Cancian produtor rural em Canarana/MT. 

Cancian destaca que a região, que é considerada capital nacional do gergelim, conta com a presença de empresas que compram o produto, limpam, etiquetam e já exportam diretamente, o que facilita a comercialização e rentabilidade dos produtores. Os primeiros negócios para esta safra giraram entre R$ 5,50 e R$ 6,00 o quilo e agora estão na casa de R$ 4,00.

O produtor também comenta que a cultura do gergelim não deixa tanta massa orgânica no solo quanto o milho, mas tem um enraizamento muito bom. Já do lado do manejo, existem algumas variedades que demandam algumas adequações especiais, mas a cultivar mais produzida na região tem manejo mais simples.  

ALGODÃO 

Algodão destaque CNA

Para o algodão, A Conab estima que 1,877 milhão de hectares serão cultivados no Brasil neste ciclo 2023/24. Isso representa um salto de 12,8% com relação ao registrado na temporada passada 2022/23, quando foram semeados 1,663 milhões de hectare. 

Somente o Mato Grosso, principal produtor nacional, deve semear entre 1,3 e 1,4 milhões de hectares, com um crescimento de cultivo estimado em cerca de 10% pela Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa). 

“A cultura do algodão foi a menos impactada pensando em preços, olhando em relação à soja e milho. Esse ano vimos produtores migrando da própria primeira safra que acabou não conseguindo cultivar com soja e indo direto para a cultura do algodão e também como segunda safra, como opção mais rentável em comparação ao milho”, aponta o Superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer. 

TRIGO 

Trigo - Foto Envato (5)

Opção de cultivo especialmente na região Sul, o trigo começa 2024 em desvantagem na comparação com o trigo e não deve ser a escolha de muitos produtores nesta safra. 

No Paraná, principal estado onde é possível fazer essa troca, a expectativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná é que a área de trigo fique, no máximo, no mesmo tamanho do registrado em 2023. 

“Nesse ano a janela já estava mais favorável ao milho e com o encurtamento do ciclo da soja ela ficou ainda mais favorável. Isso não favorece o trigo nesse primeiro momento. Além disso, a rentabilidade do milho pode estar ruim, mas a do trigo também está ruim e deve ser na mesma toada. Então, aumento de área possivelmente não vai ter devido justamente a rentabilidade, além da janela de plantio. Deve ficar, no máximo, no mesmo tamanho do ano passado”, diz Carlos Hugo Godinho - Engenheiro Agrônomo do Deral. 

Essa relação de rentabilidade mais favorável ao milho ante ao trigo também é destacada pelo Consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX, Jonathan Pinheiro, que aponta tendência de redução de área do trigo no Sul, mas a possibilidade de ganho de áreas em outras regiões.  

“Para próxima safra, que será plantada ao longo dos próximos meses, nós da StoneX vemos uma redução de área no Sul do Brasil, mas possibilidade de incremento no Sudeste e Centro-Oeste, regiões do cerrado. As rentabilidades baixas da última temporada são somente um dos fatores que desestimulam o produtor atualmente. No último triênio, tivemos boas rentabilidades do trigo, que levou muitos produtores a investir na cultura, mas na última temporada, com uma quebra representativa, e sem aumento proporcional dos preços, temos as baixas rentabilidades e um grande desestímulo neste período próximo ao início da semeadura”, pontua. 

Olhando para estados como Goiás e São Paulo, o consultor ressalta um cenário um pouco mais positivo ao trigo. “Nas demais regiões do país não houve a quebra de safra que foi visto no sul. Isso proporcionou um trigo de qualidade, com preços competitivos e boa demanda pela indústria moageira doméstica. Vimos inclusive trigo de Goiás indo para o Paraná, entre outros estados que forneceram parte de sua produção para a região Nordeste, que é uma grande consumidora. Essas regiões estão com produtores otimistas em, ao menos, manter a área e inclusive estão com interesse de exportar. Apesar disso, o avanço da colheita adiantado de soja no país, deixa mais confortável a janela de plantio do milho safrinha, e pelo que estamos recebendo de informações, com rentabilidades sim melhores, poderá limitar o crescimento da área de trigo”, diz Pinheiro. 

GIRASSOL 

Imagem do Dia - Girassol em Campo Novo do Parecis (MT), envio do engenheiro agrônomo Joemir Mariotto

De acordo com o último relatório da Conab, a conjuntura não tem sido favorável para o cultivo do girassol em Mato Grosso.  

“Mesmo com a desvalorização de seu principal concorrente, o milho, o produtor não se anima a semear o girassol, e o preço pago ao produtor não é suficiente para tanto. Estima-se que apenas 8,5 mil hectares sejam alocados à cultura”, dizem os técnicos da Conab. 

Já em Goiás, principal estado produtor do girassol no Brasil, a perspectiva é de aumento no cultivo nesta segunda safra de 2024, justamente se aproveitando de espaços deixados pelo milho. 

“A expectativa é uma redução na área plantada com milho safrinha. No ano passado plantamos 1,7 milhão de hectares, esse ano por todos esses problemas de atraso no plantio (da soja), necessidade de replantio, a gente vai ter uma redução na nossa área plantada na casa dos 5% ou mais. O estado de Goiás já é o principal produtor de girassol do país e temos a estimativa de que pode crescer muito a área no estado”, aponta Leonardo Machado, Assessor Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). 

ARROZ 

arroz-de-sequeiro

Mais comum em áreas irrigadas cultivadas na safra de verão na região Sul, até mesmo o arroz tem surgido como alternativa ao milho nesta segunda safra. Os dados oficiais da Conab reportam que 1,575 milhões de hectares serão cultivados com arroz nesta safra 2023/24. Na comparação com os 1,479 milhões contabilizados em 2022/23, o aumento deve ser de 6,5%. 

“Há estimativa de aumento de área a ser cultivada, tanto do arroz irrigado quanto do sequeiro, comparado com a safra passada, principalmente devido à expectativa com a melhoria dos preços praticados no mercado do cereal”, diz a Conab. 

No município de Torixoréu na região Sudeste do Mato Grosso, o consultor agrícola Jacson Tortelli comandou o plantio de áreas de arroz ao invés do milho segunda safra. De acordo com o consultor, a escolha de substituição se deu de olho na viabilidade econômica e menor risco para o arroz ante ao milho nesta safra. 

“Temos que procurar levar ao produtor opções que vão trazer lucratividade final”, diz Tortelli. 

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Por:
Guilherme Dorigatti
Fonte:
Notícias Agrícolas

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