Teich: Navegamos em situação de incapacidade de enxergar o que vai acontecer

Publicado em 25/05/2020 07:20

O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou na noite deste domingo, 24em entrevista à Globonews que neste momento não se sabe o que vai acontecer com o coronavírus no Brasil, como a doença vai evoluir e quanto tempo vai durar. "Navegamos hoje em situação de absoluta incapacidade de enxergar o que vai acontecer pela frente."

Sobre o general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde após sua saída, Teich disse que o próprio militar afirmou que não tem intenção de permanecer no cargo. "A proposta dele, não sei como ficou, era que, depois que a pandemia passasse e a coisa se estabilizasse, eles voltariam e seriam substituídos", disse. "Não podemos ter um pré-julgamento porque ele é militar. Tenho que julgar se ele é competente ou não e para o que ele veio ele é competente."

O ex-ministro disse que Pazuello tem experiência com as Olimpíadas e com a Venezuela e por isso tinha condições de entrar no ministério em sua gestão, nomeado como secretário executivo. "Achava que ele tinha experiência em conduzir situações difíceis. Se eu não tivesse visto nele pessoa certa naquela posição, uma dos dois não ficaria, ou ele ou eu."

Teich minimizou a ida de vários militares para o ministério, ressaltando que é natural que Pazuello leve sua equipe.

Em diversos pontos da entrevista, que durou mais de 90 minutos, Teich afirmou querer evitar a polarização. Ele mencionou, por exemplo, a discussão do isolamento social e a economia. "Se tratou economia como se fosse dinheiro e não vida, eu trato a economia como gente, não como dinheiro."

Teich disse que Bolsonaro está preocupado "com as pessoas", mas talvez sua forma de comunicar isso, defendendo o fim do isolamento, não foi a boa. "Não vou julgar o presidente. Quem vai julgar o presidente é o futuro", disse ao falar de Bolsonaro "O que não faltou no meu período foi compaixão."

Por pouco se saber sobre a doença e os próximos passos, a tomada de decisão é frágil, porque você tem que trabalhar com dados ainda incertos. "Se os indicadores mostrarem que não foi a melhor decisão, volto a trás. Foi a melhor decisão naquele momento."

"Não foi a cloroquina, foi política"

Nelson Teich disse que não houve um alinhamento dele com o presidente Jair Bolsonaro, por isso sua decisão de deixar o governo. "Não foi a cloroquina, foi política", afirmou ao ser perguntado se o uso do remédio para combater a covid-19 foi o motivo de sua decisão.

"Na prática existia entre mim e o presidente uma diferença em como abordar o problema", afirmou o ministro. Teich disse que ainda não há estudos definitivos sobre a eficácia da cloroquina, que devem estar prontos "em duas, três semanas", inclusive no Brasil. Por isso, seria melhor esperar. "Aí fica mais fácil definir", disse ele. Mas Bolsonaro preferia antecipar a decisão de liberar o uso. "O problema não é a cloroquina, o problema é as suas escolhas."

"Para mim eu tinha que esperar pra tomar uma decisão. Não me senti pressionado, não tem pressão nenhuma", afirmou Teich. "Se tem coisas que não se sabe se funciona, eu não posso gastar dinheiro nisso, porque tenho pouco dinheiro." Por isso, disse ele, antecipar a decisão do uso da cloroquina teve peso em sua decisão de saída.

"O dinheiro da saúde é muito pouco para ser gasto em coisas que não funcionam", disse ele. Teich ressaltou que sempre conversou com Bolsonaro, por mais que tivesse problemas com ele e afirmou que não sofreu pressão e nem aceitaria ser pressionado.

"Ter divergência não é ter conflito, por isso que a saída foi confortável', disse Teich.

Bolsonaro esvaziou agenda contra corrupção, diz Moro

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro afirmou que faltou apoio do presidente Jair Bolsonaro a ações de combate à corrupção. "Me desculpe aqui os seguidores do presidente se essa é uma verdade inconveniente, mas essa agenda contra a corrupção não teve um impulso por parte do presidente da República", disse Moro em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibida na noite de domingo. Segundo o ex-juiz da Operação Lava Jato, medidas nesse sentido foram sendo "esvaziadas" pelo presidente.

Moro declarou ainda que considera "questionáveis" as recentes alianças feitas por Bolsonaro com os partidos do Centrão. O presidente tem se aproximado do bloco - e negociado cargos com o grupo - em troca de apoio no Congresso.

O ex-ministro também foi indagado sobre a condução da pandemia do novo coronavírus pelo presidente. Para Moro, que defende o isolamento social como principal medida de prevenção à covid-19, Bolsonaro adota postura "negacionista" em relação ao vírus. "Acho que a minha lealdade ao presidente demanda que eu me posicione com a verdade, com o que eu penso, e não apenas concordando com a posição do presidente. Se for assim, ele não precisa de um ministro, precisa de um papagaio", afirmou o ex-juiz ao comentar as divergências com o chefe do Executivo em relação à crise na Saúde.

O ex-juiz também comentou a reunião ministerial de 22 de abril, realizada dois dias antes de anunciar sua demissão do cargo e tornada pública na sexta-feira, e as mensagens reveladas pelo Estadão de que Bolsonaro já havia decidido trocar a direção da PF antes do encontro do dia 22. "Eu não ia discutir isso numa reunião ministerial, até porque o ambiente ali não era muito favorável ao contraditório." Em relação aos palavrões ditos durante a reunião, afirmou que "o tom subiu nos últimos meses".

Armas

Moro declarou também que a portaria que assinou, ainda ministro, que permite a aquisição de mais munição, foi resultado de "pressão" do presidente. "Certamente (que sim). Eu não queria que isso fosse usado como subterfúgio da interferência na Polícia Federal. Eu entendi naquele momento que não tinha condições de me opor a isso porque já existia essa querela envolvendo a Polícia Federal", disse o ex-ministro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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Fonte:
Estadão Conteúdo

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