Bolsonaro diz que exibição de vídeo é "a última cartada midiática" da oposição

Publicado em 12/05/2020 19:19 e atualizado em 13/05/2020 06:30

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que não tem preocupação com investigações e que não falou as palavras Polícia Federal e superintendência durante a reunião ministerial do mês passado citada em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) em que, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente teria cobrado a troca do comando da PF.

Em duas entrevistas a jornalistas --na rampa do Palácio do Planalto e em frente ao Palácio da Alvorada--, Bolsonaro disse que as informações repassadas à imprensa sobre a reunião ministerial --que teve um vídeo mostrado às partes do processo nesta terça-feira na Polícia Federal-- estão erradas. Ele disse que durante a reunião só tratou do seu temor pela segurança da sua família.

Segundo Bolsonaro, o vídeo foi entregue à Justiça porque ele acredita na verdade. Ele afirmou que o material, por não ser oficial, deveria ter sido inclusive destruído.

"Tudo o que interessar ao processo, eu topo retirar o sigilo. Tudo sem exceção. Ao inquérito, né? Eu topo retirar, sem problema nenhum. Olha só, no vídeo todo, não sei se vocês vão reportar, o que interessa para o inquérito... eu digo mais, no vídeo todo não tem a palavra 'Polícia Federal', não tem a palavra 'Superintendência'", disse Bolsonaro em frente ao Alvorada.

Em reunião ministerial no dia 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro disse que, segundo uma fonte com conhecimento do vídeo do encontro, a perseguição a seus familiares justificaria a troca do então superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e indicou que, se ela não fosse efetivada, trocaria o diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo então ocupado por Sergio Moro.

Segundo depoimento prestado por Moro no âmbito de investigação sobre as acusações que fez contra Bolsonaro, o presidente teria dito na reunião que iria interferir em todos os ministérios e, quanto à pasta da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça.

No Planalto, o presidente disse nesta terça que o vídeo é "a última cartada midiática".

"Eu não escondo nada de ninguém. Expectativa? Olha, o depoimento do Moro, com todo respeito, né? Quem leu, e leu com isenção, viu que não tem acusação nenhuma. O do Valeixo, a mesma coisa. Esse vídeo agora é a última cartada midiática usando da falácia, da mentira, para tentar achar que eu tentei interferir na PF (Polícia Federal)", disse Bolsonaro.

ATIVIDADES ESSENCIAIS

O presidente voltou a defender sua decisão de incluir academias e salões de beleza como atividades essenciais e a criticar os governadores que estão adotando medidas duras de isolamento social.

"Olha, o caminho para quem não quiser cumprir decreto (sobre atividades essenciais) tem dois: uma ação na Justiça ou projeto de decreto legislativo no Congresso. Ponto final. Fora isso, fora isso, é a mesma coisa que eu desobedecer uma ordem do Supremo. É a mesma coisa", disse.

"A democracia se faz em cima dessa forma. Eu já entrei com projeto de decreto legislativo quando era deputado, no passado, contra decretos de presidentes", acrescentou.

Em reunião, Bolsonaro chamou Doria de ‘bosta’ (O Antagonista)

Fontes que assistiram ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril afirmam que, na ocasião, Jair Bolsonaro chamou de “bosta” João Doria, seu adversário político.

O presidente, sempre segundo essas fontes, também chamou de “estrume” pessoas do governo do estado do Rio –chefiado por outro inimigo seu, Wilson Witzel.

Em outros trechos, como já publicamos, Damares Alves falou na prisão de governadores e prefeitos, e Abraham Weintraub defendeu que os ministros do STF fossem presos.

Na reunião ministerial do dia 22, Jair Bolsonaro disse também que não aceitaria ser alvo de “impeachment” por causa da divulgação de uma “porcaria de exame” de Covid-19.

E ressaltou que ele é quem “comanda as Forças Armadas” e as usaria se preciso “para evitar um golpe”.

Damares pediu “punição” a governadores e prefeitos no contexto de “desvios de insumos durante a pandemia e violação de direitos”, citando como exemplo “atos truculentos contra idosos que não respeitarem as regras de isolamento e distanciamento social”.

Em depoimento, Heleno diz que Bolsonaro tentaria trocar segurança pessoal, se estivesse falha

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro disse na reunião ministerial do dia 22 de abril que, se sua segurança pessoal estivesse falha, "tentaria trocá-la" e que, "se não conseguisse, trocaria o chefe podendo chegar ao diretor e até o ministro".

No depoimento de Heleno não há nenhuma menção expressa a eventual troca na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, conforme havia alegado o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

A fala de Heleno segue a mesma linha do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, que afirmou que Bolsonaro, naquela reunião, havia revelado sua intenção de trocar a "segurança do Rio de Janeiro", referindo-se à segurança pessoal dele, a cargo do GSI, não tendo relação com a Polícia Federal. [nL1N2CV00E]

Moro acusa Bolsonaro de ter cobrado naquela reunião a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob ameaça de sua demissão assim como a do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

Os depoimentos dos ministros estão em linha com o que o próprio presidente disse na terça.

Em duas entrevistas, após a transmissão do vídeo a envolvidos no caso, Bolsonaro disse que em nenhum momento falou em Superintendência nem em Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22, indicando uma estratégia para tentar se desvincular das acusações de Moro.

Em seu depoimento, Heleno disse que Bolsonaro fez uma cobrança de "forma generalizada a todos os ministros na área de inteligência" na reunião ministerial. Segundo ele, a queixa seria da "escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo citações específicas à sua segurança pessoal", mencionando a Abin, a PF e o Ministério da Defesa.

Augusto Heleno disse ter tido conhecimento que o presidente cobrava maior desempenha da PF no Rio no combate à corrupção, inclusive envolvendo hospitais federais.

O ministro do GSI disse ainda que a mudança do cargo de diretor-geral da PF é uma "atribuição indiscutível" do presidente, que deveria ocorrer sem traumas.

Em depoimento, Braga Netto diz que Bolsonaro não se referiu à PF em reunião citada por Moro

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  • BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro havia revelado na reunião ministerial do dia 22 de abril sua intenção de trocar a "segurança do Rio de Janeiro", referindo-e à segurança pessoal dele, a cargo do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), não tendo relação com a Polícia Federal.

"Na perspectiva do depoente ao citar 'segurança do Rio', o presidente Jair Bolsonaro apenas fez referência como ilustração da insatisfação", disse Braga Netto, segundo o depoimento nesta quarta-feira no inquérito que investiga declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir politicamente no comando da PF, obtido pela Reuters com uma fonte.

O ministro da Casa Civil seguiu a linha das falas públicas do presidente de tentar se desvincular das acusações de Sergio Moro. O ex-ministro disse que, na reunião do dia 22, Bolsonaro cobrou-lhe a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob ameaça de sua demissão assim como a do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

Em duas entrevistas, após a transmissão do vídeo a envolvidos no caso, Bolsonaro disse que em nenhum momento falou em superintendência nem em Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22, dois dias antes do pedido de demissão de Moro.

Esse encontro --que teve um vídeo gravado-- é tratado como uma da principais provas para tentar confirmar as declarações do ex-ministro.

Contudo, em seu depoimento, Braga Netto disse que na reunião o presidente não chegou a expressar sobre substituição do superintendente da PF no Rio, "reservando-se a expressar a sua inquietude, como já dito, sobre os dados de inteligência do Sisbin, mais precisamente dos dados que deveriam se fornecidos pela Defesa Nacional e pela Abin".

"(...) A reclamação se tratava principalmente da demora do fornecimento de dados", disse o ministro, acrescentando não se recordar se o ministro do GSI, Augusto Heleno, tenha afirmado em qualquer oportunidade que o tipo de relatório de inteligência de interesse do presidente não poderia ser definido.

DIREÇÃO-GERAL

O ministro confirmou ter ido a uma conversa com Moro ao lado dos colegas de Planalto Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, titular da Secretaria de Governo, na véspera da demissão do então ministro da Justiça. Na ocasião, segundo Braga Netto, Moro afirmou que Bolsonaro havia dito que iria trocar Valeixo.

Braga Netto disse que Moro não concordava com a "interferência específica nessa substituição e teria uma biografia a manter". Segundo o ministro, ele e os demais colegas procuraram "acalmar" Moro, uma vez que sinalizou sua saída do governo caso se concretizasse tal troca.

O chefe da Casa Civil afirmou ainda que, para "acalmar" Moro, disseram "vamos conversar", destacando a necessidade de manter aberto o canal de comunicação entre todos. Segundo ele, entretanto, não houve compromisso de demover o presidente dessa intenção.

Braga Netto disse que não chegou a conversar com o presidente sobre o assunto, nem se o demais ministros o fizeram. Ele também afirmou que não buscou uma "solução intermediária" naquele dia para o comando da PF.

Bolsonaro diz que câmbio foi tratado em reunião ministerial, mas que não iria antecipar "informação privilegiada"

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse no início da noite desta terça-feira que o tema dólar foi discutido "um pouco" em reunião ministerial de mais cedo, mas que não poderia comentar sobre o assunto porque estaria adiantando algo "privilegiado", o que "prejudicaria" o mercado, deixando em aberto se o governo está avaliando medidas para o mercado de câmbio.

"Não posso falar em dólar porque é informação sensível, e eu estaria adiantando aqui algo privilegiado, que prejudicaria o mercado", disse Bolsonaro a jornalistas.

"Mas eu não vou entrar em detalhes para vocês porque, assim como na reunião de 30 dias atrás, essa que foi analisada hoje tinha informações sensíveis", afirmou Bolsonaro sobre a reunião do conselho de ministros nesta terça.

O comentário do presidente sobre câmbio veio em resposta a uma pergunta sobre a avaliação dele a respeito da alta do dólar nesta sessão, após revelações de conteúdo de vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril --a mesma citada pelo ex-ministro Sergio Moro ao acusar Bolsonaro de tentativa de interferência política na Polícia Federal.

O mercado reagiu às informações sobre o conteúdo do referido vídeo, e o dólar, que começou o dia em baixa, passou a subir com as notícias e fechou esta terça em novo recorde histórico, a 5,8657 reais na venda. 

A moeda norte-americana <BRBY> tem operado sob forte pressão de alta neste ano, intensificada nas últimas semanas pelo recrudescimento de tensões políticas. Em 2020, a alta do dólar é de 46,17%.

O movimento tem levado o Banco Central a fazer atuações no mercado de câmbio. Ainda assim, alguns analistas têm adotado tom mais crítico em relação ao que consideram ser uma postura mais branda do BC em relação à intensidade da desvalorização cambial.

O mais recente ponto de discórdia de alguns no mercado veio da decisão do BC de aprofundar o corte de juros na semana passada --que acelerou a depreciação do real.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu nos últimos meses que o patamar do câmbio é mais depreciado.

Alguns no mercado avaliam que a aparente menor preocupação com a alta do dólar combinada com vendas de reservas cambiais pelo BC e a intensificação de corte de juros pode ser parte de uma estratégia de redução da dívida pública, num momento em que o país vê deteriorada a percepção sobre as contas públicas.

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Fonte:
Reuters/O Antagonista

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