Dólar fecha em alta ante real com demanda por proteção, diz a Reuters

Publicado em 06/07/2020 17:12 e atualizado em 06/07/2020 19:15

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta ante o real nesta segunda-feira, depois de chegar a cair mais de 1% no começo do pregão, com investidores buscando proteção na moeda dos EUA diante do menor custo de hedge no mercado doméstico.

O dólar subiu a despeito de um dia positivo nos mercados externos, embalados por otimismo com dados na China e nos Estados Unidos.

A cotação negociada no mercado interbancário teve alta de 0,59%, a 5,3521 a reais na venda, devolvendo a queda da sessão anterior.

A divisa oscilou entre baixa de 1,09%, para 5,2626 reais, e alta de 0,70%, a 5,358 reais.

Na B3, o dólar futuro ganhava 0,71%, a 5,3595 reais, às 17h11.

Operadores voltaram a citar o trade "compra de bolsa/compra de dólar" que deu a tônica nos vários meses recentes, já que o hedge via câmbio está mais barato com a Selic nas mínimas históricas. O Ibovespa fechou em alta de mais de 2% nesta segunda-feira (segundo dados preliminares), chegando a superar os 99 mil pontos, o que não ocorria desde março.

O juro baixo é visto como suporte à recuperação da atividade econômica, mas por outro lado torna o real uma moeda menos atrativa em relação a seus pares. A melhora da economia poderia fortalecer o balanço das empresas, elevando os preços das ações, mas o juro nas mínimas manteria o real sob pressão, especialmente diante do aumento de preocupações fiscais.

Veja gráficos das médias móveis de 200 dias do Ibovespa, do dólar e a taxa Selic. O Ibovespa e o dólar costumam andar em direções opostas, mas a partir do começo de 2018, quando o juro bateu mínimas, passaram a subir juntos.

Pesquisa Focus do Banco Central divulgada mais cedo mostrou estimativa de contração de 6,50% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Contudo, houve ligeira melhora em relação à taxa de -6,54% da semana passada. Ainda de acordo com a sondagem, o mercado espera dólar de 5,20 reais ao fim de 2020, pela mediana das projeções.

Na semana passada, o Itaú Unibanco piorou a estimativa para os déficits primários no Brasil em 2020 e 2021, citando despesas com auxílio emergencial neste ano e aumento de gastos sociais no ano que vem. O Itaú vê o dólar a 5,75 reais ao fim de 2020.

Mas mesmo o cenário para a economia, a despeito de dados recentes acima do esperado, segue turvo, por causa da pandemia. "Alguns elementos sugerem que o Brasil pode estar embarcando em um processo prematuro de abertura, aumentando os riscos de que o controle do surto de Covid-19 acabe demorando mais tempo. Isso implica riscos de queda para nossas previsões fiscais/de crescimento", disseram analistas do Citi em nota.

Uma economia mais fraca pressionaria os juros para baixo e desestimularia ingresso de capitais ao país, combinação que joga contra a taxa de câmbio.

Em nota, o Goldman Sachs disse estar "bullish" (otimista) com o peso mexicano na América Latina --e não citou o real.

O peso mexicano subia 0,2% nesta sessão.

Na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a falar sobre o combo juro baixo/câmbio desvalorizado como nova realidade para a economia brasileira.

No Estadão: Mesmo fraco no exterior, dólar avança 0,61% frente a real e fecha a R$ 5,3518

O dólar no mercado à vista fechou nesta segunda, 6, cotado a R$ 5,3518, em alta de 0,61%, mesmo em dia de busca do investidor por risco e em um ambiente de enfraquecimento visto no exterior com rali nos mercados acionários motivados pelos indicadores de retomada da economia nos Estados Unidos, Europa e China.

As preocupações com a dinâmica fiscal, em um momento no qual o próprio o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que a dívida bruta/PIB vai a 100%, ao mesmo tempo em que a política monetária segue bastante estimulativa mantém os investidores usando o real como hedge de outras operações de risco e, com isso, destoa do movimento da maioria das moedas de seus pares que se valorizaram frente ao dólar na etapa vespertina dos negócios.

"Risco é precificado no mercado, se não tem prêmio no juro básico, vai buscar prêmio em outros lugares, no caso, o real", diz Marcos de Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento.

O dólar abriu em queda, tendo chegado a R$ 5,2636, na mínima do dia no segmento spot. No entanto, no início da tarde, inverteu a trajetória e, sem mais novidades no front, os fundamentos - que são de políticas fiscal e monetária de estímulos à economia - acabaram prevalecendo, ressalta de Callis, observando que Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil estava em 225 pontos, ou seja, não havia nesta tarde sinal de estresse em nenhum outro mercado.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, argumenta que os investidores estão vendo alguma divergência entre o ministro Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a questão fiscal. "Enquanto Guedes bate na continuidade do ajuste e quer que o Orçamento de Guerra se estenda até ano que vem", diz, lembrando que estamos a pouco mais de um mês para o início das discussões da peça orçamentária de 2021.

Ontem à noite, Guedes disse que, durante a pandemia da covid-19, o governo "não perdeu o rumo com perspectiva de ataque às principais despesas". E ressaltou que o descontrole de gastos continua sendo inimigo no pós-pandemia. No entanto, adiantou que o déficit nominal deve chegar a 16% do PIB neste ano.

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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