Dólar cai e real é destaque positivo no mundo em dia de atuação do BC

Publicado em 08/04/2020 19:15

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar teve firme queda nesta quarta-feira, de mais de 1,6%, com o real entre as divisas de melhor desempenho no mundo numa sessão positiva em mercados de risco de forma geral e com a percepção de que o Banco Central está mais disposto a intervir para defender o câmbio.

Pelo segundo dia consecutivo, o BC disponibilizou dinheiro "novo" ao mercado de câmbio via oferta líquida de contratos de swap cambial tradicional. A operação desta quarta foi anunciada quando o dólar estava em torno das máximas do dia, mas apenas em leve alta. Na véspera, o BC informou a realização de leilão de swap mesmo com o dólar já em queda.

A oferta desse derivativo nesta sessão ocorreu depois de o presidente do BC, Roberto Campos Neto, dizer que a autoridade monetária está preparada para atuar a qualquer momento e de forma muito mais forte no mercado cambial --se necessário.

"Estamos preparados, as reservas são grandes", afirmou. "Temos atuado e podemos, a qualquer momento, atuar muito mais forte do que temos atuado até então."

Para Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, as palavras de Campos Neto --junto às atuações no mercado-- representam uma mudança de discurso do BC. "O BC só sinalizou que a teoria que ele tinha de não intervir e manter a banda flutuante não vale mais", disse Velloni.

O BC sempre procurou deixar claro que intervém no mercado de câmbio para corrigir distorções provocadas, entre outros motivos, por problemas de liquidez, sem visar interferir no patamar da taxa cambial, já que o regime é de câmbio flutuante.

O swap cambial tradicional é um derivativo cuja venda funciona como uma injeção de liquidez no mercado futuro de câmbio. Sua colocação ajuda a saciar demanda por moeda e, assim, a reduzir a pressão sobre o preço do dólar.

O BC tem feito neste ano venda de dólar via swaps, oferta de moeda no mercado spot e por linhas de moeda. Apenas em swaps, a autoridade monetária já colocou em abril 962 milhões de dólares em dinheiro "novo" --que exclui rolagens. No ano, a soma vai a 11,165 bilhões de dólares.

Mas a queda do dólar no Brasil também foi reflexo de um ambiente mais favorável a risco no exterior, onde a moeda dos EUA se depreciava contra várias divisas --como as de países emergentes e os dólares australiano e neozelandês. O real costuma oscilar em sintonia com esses ativos.

A ata do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) corroborou a fraqueza do dólar, à medida que sinalizou manutenção do juro baixo nos EUA por mais tempo e demonstrou uma percepção sombria da parte do colegiado do Fed sobre os impactos econômicos do coronavírus nos Estados Unidos.

Por fim, a decisão do senador norte-americano Bernie Sanders de suspender a campanha pela indicação presidencial democrata para as eleições deste ano também amparou a busca por risco no mundo, ajudando a baixar o dólar. Sanders se declara socialista, e suas propostas são vistas com desconfiança pelo mercado.

No fechamento das operações no mercado à vista, o dólar caiu 1,63%, a 5,1432 reais na venda. Na mínima do dia, a cotação desceu a 5,1394 reais (-1,70%).

Na B3, o dólar futuro de vencimento mais próximo tinha queda de 1,84%, a 5,1350 reais, às 17h43.

Dólar à vista recua para R$ 5,1430, menor marca em duas semanas (no Estadão)

Acompanhando o movimento de busca por risco e a recomposição de portfólio no mercado internacional, o dólar teve sua terceira sessão consecutiva de queda, no menor nível desde 27 de março (R$ 5,1025). Encerrou o dia na marca dos R$ 5,1430, recuando 1,60% - maior porcentual de queda em relação ao visto frente a boa parte de moedas de emergentes que se valorizaram. Hoje, no exterior, as moedas mostraram comportamento misto ante a divisa americana.

De acordo com Fernando Bergallo, da FB Capital, na medida em que os investidores enxergam o fundo do poço da crise, existe um movimento natural de recomposição de carteiras, uma vez que, com o juro real negativo nos Estados Unidos, é preciso buscar mais rentabilidade. Dessa forma, a trajetória do dólar também espelhou o bom comportamento no mercado acionário global. "Está havendo uma assimetria forte do dólar com as bolsas, justamente indicando esse apetite por risco", ressalta.

Em relatório divulgado hoje, o IIF projeta que o fluxo de capital para emergentes vai desacelerar "consideravelmente" em 2020, como resultado do impacto causado pelo coronavírus. "Desde o início do ano, os emergentes experimentaram fuga de capital recorde, maior do que durante qualquer crise recente. Uma combinação do choque da Covid-19 com a queda nos preços do petróleo provocou fuga de cerca de US$ 83 bilhões somente em março", diz o relatório.

Do ponto de vista local, hoje pela manhã, as declarações do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, enfatizando que o BC pode atuar de maneira mais pesada, se assim for necessário, ajudaram na valorização da divisa doméstica. A venda à vista de dólares ao mercado financeiro no mês de março somou US$ 10,674 bilhões.

O pano de fundo para as variações, tanto para cima como para baixo no câmbio, segue sendo o noticiário com relação à evolução da pandemia do coronavírus no mundo. "Há uma inclinação maior a posições de risco porque a percepção de redução da pandemia existe, mesmo que a subnotificação ainda seja um problema enorme Mas já é possível ver que, em 12 semanas, ocorre a curva da pandemia. Vimos isso na China e agora na Europa".

O Banco Central divulgou hoje que fluxo cambial da semana passada (de 30 de março a 3 de abril) ficou negativo em US$ 2,287 bilhões. E os bancos fecharam março com posição vendida no câmbio à vista de US$ 33,511 bilhões no mesmo período. No fim de fevereiro, essa posição estava vendida em US$ 38,912 bilhões.

 

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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