Preocupação com contas públicas mantém pressão e Ibovespa cai 1,2%

Publicado em 29/09/2020 18:13 e atualizado em 29/09/2020 21:17

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O Ibovespa recuperou nesta terça-feira, ampliando o movimento da véspera, ainda refletindo a preocupação do mercado com a situação fiscal do país.

O Ibovespa caiu 1,22%, a 93.510,46 pontos, de acordo com dados preliminares. O volume financeiro somava 21,93 bilhões de reais.

Juros: desconforto com proposta para o Renda Cidadã mantém curva pressionada

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A insistência do governo em manter a proposta de financiamento para o programa Renda Cidadã, mesmo diante da forte reação negativa do mercado, manteve os ativos domésticos pressionados nesta terça-feira, 29, com nova rodada de alta para os juros futuros. Desta vez, os contratos mais castigados foram os do miolo da curva, que concentram há meses as grandes posições vendidas dos investidores. Com a permanência do mau humor, o Tesouro acabou por colocar um lote pequeno de NTN-B no leilão, evitando assim adicionar mais pressão sobre a curva, que também já mostra aumento significativo das apostas num aperto monetário este ano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,17%, de 3,064% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 4,66%, de 4,545% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,62% (6,615% ontem) e o para janeiro de 2027, em 7,60%, de 7,624%.

"O mercado hoje é uma continuidade do que foi ontem e até que está bem comportado para o tamanho do problema", afirmou o sócio-gestor da LAIC-HFM, Vitor Carvalho. Ele explicou que por questões técnicas os vértices intermediários foram os mais penalizados. "O mercado é mais doado nesta região do janeiro de 2022 e janeiro de 2023, por isso o estrago é maior", afirmou.

Segundo o analista político da XP Investimentos, Victor Scalet, os intermediários refletiram o movimento de fundos zerando posições, principalmente nos vencimentos de janeiro de 2023 e 2025, além de algum fluxo estrangeiro. "Hoje foi um dia um pouco mais vazio. Não tem grande novidade para mexer nos preços", afirma Scalet, para quem um recuo do governo sobre o financiamento do Renda Cidadã poderia ter levado a curva a fechar e provocado alívio ao câmbio.

Pela manhã, o mercado chegou a trabalhar com a possibilidade de o governo voltar atrás ainda hoje nas propostas de uso de parte dos recursos do Fundeb e do orçamento destinado ao pagamento de precatórios, depois que o presidente Jair Bolsonaro falou em "buscar alternativas" para custear o programa. Também porque as medidas podem ser contestadas pelo Congresso e pelo Judiciário. "Alguns líderes do Congresso e o TCU já indicaram uma prévia ausência de suporte", comentaram os economistas do UBS Brasil.

Porém, ficou claro, posteriormente, que o governo pretendia levar a ideia adiante. O senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator da PEC emergencial que vai criar o Renda Cidadã e responsável pelo parecer do pacto federativo, afirmou ao Estadão/Broadcast que não vai desistir. "Não me assusto assim tão fácil", afirmou, sobre a recepção negativa do mercado e do mundo político ao modelo de financiamento.

De acordo com o Haitong Banco de Investimentos, a curva projeta 44% de probabilidade de aumento de 0,25 ponto porcentual para a taxa no Copom de outubro e entre 65% e 70% de chance de alta de 0,25 ponto no encontro de dezembro.

Bolsa fecha em baixa de 1,15%, no menor nível desde 16 de junho

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Nestas duas primeiras sessões da semana, o Ibovespa, pressionado pelos temores de que a situação fiscal se agrave por iniciativa do governo - desta vez fora do manual -, perdeu sucessivamente as linhas de suporte de 95 mil e de 93,8 mil, após ter iniciado a semana anterior cedendo outra referência importante, abaixo dos 97 mil. Hoje, fechou em queda de 1,15%, aos 93.580,35 pontos, com mínima a 93.408,17 - menor nível intradia desde 24 de junho (93.259,07) - e máxima a 95.504,78 pontos na sessão. O dia negativo no exterior, em meio à expectativa para o primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden na disputa pela Casa Branca, contribuiu para que a B3 seguisse ao sabor da ventania de ontem.

Agora no menor nível de fechamento desde 16 de junho (93.531,17 pontos), o índice emendou a terceira sessão negativa, hoje com giro financeiro a R$ 23,5 bilhões, após os R$ 27,5 bilhões do dia anterior, quando o governo pareceu jogar gasolina na fogueira ao destacar um líder político, Ricardo Barros (PP-PR), para explicar diretamente ao mercado a ideia de usar recursos destinados a precatórios e ao Fundeb para financiar o futuro Renda Cidadã, programa que deve substituir o auxílio emergencial a partir de 2021. Sem sinais de que o governo voltará atrás, o mal-estar se estendeu à sessão de hoje, conforme se esperava. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 3,52%, elevando a do mês a 5,83% e a do ano a 19,08%.

Ontem, a referência do ministro Paulo Guedes ao "timing político" - após ter afirmado recentemente que confia na intuição política do presidente Bolsonaro - e a ausência de integrantes da área econômica na aproximação ao mercado fez acender uma luz amarela: o poder de influência do fiador da política econômica teria encolhido ou, ainda pior, Guedes estaria dando anuência a sugestões da ala política mesmo que ao custo de pilares como o teto de gastos. Assim, a palavra "pedalada", que marcou o fim do governo Dilma Rousseff, em 2016, retornou ontem ao vocabulário corrente - e mesmo outro termo nada eufemístico, "calote".

"Redirecionar verba que seria para dívida não paga é decretar pela segunda vez que a dívida não será paga - e há pareceres de juristas contra isso. Redirecionar recursos do Fundeb para complementar orçamento para os mais carentes é um desvio de finalidade, que não terá apoio de prefeitos e governadores. O que tivemos então, mais uma vez, foi uma proposta ruim em um momento ruim", observa Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura.

"O Ibovespa chegou até a trabalhar no positivo na abertura, com rumores de que o plano seria revisto, mas logo depois o relator da PEC do Pacto Federativo, Márcio Bittar, confirmou que a proposta não será alterada e tem o aval de Bolsonaro", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Diante do crescente risco fiscal, os juros futuros voltaram a disparar, já precificando 50% de chance de alta da Selic na próxima reunião do Copom, em 28 de outubro - o que é muito pouco provável, mas revela o nível de estresse do mercado e a preocupação com o rumo da economia. Sem falar da contabilidade criativa utilizada para financiar gastos públicos, que revive antigos fantasmas", acrescenta.

Com a aversão ao risco político, as perdas se distribuíram por empresas e setores na sessão, com algumas exceções notáveis, como WEG (+3,26%), Lojas Americanas (+2,05%) e Natura (+1,97%). Na ponta oposta do Ibovespa, Azul cedeu hoje 7,71%, seguida por Gol (-5,72%), Embraer (-4,09%) e CVC (-3,88%), com dólar à vista a R$ 5,6393 (+0,07%) no fechamento de hoje. Entre as commodities, destaque para queda de 2,82% em Petrobras ON; entre as siderúrgicas, de 2,86% para Usiminas, e entre os bancos, de 2,46% para BB ON.

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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