Gen Ramos diz que comparação com Alemanha de Hitler é "infeliz"; governo discute suspeição de Celso de Mello

Publicado em 02/06/2020 00:08

BRASÍLIA (Reuters) - Enquanto o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, rebateu nesta segunda-feira um comentário do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que comparou a situação do Brasil, "guardadas as devidas proporções", com o que ocorreu na Alemanha nazista com Adolf Hitler, o governo discutiu internamente pedir o afastamento do magistrado do inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro.

"Comparar o nosso amado Brasil à 'Alemanha de Hitler' nazista é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz . A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria!", disse Ramos, em postagem no Twitter.

No domingo, foi revelado uma mensagem enviada pelo decano do STF a interlocutores em que ele disse que bolsonaristas querem instaurar uma "desprezível e abjeta ditadura militar" e compara a situação do Brasil, "guardadas as devidas proporções", com o que ocorreu na Alemanha nazista com Hitler, segundo uma fonte que teve acesso à mensagem, obtida pela Reuters.

Celso de Mello é o relator do inquérito que investiga se Bolsonaro, conforme acusou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, tentou interferir no comando da Polícia Federal. O presidente nega irregularidades.

Segundo uma fonte do governo, um ministro que tem participado das conversas sobre embates com o Supremo e esteve com o presidente nesta segunda avaliou o comentário de Celso de Mello como desnecessário.

Apesar disso, a avaliação é que, por ora, não há elementos concretos para se alegar a suspeição de Celso de Mello no Supremo. Esse pedido, se fosse realizado e aceito, retiraria dele a relatoria do inquérito contra Bolsonaro.

Já o líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), criticou publicamente a atuação do Celso de Mello nesta segunda em uma rede social e pediu que o ministro do STF se declare suspeito para comandar o inquérito.

"Quando um juiz assume postura enviesada e incita amigos a resistir a uma determinada corrente, deixa de ser magistrado e adentra a arena das paixões políticas; abandona, também, a imperiosa imparcialidade e deve, por lealdade ao país, declarar-se suspeito. Decano, dê o exemplo", disse ele, no Twitter.

O decano do Supremo tem sido um dos principais alvos das críticas do presidente e aliados dele no Supremo. No domingo, o gabinete dele informou que "a manifestação do ministro Celso foi exclusivamente pessoal".

Maia diz que não pode colocar "mais lenha" e responderá pedidos de impeachment no momento certo

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta segunda-feira que irá decidir no momento certo sobre os pedidos de impeachment apresentados contra o presidente Jair Bolsonaro, mas ressaltou que não se pode colocar mais lenha na fogueira e que está concentrado em tentar unificar o país.

Maia disse, em entrevista por videoconferência ao portal UOL, que evita comentar o assunto por se tratar de "juiz" desse processo, e adiantou que a decisão precisa ser bem avaliada para evitar um acirramento da crise.

"Acho que o tempo é o tempo da política, a gente não pode colocar mais lenha na fogueira", disse o presidente da Câmara, ao ser questionado sobre os pedidos de impedimento do presidente apresentados à Casa.

"Uma decisão política de um impeachment precisa ser bem avaliada para que a gente não gere mais conflitos e mais desarmonia e mais crise política no Brasil", afirmou.

Maia voltou a defender que a energia das lideranças políticas do país esteja centrada na busca por unidade e no enfrentamento dos impactos sociais, sanitários e econômicos da crise do coronavírus.

"No momento adequado eu vou decidir", acrescentou Maia sobre os pedidos de impeachment. "Nossa prioridade deve ser ainda tentar unificar esse país para que a gente possa ter mais forças e melhores condições para enfrentar o vírus em todos os seus aspectos."

Maia avaliou ainda que as recentes declarações de Bolsonaro, consideradas por ele como fora do tom e com potencial de gerar insegurança e aprofundamento da crise econômica, são coerentes com o perfil de Bolsonaro mesmo antes de ele ser eleito.

"Não dá para decidir desse jeito", afirmou. "O perfil do presidente não mudou, nós temos que admitir isso. Ele sempre foi um político do enfrentamento", avaliou o presidente da Câmara, ponderando que era preferível que Bolsonaro adotasse tom mais conciliatório.

PRÓXIMOS PASSOS

Maia também considerou "um avanço" que Bolsonaro tenha mudado de opinião sobre "o diálogo com os partidos políticos", ainda que, para ele, a construção de uma base seria melhor se pautada em uma formação "orgânica" com base em projetos e programas.

O presidente da Câmara calcula que o governo não terá o controle total de uma maioria da Casa em todos os temas de seu interesse, apesar da aproximação com o chamado centrão.

Sobre os trabalhos da Câmara, Maia voltou a defender medidas que garantam a liquidez das empresas e cobrou que os recursos já aprovados para as pequenas e médias seja disponibilizado e chegue à ponta da linha.

Considerou necessário, ainda, que a renda emergencial concedida aos chamados vulneráveis possa ser prorrogada, e não descartou um debate sobre a instituição de um auxílio permanente. Maia ponderou, no entanto, que a discussão leve em conta a realidade fiscal do país.

Maia avaliou que um afrouxamento das regras de distanciamento e restrição de circulação de pessoas na Câmara só deve ocorrer a partir de julho ou agosto. Até lá, mesmo com a intenção de retomar as discussões sobre a reforma tributária, ou ainda de tocar o debate sobre a Lei Cambial, pronta para votar, a Casa deve seguir com as sessões remotas, afirmou.

 

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Fonte:
Reuters

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