Agronegócio argentino teme retrocesso com vitória do peronista Alberto Fernández

Publicado em 29/10/2019 10:38

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O setor produtivo da Argentina está reavaliando todas as suas estratégias depois do resultado das eleições presidenciais no último domingo (27). O candidato Alberto Fernández levou a presidência de Maurício Macri e traz junto como sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner. E quando presidente, Cristina teve sérios problemas com o agronegócio argentino, incluindo produtores rurais, entidades de classe e e instituições. 

A Sociedade Rural Argentina (SRA) já se posicionou dizendo que espera que o novo governo permita que o setor "produza sem distorções", segundo noticia o portal local Infocampo. Afinal, a instituição já havia declarado, durante a campanha, seu apoio a Macri, que visava o fim das chamadas 'retenciones' até 2021. Desde que foi eleito, o presidente já vinha reduzindo a porcentagem das tarifações, o que sempre foi uma de suas promessas de campanha. 

"Nossa expectativa é alcançar, por meio de um diálogo responsável, no marco do respeito à Constituição Nacional, as liberdades e formas do modelo republicano e com base em políticas apropriadas que nos permitam fazer o que sabemos melhor no campo: produzir sem distorções, sem obstáculos ou intervenções de qualquer tipo, gerando trabalho e desenvolvimento no território nacional ”, afirmou a SRA em seu posicionamento na sequência do fim das eleições.

Carlos Achetoni, presidente da Federação Agrária da Argentina, por meio de um comunicado enviado à imprensa local, parabenizou Alberto Fernández pela vitória e disse que "o diálogo está aberto e que os produtores estão dispostos a trabalhar ainda com os pequenos e médios agricultores". Falou ainda em trabalho articulado e cooperação para os próximos anos. 

O Infocampo trouxe ainda um balanço dos números oficiais da eleição mostrando como votou o campo e na maior parte da região produtora Macri teve mais votos que Fernández. O atual presidente obteve virtória em Córdoba, Santa Fé e Entre Rios, enquanto o presidente eleito foi o favorito nas províncias de Buenos Aires e La Pampa. 

A agência internacional Bloomberg trouxe em manhchete que o resultado das eleições presidenciais pode ser "um golpe para os produtores". Ainda segundo a agência, agora os investidores no campo argentino esperam pelas mudanças nas políticas públicas destinadas ao setor e espera mais clareza sobre elas. 

O que se espera, afinal, é que o novo governo, como é típico dos peronistas na Argentina, traga mais intervenção nos diversos setores da economia, como alguns programas que já foram anunciados. Entre eles estão o congelamento de preços, aumento de salários - em um momento em que o país luta para cumprir seus compromissos com o FMI - a redução do limite de compra de dólares de US$ 10 mil para US$ 200 por mês por pessoa, como já foi anunciado pelo Banco Central.

MAIS TRIBUTOS

A Bloomberg destaca ainda mais a questão das tributações e afirma que os produtores rurais esperam que o governo Fernández aumente as tarifas sobre exportações agrícolas e de carne, aumentando a arrecadação em cerca de US$ 20 bilhões no ano para um fundo social destinado ao pagamento de dívidas de serviços e gastos sociais. 

Já nessa expectativa, os produtores rurais têm incrementado suas vendas para os traders, evitando os tributos mais altos. Dessa forma, o ritmo das vendas está duas vezes maior do que o normal. Atualmente, as exportações de soja já são taxadas em 25% e o milho, o trigo e a carne bovina em 7%. 

TRIBUTOS X EXPORTAÇÕES

O presidente eleito já se posicionou sobre um desejo de aumentar as exportações argentinas. Por outro lado, afirma, ao lado de demais membros de sua equipe que se preocupa com o fato de as exportações fortes provoquem altas intensas nos preços internos dos alimentos, pesando ainda mais sobre a inflação que já é de 54%. Qualquer movimento do novo presidente, portanto, poderia provocar uma diminuição no bom ritmo dos embarques argentinos. 

"Eu me preocupo com o caminho que estamos seguindo. Precisamos de acesso aos mercados globais", disse à Bloomberg o produtor rural Santiago Fernandez, de Córdoba.

Da mesma forma, se espera ainda que por conta dos custos menores para a produção de soja e diante de tantas incertezas, os agricultores argentinos se voltem mais à cultura da oleaginosa em detrimento de outras. À agência internacional, o consultor em agronegócios Gustavo Lopez disse que a Argentina "pode voltar a ter uma monocultura de soja". 

Com informações da Bloomberg, do Infocampo e da Revista Chacra

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Dalton Catunda Rocha

    Para quem não sabe, Juan Domingo Peron (1895 - 1974) já tinha estabelecidos as "retenciones" (retenções), ainda nos anos 1940. E tal política foi um fiasco... Os argentinos nunca esquecem. mas também nunca aprendem.

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