Coronavírus: imunidade coletiva (de rebanho) pode ser alcançada com até 20% de infectados

Publicado em 25/07/2020 18:18

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Um estudo publicado em 24 de julho na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, estima que o limiar de imunidade coletiva ao novo coronavírus (SARS-CoV-2) - também conhecida como imunidade de rebanho - pode ser alcançado em uma determinada região se algo entre 10% e 20% da população for infectada.

Caso a projeção se confirme na prática, os desdobramentos tendem a ser positivos em dois aspectos. Primeiro porque significa que é pequeno o risco de ocorrer uma segunda onda avassaladora da pandemia nos países que adotaram medidas para conter a disseminação da COVID-19 e hoje já registram queda no número de novos casos. Em segundo lugar porque indica ser possível para uma cidade, um estado ou um país alcançar o limiar de imunidade coletiva mesmo tendo adotado medidas de distanciamento social que ajudam a evitar o colapso do sistema de saúde e a minimizar o número de mortes.

"Nosso modelo mostra que não é preciso sacrificar a população deixando-a circular livremente para que a imunidade coletiva se desenvolva. Por outro lado, sugere que também não há necessidade de manter as pessoas em casa durante muitos e muitos meses, até que se aprove uma vacina", afirma à Agência FAPESP a biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, atualmente na University of Strathclyde, no Reino Unido.

O modelo matemático ao qual a pesquisadora se refere foi desenvolvido em colaboração com cientistas do Brasil, Portugal e Reino Unido. Entre os coautores do artigo estão o professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) Marcelo Urbano Ferreira e seu aluno de doutorado Rodrigo Corder.

"Temos trabalhado juntos com Gabriela Gomes há alguns anos usando essa abordagem para descrever a dinâmica de transmissão da malária na Amazônia brasileira, com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ela também já havia feito alguns estudos sobre tuberculose. O modelo que usamos é diferente dos demais, pois leva em conta o fato de que o risco de contrair uma determinada doença varia de pessoa para pessoa", conta Ferreira.

Como explica Gomes, os fatores que influenciam o risco de um indivíduo contrair a COVID-19, por exemplo, podem ser divididos em duas categorias. Em uma delas estão os de ordem biológica, como a genética, a nutrição e a imunidade. Na outra se inserem os fatores comportamentais, que determinam o nível de contato com outras pessoas que cada um de nós tem no cotidiano.

"Isso tem relação com o tipo de ocupação, o local de moradia, os meios de deslocamento e até o perfil de personalidade. Uma pessoa que prefere ficar em casa lendo um livro tem um risco menor de se expor ao vírus do que quem sai com muita frequência e se relaciona com muitas pessoas", diz a pesquisadora.

De acordo com Gomes, os modelos que estimaram o limiar de imunidade ao SARS-CoV-2 variando entre 50% e 70% consideram que o risco de infecção é o mesmo para todos os indivíduos.

"Temos visto que, no caso da COVID-19, quanto maior é o grau de heterogeneidade da população, mais baixo se torna o limiar da imunidade de grupo", afirma Gomes.

Métodos

Medir em cada indivíduo de uma população cada um dos fatores que influenciam a suscetibilidade de contrair o novo coronavírus para então calcular qual seria o chamado "coeficiente de variação" - parâmetro-chave do modelo descrito no artigo - seria algo inviável. Por esse motivo, os pesquisadores optaram por fazer o caminho de trás pra frente.

"Sabemos que se alterarmos o coeficiente de variação há um impacto na curva epidêmica projetada pelo modelo. Decidimos então fazer o reverso: usamos a curva epidêmica de países em que a epidemia já estava em fase avançada para calcular o coeficiente de variação", explica Gomes.

A versão mais recente do trabalho se baseia em dados de incidência (número de novos casos diários) da Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. "Pretendemos em breve estudar os dados do Brasil e Estados Unidos, onde a epidemia ainda está em evolução", diz a pesquisadora.

Segundo os autores, embora o coeficiente de variação seja diferente em cada país, de forma geral, o limiar de imunidade coletiva tende a ficar sempre entre 10% e 20% e isso é extremamente relevante para a formulação de políticas públicas.

"Em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas, caso as medidas de distanciamento sejam relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos", afirma Corder. "Conceitualmente, após atingir a imunidade coletiva, a transmissão tende a se prolongar caso as medidas de controle sejam retiradas rapidamente", alerta

Segundo o relato de Gomes, em Portugal é possível observar duas situações distintas. A região norte, por onde o vírus entrou no país, foi bem mais impactada no início da pandemia e agora, mesmo com a economia reaberta, o número de casos novos permanece em queda. Já no sul, onde se localiza a capital Lisboa, os casos seguem tendência de alta.

"Por enquanto são surtos localizados, em bairros de Lisboa, que estão sendo localmente contidos por meio de testagem e isolamento de infectados. As pessoas só foram liberadas para voltar ao trabalho em Portugal após fazerem testes", conta a pesquisadora.

Situação parcialmente semelhante ocorre no Brasil. A região de Manaus (AM), no Norte, aparentemente atingiu o pico da curva epidêmica em maio, quando houve o colapso do sistema de saúde. Depois disso, o número de novos casos tem caído mesmo com a economia aberta e as escolas retomando as atividades presenciais Estudos sorológicos indicaram que em cidades como Manaus e Belém, no Pará, mais de 10% da população já tem anticorpos contra o novo coronavírus. Já a região Sul, que registrou um pequeno número de infecções no início da epidemia e onde o índice de soroprevalência na população estava em torno de 1% em maio, tem registrado um aumento no número de casos novos à medida que as atividades estão sendo retomadas. Diferentemente de Portugal, o investimento em testagem e rastreamento de infectados no Brasil ainda permanece aquém do considerado ideal

Como ressaltam os autores do artigo, o fato de o limiar de imunidade coletiva ser menor que o inicialmente previsto não diminui a importância das medidas de saúde pública para conter a disseminação do vírus e reduzir o número de mortes.

"Se algum gestor defende a imunidade coletiva como política pública ele está equivocado. As medidas de controle são importantes para não sobrecarregar o sistema de saúde. Mas o novo entendimento da dinâmica de transmissão da COVID-19 que nosso modelo traz aponta para um cenário mais otimista", diz Corder.

Na avaliação de Gomes, a adesão às medidas de isolamento tende a ser maior se as pessoas souberem que o sacrifício será necessário por um período mais curto. "Quando dizemos que a epidemia só será superada quando a vacina chegar, as pessoas começam a pensar em desrespeitar as normas, pois já não aguentam uma vida tão pouco sociável, com tantas restrições", diz.

Próximos passos. Alimentar o modelo com dados do mundo real é a melhor forma de tornar suas simulações e estimativas mais realistas. Com esse objetivo, Ferreira pretende testar em um estudo de campo no Acre dois pressupostos usados nos cálculos do grupo: o índice de detecção da doença (a diferença entre o número real de infectados e o número de casos diagnosticados) e o tempo de duração da imunidade contra o SARS-CoV-2.

"No trabalho, consideramos que em torno de 10% dos casos reais são detectados pelos serviços de saúde e que a imunidade contra o vírus dura ao menos por um ano. Vamos ver se isso se confirma em uma população que acompanhamos já há alguns anos na cidade de Mâncio Lima", conta o pesquisador.

O grupo do ICB-USP tem realizado a cada seis meses inquéritos domiciliares com uma amostra da população da cidade acriana situada na fronteira com o Peru. Além de aplicar questionários, os pesquisadores coletam amostras de sangue. A ideia é acompanhar como evolui a soroprevalência ao SARS-CoV-2 nessa população ao longo do próximo ano e observar por quanto tempo os anticorpos podem ser detectados no sangue. O trabalho conta com apoio da Fapesp.

Em SP, Zoológico e Jardim Botânico têm filas e aglomeração de pessoas

Únicos parques da capital paulista reabertos para pedestres também nos fins de semana, o Zoológico e o Jardim Botânico de São Paulo registraram filas e aglomerações de usuários em suas entradas na manhã e tarde deste sábado, 25. Nem todos os frequentadores respeitavam o distanciamento social na fila e, embora a maioria usasse máscara, alguns estavam com o item cobrindo apenas o queixo.

Mesmo no Zoológico, onde havia marcações no chão indicando a necessidade de distanciamento na fila, a norma não era cumprida porque havia grupos grandes de familiares ou amigos - muitos com crianças ou carrinhos de bebê - que acabavam ficando próximos dos grupos seguintes.

Este é o segundo fim de semana de funcionamento das duas unidades desde que elas foram reabertas, no último dia 13 de julho. Os parques estavam fechados desde o final de março, quando o Estado de São Paulo entrou em quarentena. Outros parques estaduais e 70 unidades municipais foram reabertos na mesma semana, mas estão funcionando apenas em dias úteis.

Somente três parques na cidade estão recebendo público também aos sábados e domingos: além do Zoológico e do Jardim Botânico, o Zoo Safári também está aberto, mas a visitação só pode ser feita em carros particulares - o serviço de vans está suspenso. As três unidades estão funcionando de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 16h.

A decisão da Prefeitura de não reabrir ainda os parques municipais aos finais de semana foi justamente temendo aglomerações, já que são esses dias que reúnem o maior número de usuários. No caso dos três parques estaduais reabertos aos sábados e domingos, a medida adotada pelo governo estadual para evitar aglomerações foi limitar a venda de ingressos das unidades a 50% da capacidade - no caso do Zoológico, isso representa 6,5 mil visitantes diários.

Por enquanto, apenas a área de visitação aberta desses parques pode ser utilizada. Os espaços fechados, como exposições educativas, continuarão sem receber visitantes. É obrigatório o uso de máscaras nas áreas comuns.

Na data de anúncio da reabertura dos parques, a Secretaria de Infraestrutura e de Meio Ambiente e a direção do Zoológico divulgaram algumas medidas que passariam a ser adotadas para diminuir o risco de contágio dentro dos espaços, como medição da temperatura dos usuários na entrada dos parques, desinfecção dos solados dos calçados nas entradas, aumento da frequência de limpeza de sanitários e outros espaços comuns e instalação de totens de álcool gel com acionamento por pedal.

Filas são registradas no primeiro dia da reabertura de shoppings de Salvador

Após 132 dias fechados por causa da pandemia do novo coronavírus, shopping centers abriram as portas em Salvador ao meio-dia desta sexta-feira, 24, causando filas na entrada dos centros comerciais, e levando parte dos visitantes às compras. De Smart TV a sapatos e tábua para passar roupa, muitas pessoas aproveitaram o primeiro dia de retorno das atividades para garantir as ofertas.

A fase 1 da retomada das atividades econômicas da capital baiana foi autorizada pelo decreto municipal de nº 32.610 (23/07/2020) e prevê a reabertura de shoppings, centros comerciais, lojas de rua com mais de 200 metros quadrados e templos religiosos, obedecendo 40 medidas em protocolos de segurança específicos. O horário permitido é das 12h às 20h. A retomada não vale nos bairros onde há medidas mais restritivas para conter o avanço da covid-19.

De acordo com o secretário de Saúde do município, Léo Prates, a cidade atingiu o platô e está caminhando para a queda de casos. Um dos principais critérios adotados pela prefeitura para esta reabertura foi o da taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na cidade, que chegou a 73% na quinta-feira e fechou esta sexta em 71%, como informou Prates ao Estadão.

De acordo com os últimos dados informados pela Prefeitura de Salvador no início da noite desta sexta, são 50.790 casos de covid-19 na capital e um total de 1.630 mortes em decorrência da doença.

"Todos os nossos indicadores apontam para a reabertura. Saímos do platô e estamos indo para a queda. Além da taxa de ocupação de UTIs, que chegou hoje a 71%, Salvador representa, hoje, em todo o estado da Bahia, 36% dos casos totais. Esse índice já foi de 70%. Além disso, nosso fator R, que é o número de pessoas que um infectado pode infectar, está abaixo de 1", afirmou.

Um leve aumento da taxa de ocupação de leitos de UTI deve ser sentido nos próximos dias em decorrência da abertura, prevê a prefeitura. "A nossa expectativa, como ocorreu em outros locais onde abriu, é de um leve crescimento que pode chegar a 74%. Mas a nossa taxa de segurança é de 80%. Se chegar a isso, fecha tudo novamente."

Consumo

O maior impacto da reabertura do comércio será sentido pelos shoppings, já que lojas de rua com menos de 200 metros quadrados estavam abertas há um mês.

Dois dos maiores shoppings da capital criaram condições para aferir a temperatura dos clientes na entrada, além da instalação de totens de álcool em gel e diversas informações explicativas nas portas das lojas, entre as quais, a regra de que não pode haver aglomeração. Só pode circular no estabelecimento um cliente por cada cinco metros quadrados. O que nem todas cumpriram. A reportagem flagrou uma filial das Casas Bahia de um shopping da cidade com aglomeração interna. De lá saiu consumidor carregando Smart TV de 50 polegadas comprada por um preço atrativo, segundo a cliente Carol Ferreira, que ouviu dizer que o shopping estava aberto e correu para lá com o tio e a tia para a compra do aparelho. "Estava muito mais barato. Viemos e compramos", disse a estudante, que preferiu não ser fotografada.

Apesar da euforia das horas iniciais, o movimento foi tranquilo nos três maiores shoppings de Salvador durante a maior parte do tempo. Em todas as lojas, funcionários com máscaras e protetor visual. Para entrar em cada loja é necessária a higienização com álcool em gel.

Mariana Marques, de 21 anos, saiu para comprar uma tábua de passar roupa. "Soube que abriu. Comprei barato na loja, por R$ 80. Estava precisando. Estou com neném em casa e as costas doem, precisava da tábua", justificou.

O Shopping da Bahia informou que o movimento foi adequado e dentro do esperado, revelando a relação de proximidade do empreendimento com a cidade. "Nós entendemos que o momento é de reconexão, reaprendizado e que, aos poucos, e com segurança, voltaremos ao patamar anterior ao fechamento".

Já o grupo JCPM, que administra os shoppings Salvador e Salvador Norte informou que o movimento foi dentro do esperado nos dois centros comerciais: "cerca de 40% de uma sexta-feira normal", de acordo com Fernando Rocha, diretor regional de operações BA/SE do grupo. A expectativa para o fim de semana é de 40% a 45% de um fluxo normal.

"Estamos voltando após um período totalmente atípico, com características que nunca foram vivenciadas por nós. Então, temos consciência de que esta é uma retomada gradual e isso é importante para a segurança de todos. Esperamos que se estabilize em cerca de 50% do fluxo anterior nas próximas semanas", explicou Rocha.

O diretor informa, ainda, que nas praças onde o Grupo JCPM já retomou as atividades, como Fortaleza e Recife, foi notado um perfil de consumidor mais objetivo. Vai ao shopping para comprar o que precisa e retorna para a casa. "Ou seja, deve se manter um fluxo abaixo do normal, mas com uma conversão de vendas boa".

Prejuízo

A expectativa do setor comercial é de aliviar os prejuízos causados por quatro meses de estabelecimentos fechados. "Nós nos preparamos para isso. Visitei os grandes shoppings e vi que todos estão seguindo todos os protocolos de segurança. Eu estou estimando que teremos no mês de agosto, entre 30% a 40% do consumo que tivemos no mesmo período de 2019", diz Carlos Andrade, presidente da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-Ba).

A expectativa é a de que, dando tudo certo, com os casos de covid-19 em queda e a reabertura progressiva das atividades econômicas, dezembro chegue próximo ao patamar de vendas alcançado em dezembro de 2019.

Perguntado se não teme um aumento de casos e o retorno do fechamento, Andrade se diz "otimista": "Eu prefiro não acreditar em segunda onda. Vamos ser precavidos e não vamos pensar o pior. Prefiro ser otimista".

Em balanço apresentado nesta sexta-feira, mesmo dia da reabertura do setor na Capital, a Fecomercio-BA previa queda de prejuízo. A entidade estimava um déficit médio diário de R$ 108 milhões ao longo da pandemia. O cálculo foi revisado para R$ 87 milhões a partir do impacto do auxílio emergencial, que injetou na microeconomia do Estado cerca de R$ 3,6 bilhões, beneficiando 5 milhões de pessoas.

 

 

 

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Fonte:
Estadão Conteúdo

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