BC corta Selic em 0,5 ponto, à nova mínima de 5,50%, e sinaliza afrouxamento adiante

Publicado em 18/09/2019 18:38

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Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 5,50% ao ano, dando sequência ao ciclo de afrouxamento monetário em meio à débil recuperação econômica, num processo que deve seguir adiante, segundo sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em comunicado, o BC deixou de considerar o cenário externo benigno. E, ao detalhar seu balanço de riscos para a inflação, a autoridade monetária não ressaltou mais qual dos fatores tem mais peso em sua análise, após frisar em comunicações prévias que o risco ligado à frustração nas reformas era "preponderante".

Tudo considerado, o Copom do BC indicou que um novo corte da Selic deve ser feito à frente, ao manter em sua comunicação trecho em que assinala que "a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo".

Para o economista Thomaz Sarquis, da Eleven Financial Research, o BC mostra inclinação "muito forte" de continuar reduzindo os juros. Mas ele avaliou que a retirada da avaliação do risco ligado às reformas como preponderante pode ter sido precipitada.

"Na nossa visão, esse risco continua bastante preponderante. A gente entende que o mercado e o BC estão subestimando risco fiscal", disse.

Em nota, a economista Camila Abdelmalack, da CM Research, avaliou que o ciclo de cortes na Selic deve ser de no mínimo 150 pontos-base. Ou seja, com espaço para redução de mais 0,5 ponto Selic até o fim deste ano.

Para ela, as projeções para inflação atualizadas pelo BC corroboram essa leitura. A autoridade monetária agora vê o IPCA a 3,3% em 2019 no cenário de mercado, sobre 3,6% em sua última projeção, feita em julho. Para 2020, a estimativa recuou a 3,6%, contra 3,9% anteriormente.

Nos dois casos, as estimativas ficaram ainda mais longe da meta de inflação, que é de 4,25% este ano e 4,0% no próximo, nos dois casos com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

PANO DE FUNDO

Esta foi a segunda diminuição seguida da Selic, levando a taxa à nova mínima histórica. Em pesquisa Reuters com 30 economistas, 28 previam um corte nessa magnitude, enquanto um apostava em manutenção e outro em redução mais tímida, de 0,25 ponto.

A decisão teve como pano de fundo um cenário externo carregado por mais turbulências, enquanto o quadro doméstico seguiu marcado por lenta tração da economia e comportamento favorável da inflação, além de prosseguimento na tramitação da reforma da Previdência no Senado.

Sobre o front externo, o BC afirmou que "a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes".

Mas ponderou que o cenário segue incerto e que riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem. Nos últimos dias, o mundo assistiu à disparada das cotações de petróleo, após ataques no sábado às unidades da petroleira Aramco na Arábia Saudita.

O movimento tem o potencial de elevar o preço de combustíveis e, por conseguinte, pressionar a inflação para cima. No Brasil, a Petrobras informou que não adotará nenhuma medida por ora, mas que observará as condições de mercado nos próximos dias e tomará uma decisão sobre preços no momento adequado.

O dólar, outro elemento que tem influência nos preços domésticos pelo potencial de encarecimento das importações, tem mostrado comportamento volátil, reagindo às tensões geopolíticas, aos desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China e às perspectivas para os juros básicos norte-americanos.

Assim como ocorreu em julho, a decisão do BC coincidiu com a que foi tomada pelo Federal Reserve (banco-central dos EUA) também nesta quarta-feira. O Fed cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual pela segunda vez este ano, em decisão amplamente esperada.

Quanto à situação interna, o BC informou que seu cenário supõe retomada da economia brasileira em ritmo gradual. Também imprimiu alguma convicção adicional a sua leitura, ao dizer que indicadores recentes sugerem a retomada, e não mais a possibilidade de retomada da atividade.

Com a economia em lento compasso de recuperação, as pressões inflacionárias têm sido limitadas no país. Nos 12 meses até agosto, o IPCA acumulou alta de 3,43%, numa aceleração sobre o acumulado até junho, mas ainda guardando boa folga em relação à meta oficial.

Na mais recente pesquisa Focus, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a estimativa para a Selic até o fim de 2020 foi cortada a 5%, o que indica expectativa de estabilidade da taxa básica de juros ao longo do ano que vem, uma vez que os profissionais já veem o juro básico em 5,00% ao fim de 2019. A próxima reunião do Copom acontece em 30 de outubro.

 

(Com reportagem adicional de Gabriel Ponte)

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Fonte:
Reuters

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