Economia brasileira começa a sentir impactos do coronavírus, dizem analistas

Publicado em 04/04/2020 12:19

BRASÍLIA (Reuters) - A economia brasileira já começa a sentir os primeiros sinais de impacto da propagação do coronavírus, a julgar por dados recentemente divulgados, disseram analistas de bancos nesta sexta-feira.

"Em linha com a queda dos indicadores de confiança, os dados têm apresentado recuos relevantes no mês passado", disse o Bradesco em nota.

O Bradesco citou em relatório queda em março no número de emplacamentos de veículos na comparação ao mês de fevereiro, segundo dados da Fenabrave. Os licenciamentos de veículos novos no país no mês passado recuaram 18,6% na comparação com fevereiro e desabaram quase 22% frente a março de 2019.

Ainda de acordo com o banco, outros indicadores devem apontar declínios semelhantes em março, o que é "compatível" com retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre.

Para a próxima semana, o Bradesco chamou atenção para dados da Anfavea sobre produção de veículos em março e para o IPCA, com ambos devendo mostrar efeitos do coronavírus.

O UBS ressaltou o tombo de 15,9 pontos no Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) para o setor de serviços do Brasil no mês de março, uma queda recorde. O dado veio depois de números do PMI industrial, que mostraram contração no setor pela primeira vez em 8 meses.

"Para março, prevemos fortes quedas mensais nas vendas do varejo, setor de serviços e atividade econômica como um todo", disseram em relatório os economistas Fabio Ramos e Tony Volpon.

Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, o impacto do Covid-19 sobre os PMIs, indicadores de confiança do consumidor e empresarial e dados de alta frequência (com mais divulgações) para a atividade é "vísível e grande".

"À frente, esperamos que os PMIs diminuam ainda mais, já que a economia, particularmente os setores de serviços, sofre os ventos contrários de uma recessão global e doméstica devido ao impacto econômico e social do surto de Covid-19", disse Ramos em nota.

PROJEÇÕES PARA 2020

Com os impactos do Covid-19 começando a mostrar as caras, algumas instituições têm reduzido ainda mais suas estimativas para a performance da economia durante o ano.

O UBS informou nesta sexta revisão de sua estimativa para o desempenho do PIB deste ano, prevendo agora contração de 2%, ante prognóstico anterior de expansão de 0,5%.

Na quinta, o Bank of America piorou a estimativa para o desempenho da economia brasileira em 2020, de uma projeção que já era negativa, passando a ver retração de 3,5%, ante redução de 0,5% prevista anteriormente.

Em meados de março, JPMorgan (-1,0%), Goldman Sachs (-0,9%), Itaú Asset Management (-0,3%) e Itaú Unibanco (-0,7%) previam encolhimento da economia neste ano.

Também em março, estudo da FGV apontou que o PIB poderia retrair 4,4% em 2020 por causa dos efeitos do coronavírus. O Ipea projeta declínio de até 1,8%.

No mercado, a expectativa é que o PIB caia 0,48%, pela mediana das estimativas da última pesquisa Focus do Banco Central.

O governo (+0,02%) e o Banco Central (zero) veem crescimento nulo. Mas o BC já admitiu que revisará seu cenário.

UBS passa a ver contração de 2% no PIB brasileiro em 2020, corta projeção para 2021

SÃO PAULO (Reuters) - O banco suíço UBS reduziu nesta sexta-feira sua previsão para o desempenho da economia brasileira em 2020, passando a ver contração de 2%, ante estimativa anterior de crescimento de 0,5%, devido à expectativa de um fraco primeiro semestre e a uma possivelmente apática recuperação à frente.

O UBS projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil sofrerá um tombo de 20% no segundo trimestre sobre os três meses anteriores. Entre janeiro e março, a queda será de 3,6%.

Antes, o banco estimava retração de 15% e 1%, respectivamente.

A instituição financeira projeta um segundo semestre com números melhores, com o PIB crescendo 17% no terceiro trimestre e 5% no quarto.

Mesmo prevendo expansão da economia em 2021, o UBS rebaixou a projeção --agora, o banco prevê alta de 3% do PIB no ano que vem, contra 4,9% antes.

"Esse cenário pressupõe que as formas mais intensas de distanciamento social começam a terminar em maio. Uma extensão para além de maio provavelmente levará a um crescimento abaixo do previsto", afirmaram os economistas Fabio Ramos e Tony Volpon, em relatório.

Na quinta-feira, o Bank of America (BofA) também piorou suas estimativas para a economia brasileira, esperando que o PIB retraia 3,5% em 2020, ante expectativa anterior de redução de 0,5%.

O BofA rebaixou ainda a projeção para a Selic a 2,75%. A taxa básica está em 3,75% ao ano, já uma mínima recorde. O UBS já havia cortado sua estimativa para o juro, passando a ver a Selic em 3,00% nos próximos meses.

Possivelmente chegaremos a R$ 1 tri em medidas nas próximas semanas ou meses, diz Guedes

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta sexta-feira que os programas para combate ao coronavírus devem chegar a 1 trilhão de reais nas próximas semanas ou meses, pontuando que o déficit primário já está em 6% do Produto Interno Bruto (PIB).

"(Programas) já passaram dos 800 bilhões, possivelmente chegarão a quase 1 trilhão de reais ao longo das próximas semanas ou meses, por isso é que nós precisamos não só dessa blindagem jurídica, mas dessa blindagem legislativa", afirmou ele, em coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

O ministro não especificou quais iniciativas entram na conta dos 800 bilhões de reais.

Na véspera, a equipe econômica divulgou que as medidas que têm impacto nas contas públicas somam 224,6 bilhões de reais até agora e que a expectativa de déficit primário é de 419,2 bilhões de reais neste ano, equivalente a 5,55% do PIB.

De lá para cá, o governo não anunciou nenhum programa novo.

Questionado sobre os números, o Ministério da Economia não se manifestou imediatamente.

Em pronunciamento, Guedes fez um apelo pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do chamado orçamento de guerra, que dá flexibilidade para o governo descumprir a regra de ouro, que impede o endividamento para pagamento de despesas correntes.

O ministro também disse considerar oportunismo político qualquer crítica de que houve demora na atuação do governo federal.

"Peço que haja espírito de união em torno do lema de que nenhum brasileiro será deixado pra trás. Defesa da saúde e dos empregos está acima de quaisquer diferenças", afirmou ele, completando que, daqui a três a quatro meses o barulho natural de uma democracia pode voltar, mas que agora é hora de não explorar politicamente os problemas.

"Peço cooperação e acho que teremos, pela gravidade da crise, e chamo atenção para tamanho, magnitude dos recursos que estão sendo mobilizados", afirmou.

Guedes disse que esse movimento nunca foi feito antes, tampouco com velocidade tão grande. Também defendeu que nenhum país emergente atuou com essa rapidez e com esse volume de recursos.

Desaceleração global por coronavírus será "muito pior" do que crise financeira, diz FMI

WASHINGTON/GENEBRA (Reuters) - A pandemia de coronavírus tem levado a economia global à estagnação e mergulhado o mundo em uma recessão que será "muito pior" do que a crise financeira global de uma década atrás, disse a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta sexta-feira.

Durante uma rara coletiva de imprensa conjunta com a líder da Organização Mundial da Saúde (OMS), a diretora-administrativa do FMI, Kristalina Georgieva, solicitou às economias avançadas que intensifiquem seus esforços para ajudar os mercados emergentes e os países em desenvolvimento a sobreviverem ao impacto econômico e de saúde decorrente da pandemia.

"Esta é uma crise como nenhuma outra", disse ela a cerca de 400 repórteres em uma teleconferência. "Testemunhamos a economia mundial parada. Estamos agora em recessão. É muito pior do que a crise financeira global" de 2008-2009.

Mais de 1 milhão de pessoas foram infectadas com o novo coronavírus e mais de 53 mil morreram, de acordo com uma contagem da Reuters nesta sexta-feira.

Georgieva disse que o FMI está trabalhando com o Banco Mundial e com a OMS para adiantar seus pedidos à China e a outros credores bilaterais oficiais para que suspendam a cobrança de dívidas dos países mais pobres por pelo menos um ano até a pandemia amainar.

Ela disse que a China tinha se engajado "construtivamente" no assunto, e o FMI elaborará uma proposta específica nas próximas semanas com o Clube de Paris das nações credoras, o Grupo das 20 principais economias do mundo e o Banco Mundial para revisão nas Reuniões Anuais da Primavera, que serão realizadas online em cerca de duas semanas.

Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento foram duramente atingidos pela crise, disse Georgieva, observando que quase 90 bilhões de dólares em investimentos já haviam saído de mercados emergentes, valor muito maior do que durante a crise financeira. Alguns países também estavam sofrendo quedas acentuadas nos preços das commodities.

Mais de 90 países, quase metade dos 189 membros do FMI, solicitaram um financiamento de emergência ao Fundo para responderem à pandemia, afirmou ela.

O FMI e a OMS têm solicitado que a ajuda de emergência seja utilizada principalmente para aperfeiçoar os sistemas de saúde, pagar médicos e enfermeiros e comprar equipamentos de proteção.

Georgieva disse que o Fundo está pronto para usar o máximo de seu "baú de guerra", de 1 trilhão de dólares, em capacidade financeira, conforme necessário.

O FMI começou a desembolsar fundos para os países solicitantes, incluindo Ruanda, com pedidos de mais dois países africanos para serem analisados ​​nesta sexta, disse ela.

"Esta é, no curso da minha vida, a hora mais sombria da humanidade --uma grande ameaça para o mundo inteiro-- e exige que permaneçamos elevados, unidos e protegendo os mais vulneráveis ​​de nossos companheiros cidadãos", disse ela.

Ela disse que os bancos centrais e os ministros das Finanças já tomaram medidas sem precedentes para mitigar os efeitos da pandemia e estabilizar os mercados, mas é necessário mais trabalho para manter a liquidez fluindo, especialmente para os mercados emergentes.

Para esse fim, a diretoria do Fundo irá analisar, nos próximos dias, uma proposta para criar uma nova linha de liquidez de curto prazo para ajudar a fornecer fundos para os países que enfrentam problemas. Ela também instou os bancos centrais, e particularmente o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), a continuarem oferecendo linhas de swap para as economias emergentes.

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Fonte:
Reuters

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