Sem reforma da Previdência, BC deve cortar menos os juros em 2018

Publicado em 14/12/2017 21:47
Apesar do adiamento, Planalto adota discurso otimista para aprovar reforma da Previdência em 2018 (Reuters)

SÃO PAULO (Reuters) - Ao adiar a votação da reforma da Previdência para fevereiro, o governo confirmou a desconfiança do mercado sobre a força política do presidente Michel Temer para aprovar a medida e pode precipitar o fim dos cortes de juros pelo Banco Central.

Vital para o controle das contas públicas e para o cumprimento do teto de gastos em 2019, a reforma da Previdência reduziria taxas nos contratos futuros de juros, auxiliaria a desvalorizar o dólar e pressionaria para baixo os Credit Default Swaps, que medem a possibilidade de calote no pagamento da dívida pública, segundo economistas ouvidos pela Reuters.

Nos últimos meses, todos os três ativos se comportaram na direção oposta, indicando que investidores passaram a embutir nos preços uma forte possibilidade de a reforma não passar.

Desde o início de outubro, a taxa do contrato do juro futuro que vence em janeiro de 2021, o de maior liquidez, subiu 0,56 ponto e o dólar avançou 5,75 por cento ante o real, sendo 1,98 por cento apenas no mês de dezembro.

Já o CDS de cinco anos, que caiu 126 pontos nos últimos 12 meses e bateu a mínima do ano no início da semana passada, voltou a subir e ganhou 9,75 pontos em sete dias, aos 168,534 pontos.

"Ninguém estava acreditando que a coisa podia ser votada esse ano, os sinais das últimas semanas mostravam fragilidade cada vez maior na força do governo e na sua capacidade de arregimentar os 308 votos necessários", disse o economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Newton Rosa.

Uma fonte da equipe econômica, que pediu anonimato, afirmou que o impacto fiscal no primeiro ano, caso a reforma da Previdência não saia do papel, "é baixo, mas nas expectativas não". E acrescentou que o governo ainda não estuda medidas para compensar eventuais perdas fiscais, como aumento de impostos.

ÚLTIMO CORTE DE JUROS

Além do ajuste em preços nos mercados futuros e de dívida, o adiamento da reforma coloca dúvidas sobre a capacidade do Banco Central de estender o ciclo de corte da taxa de juros para além de fevereiro, de acordo com economistas.

Na semana passada, o Copom levou a Selic à mínima histórica de 7 por cento, após um corte de 0,5 ponto, e indicou que reduziria a taxa em 0,25 ponto na próxima reunião, em fevereiro, encerrando o ciclo caso não houvesse avanços na condução de reformas estruturais.

"Um segundo corte no ano que vem depende do avanço de reformas e a não-reforma reforça a ideia de um ciclo mais cauteloso", avaliou o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.

Os contratos futuros e o câmbio puniriam a incapacidade do governo Temer de votar a Previdência de forma mais intensa, não fosse a grande liquidez no ambiente externo, acrescentou o economista.

"O país está ficando mais vulnerável, mas como lá fora está tudo bem, o adiamento não tem um impacto tão grande."

A concentração de esforços do governo na aprovação da reforma da Previdência neste ano também colocou em segundo plano um conjunto de medidas de ajuste fiscal necessárias para cumprir a meta de déficit primário de 159 bilhões de reais no ano que vem. Agora, há baixíssimas chances de que elas sejam aprovadas, segundo os economistas.

O governo desejava reonerar a folha de pagamento de empresas, mudar a tributação de fundos fechados, adiar o reajuste do funcionalismo e elevar a contribuição previdenciária dos servidores, mas há risco de nenhuma dessas medidas ser aprovada no Congresso Nacional neste ano.

Sem elas, o governo terá que bloquear 21,4 bilhões de reais do Orçamento do ano que vem, o que deverá ter impacto significativo sobre investimentos e no funcionamento da máquina pública.

Este cenário indica que o governo enfrentará dificuldades para cumprir a meta fiscal no ano que vem e investidores ficarão ainda mais cautelosos sobre a capacidade de solvência do país durante o período de escolha do futuro presidente da República no ano que vem, afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

"O mais engraçado é que se não tiver reforma da Previdência, não vai ter nem dinheiro para as emendas ... é a nossa realidade: o jogo político se sobrepondo às necessidades econômicas. Porque é um risco de solvência para o país", disse.

"Neste cenário de postergação da reforma, deixando embaixo do tapete, o custo vai aumentando, posterga recuperação da economia, daí volta a ter desconfiança de investidores, agências de classificação começam a discutir rebaixamento da nota, inflação pode voltar ... tudo aqui que não deveria acontecer."

Novos adiamentos da votação da reforma podem colocar em risco a viabilidade do teto de gastos e a estabilização da dívida no médio prazo, disse a Fitch Ratings em comunicado.

Para Samar Maziad, vice-presidente e analista sênior da Moody´s, não votar o texto neste ano "aumenta a possibilidade de que a reforma não seja aprovada no ano que vem, dada a incerteza em torno das eleições presidenciais".

Por se tratar de emenda constitucional, a reforma deve ser aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados, com o mínimo de 308 votos, antes de ser enviada ao Senado, onde passa por nova análise.

Apesar do adiamento, Planalto adota discurso otimista para aprovar reforma da Previdência em 2018

BRASÍLIA (Reuters) - Apesar do adiamento da votação da reforma da Previdência na Câmara para fevereiro de 2018, o Palácio do Planalto vai adotar um discurso otimista e manter a pressão sobre a base aliada a fim de garantir os votos necessários para aprovar a proposta, afirmou uma fonte palaciana à Reuters.

A avaliação do governo, segundo a fonte, é que o presidente Michel Temer terá mais dois meses para trabalhar a conquista de novos apoios entre deputados para ter os 308 votos para passar o texto na Câmara.

Até lá, os governistas no Planalto e no Congresso devem reforçar a campanha em favor da reforma nos meios de comunicação, intensificar o contato com os parlamentares para conquistar apoios e até mesmo propor novas modificações ao texto apresentado pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA) há três semanas, com aval do governo, ponto esse que já gerou atrito entre envolvidos diretamente na discussão da matéria.

No governo, o discurso é que a pauta da reforma não sairá da agenda dos parlamentares, somente porque 2018 é um ano de eleições gerais. E que todos os candidatos a cargos eletivos, caso a proposta não passe, terão de se posicionar sobre o tema na campanha.

Por ora, segundo a fonte palaciana, o texto apoiado pelo governo é o apresentado pelo relator. Mas nesta quinta-feira, dia em que foi oficializado o adiamento da votação da próxima semana para o dia 19 de fevereiro, tanto Arthur Maia quanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiram a possibilidade de novas concessões à matéria.

O principal ponto suscetível a mudanças, conforme o relator, é o que diz respeito à regra de transição para servidores públicos que ingressaram nas carreiras antes de 2003, reivindicação feita pela bancada do PSDB e discutida pessoalmente pelo presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) em reunião com Rodrigo Maia na manhã desta quinta-feira pela manhã.

Eventuais novas mudanças, entretanto, já contaram com a oposição pública do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Segundo ele, o governo não está aberto a novas alterações ao texto.

O governo vai buscar novamente aumentar os apoios das bancadas. Segundo a fonte palaciana, uma das principais queixas é que, apesar do discurso, os tucanos indicaram um apoio aquém do desejado em favor da proposta, mesmo com o fechamento de questão: cerca de 30 votos dos 46 para a bancada. Isso, numa avaliação, inibiu o "efeito manada" que poderia ocorrer na reta final da votação da matéria -a contabilidade de apoios, no momento, gira em torno de 275 a 285 votos.

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse à Reuters que discorda da avaliação de responsabilizar o PSDB pela não votação da matéria. Ele disse que o calendário de apreciação da matéria ficou apertado em razão da paralisia da Câmara para discutir as duas denúncias contra Temer feitas pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Perondi acredita que, com mais tempo, o apoio dos parlamentares à proposta vai aumentar e será possível aprovar a matéria em fevereiro. Citou ainda como argumento de que o jogo está virando a favor do governo o fato de pesquisas de opinião pública estarem registrando uma menor rejeição à reforma por parte da população.

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, também disse que o recém-eleito novo presidente do PSDB, o governador paulista, Geraldo Alckmin, vai ter tempo para conquistar apoios em favor da reforma no partido. Também preferiu dividir a responsabilidade para aprovação da reforma com toda a base e avaliou ainda que seria difícil articular a votação da proposta na próxima semana com o presidente está hospitalizado -ele está internado desde a véspera e foi submetido a um procedimento médico.

Temer deverá retornar à atividade nesta sexta-feira e dar posse ao deputado Carlos Marun (PMDB-MS) no cargo de ministro da Secretaria de Governo.

"O nosso Tite estava na enfermaria no momento decisivo", disse Jefferson, numa comparação do presidente com o técnico da seleção brasileira. Segundo ele, com Marun no cargo e Temer de volta à articulação, será possível cabalar novos apoios em prol do texto.

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Fonte:
Reuters

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