Se comércio reabrir agora, "não vai ter cliente", diz Luiza Trajano

Publicado em 31/03/2020 21:41

SÃO PAULO (Reuters) - A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza , Luiza Trajano, defendeu nesta terça-feira que empresários do país mantenham por ora o nível de emprego ante a crise disparada pelo coronavírus no Brasil e que os recursos prometidos por governos federal e estaduais cheguem rapidamente à população.

"Estou pedindo para as pessoas terem calma... O governo está propondo medidas, muitas coisas que elas acham que vão ter de pagar no dia 10, não vão precisar", disse Trajano em webconferência organizada pela XP Investimentos.

Para Luiza, "não tem outra forma de sairmos dessa, temos que fazer um trabalho coletivo, e as empresas não devem demitir neste momento e o governo tem que injetar dinheiro neste momento".

A executiva afirmou ainda que as medidas de injeção de recursos na economia tomadas pelo governo federal e por alguns Estados precisam ser executadas rapidamente. "Tem que fazer rápido e aprovar rápido para chegar na ponta, para dar tranquilidade para as pessoas e para que elas possam entrar em outro ciclo."

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça-feira que medidas emergencias destinadas à saúde das pessoas já estão em 200 bilhões de reais e podem subir. Ele comentou ainda que o governo federal deverá injetar na economia nos próximos dois a três meses 800 bilhões de reais.

Segundo Luiza, a crise desencadeada pelo coronavírus é "10% de quando o Collor confiscou a poupança", disse ela em referência à década de 1990, quando o governo do então presidente Fernando Collor confiscou recursos da poupança de milhões de brasileiros em uma polêmica tentativa de controlar a inflação no país.

"As pessoas ainda podiam ir nas lojas. Agora elas devem ficar em casa... Não tem nada nem perto do que estamos vivendo agora. É uma mudança profunda de paradigma", disse a empresária.

A executiva afirmou ainda que o Magazine Luiza lança na noite desta terça-feira um sistema para permitir a venda online de produtos por parte de vendedores da rede e autônomos que estejam em quarentena em casa. Ela não deu detalhes.

Luiza também afirmou que não adianta o comércio reabrir as portas agora, como defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e uma série de setores privados do país.

"Se abrir, não vai ter cliente, porque as pessoas estão morrendo de medo. O que precisamos agora é de um pouco de previsibilidade (sobre o fim da quarentena) a partir de segunda-feira", disse a executiva durante a transmissão da XP. Ela lembrou a posição do presidente-executivo do grupo de varejo, Frederico Trajano, que afirmou que o Magazine Luiza "foi um dos primeiros a fechar (as lojas) e seremos um dos últimos a reabrir".

(Por Alberto Alerigi Jr.)

Economia vai começar a melhorar no último trimestre, diz Campos Neto

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, previu nesta terça-feira que a economia brasileira vai começar a melhorar a partir do último trimestre do ano, com recuperação "boa" em 2021.

Campos Neto disse que o BC vai revisar sua projeção para variação real do PIB neste ano, atualmente em zero.

"Eu acho que é difícil fazer uma previsão, mas nós entendemos que no último trimestre já vai estar começando a melhorar e no ano que vem é um ano de recuperação boa", disse Campos Neto em entrevista à CNN Brasil.

Ele citou que a economia vinha dando sinais de retomada, mas que houve uma interrupção como se tivesse "caído um meteoro".

O governo estima variação positiva do PIB de 0,02% para este ano, mas o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, já disse que a previsão do Ministério da Economia pode estar defasada.

No mercado, a expectativa é que o PIB retraia 0,48%, pela mediana das estimativas da pesquisa Focus do BC. Mas algumas casas já preveem contração de mais de 3%.

Na entrevista desta terça, Campos Neto disse que a situação atual da economia pede algum tipo de estímulo fiscal e lembrou que as medidas já anunciadas pelo BC podem injetar 1,2 trilhão de reais no sistema financeiro nacional.

Questionado sobre o prazo para elaboração da Medida Provisória que trata da linha emergencial de crédito a ser operacionalizada pelo BNDES para financiar a folha de pagamento de empresas, Campos Neto disse que a MP deverá "sair" até a quarta e que ainda está dentro do prazo.

"Acho que nós estamos confiantes de que na semana que vem já teremos algo de concreto nesse sentido", disse.

O programa, anunciado na sexta-feira passada, soma 40 bilhões de reais para financiar por dois meses a folha de pagamento das pequenas e médias empresas com recursos do Tesouro e dos bancos, para fornecer respiro de caixa às companhias em meio à pandemia do coronavírus.

 

CÂMBIO E POLÍTICA MONETÁRIA

Campos Neto voltou a defender o que chamou de princípio da separação --em que o câmbio é flutuante, o instrumento da política monetária é a taxa de juros e as medidas macroprudenciais atuam para a estabilidade do sistema financeiro--, mas reconheceu que, "no limite", existe alguma conexão entre esses fatores.

O presidente do BC frisou que a autoridade monetária tem um arsenal "muito grande" para o câmbio, que o BC está bem preparado, mas sem ter o objetivo de defender nível de câmbio, e sim de manter a funcionalidade do mercado.

Campos Neto lembrou ainda os 60 bilhões de dólares em linhas de swap com o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) e destacou que o real tem oscilado "junto" com outras moedas de mercados emergentes.

O dólar fechou perto de 5,20 reais nesta terça-feira e saltou mais de 29% no primeiro trimestre, com o real encabeçando a lista de perdas entre 34 rivais do dólar no período.

Sobre o uso da Selic como forma de estimular a economia, Campos Neto ponderou que, para que esse instrumento tenha eficácia, é preciso credibilidade e que influencie a curva de juro de forma que gere liquidez.

"Se não existir credibilidade, o movimento da Selic vai ter pouco valor, porque não é a Selic que determina as condições financeiras", disse.

A curva de DI projeta 100% de chance de outro corte de 0,25 ponto percentual na meta Selic até junho. A Selic está atualmente em 3,75% ao ano, mínima histórica.

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Fonte:
Reuters

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