BC muda compulsório para injetar R$ 45 bi na economia

Publicado em 25/07/2014 14:37 e atualizado em 25/07/2014 16:12
Agora, bancos poderão usar parte das reservas obrigatórias para operações de crédito

 

O Banco Central (BC) anunciou nesta sexta-feira medidas para adicionar liquidez à economia e aumentar a disponibilidade de crédito no mercado. As mudanças, cujo impacto estimado na economia será de 45 bilhões de reais, são justificadas pelo crescimento de mais de 100% do volume de compulsório recolhido, para 405 bilhões de reais em 2014; pela moderação na concessão do crédito; pela inadimplência em patamares relativamente baixos; e pelo recuo do nível de risco no sistema financeiro nacional. 

A principal alteração nas normas do sistema financeiro foi no depósito de compulsórios, um dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC, como forma de proteção ao sistema bancário do país. Agora, o BC quer permitir que os bancos usem até metade do recolhimento do compulsório referente a depósito à prazo em operações de crédito. "Assim, pelo prazo de um ano, 50% dos valores recolhidos poderão ser utilizados na contratação de novas operações de crédito e na compra de carteiras diversificadas (pessoas jurídicas e físicas) geradas por instituições elegíveis", diz o BC. 

Além disso, instituições financeiras com patrimônio de referência inferior a 3,5 bilhões de reais serão elegíveis, sem restrições, à condição de vendedoras das operações aceitas para fins de dedução do recolhimento. Com isso, amplia de 58 para 134 o número de instituições financeiras elegíveis.

Por fim, o BC reduziu a 3 bilhões de reais, ante 6 bilhões de reais, o patrimônio de referência das instituições que podem usar até 20% de seus recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista para empréstimos e financiamentos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

Leia a reportagem na íntegra no site da revista Veja
 

BC libera recursos para mais crédito e demonstra contradição: é medida eleitoreira

Alexandre Tombini, presidente do BC, com Dilma: relação perigosa para o bolso dos brasileiros.

Ata do Copom foi divulgada ontem e comentada por mim aqui. Em seu parágrafo 25, diz:

25. O Copom destaca que o cenário central também contempla expansão moderada do crédito. Importa destacar que, após anos em forte expansão – arrefecida com a introdução de medidas macroprudenciais em finais de 2010 – o mercado de crédito voltado ao consumo passou por uma moderação, de modo que, nos últimos trimestres observaram-se, de um lado, redução de exposição por parte de bancos, de outro, desalavancagem das famílias. No agregado, portanto, infere-se que os riscos no segmento de crédito ao consumo vêm sendo mitigados. Em outra dimensão, o Comitê considera oportunas iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito.

Ou seja, os membros do Copom chamam a atenção para o fato de que a expansão de crédito reduziu bastante seu ritmo, e tomam isso como algo positivo para o combate à inflação, o que é verdade.

No fundo, os bancos privados já tinham pisado no freio bem antes, cientes dos riscos econômicos à frente, enquanto os bancos públicos pisaram no acelerador para compensar essa desaceleração privada.

Os bancos públicos acabaram exagerando na dose, seus balanços se encontram extremamente alavancados e isso não produziu mais crescimento econômico, apenas mais inflação e risco de inadimplência à frente. A Caixa pode estar fomentando até mesmo uma bolha imobiliária.

Mas, se a turma do BC compreende isso e celebra a redução do crédito, então por que decidiulogo depois alterar as regras de risco de crédito e liberar recursos do compulsório para os bancos? Não faz sentido, pois vai à contramão do que disse a ata. A medida visa à expansão do crédito, o que joga mais lenha na fogueira inflacionária:

Com o ritmo lento da economia do país, o Banco Central anunciou nesta sexta-feira (25) medidas que aumentam a capacidade dos bancos de oferecer empréstimos para pessoas e empresas. A intenção é estimular o crescimento com maior oferta de crédito.

Uma das ações altera regras dos depósitos compulsórios das instituições financeiras, reduzindo valores que elas têm de manter no próprio BC. Assim, mais de R$ 30 bilhões devem ser liberados para empréstimos às famílias e empresas.

Outra mudança está nos critérios para a reserva que os bancos devem ter caso tomem calote de quem recebeu os empréstimos. Com menor “estoque” de segurança, chamado de requerimento mínimo de capital para risco de crédito das operações de varejo, o BC informou que há um “potencial reflexo na economia” de mais R$ 15 bilhões em recursos.

Ao todo, portanto, as duas medidas anunciadas nesta sexta-feira têm impacto de R$ 45 bilhões – que poderão ser utilizados no aumento do crédito para as famílias e empresas.

Os bancos privados não pretendem expandir o crédito pois temem a inadimplência, caso a taxa de desemprego aumente com a estagnação econômica. A liquidez extra provavelmente não será traduzida em mais crédito na mesma proporção, e sim em lucros maiores para os bancos, pois o compulsório rende menos do que eles conseguem com títulos do próprio governo no mercado.

Mas, caso os bancos realmente decidissem emprestar esses recursos liberados para as famílias endividadas consumirem mais, isso não iria reativar a economia, ao menos não de forma sustentável. Iria apenas produzir mais inflação, ou aumentar o déficit comercial, pois a demanda iria “escapar” para os produtos importados, uma vez que nossa oferta não consegue acompanhá-la de forma competitiva.

O calcanhar de Aquiles é justamente esse: a baixa produtividade doméstica, fruto do “Custo Brasil”. O modelo de estímulo ao consumo calcado na expansão de crédito sem lastro na poupança doméstica se esgotou totalmente, e o quadro de estagflação demonstra isso. O PIB deve crescer menos de 1% esse ano, e a inflação acumulada em 12 meses está acima do teto da meta, mesmo com vários preços represados pelo governo.

A medida do BC, portanto, tem caráter eleitoreiro e é contraditória ao próprio discurso do Copom. Mostra que não temos um Banco Central independente do governo, com autonomia para perseguir a meta de inflação, e sim um BC subserviente aos interesses políticos de um partido hoje no poder.

por Rodrigo Constantino.

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Fonte:
Veja + Rodrigo Constantino

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