Temores com a agressividade da variante Delta na China pesam e commodities têm baixas fortes

Publicado em 03/08/2021 13:17 e atualizado em 03/08/2021 14:30

Logotipo Notícias Agrícolas

A terça-feira (3) é de baixa intensa para algumas commdities no mercado internacional e parte desta pressão, como explicam analistas, consultores e economistas, vem das preocupações com a nova onda de casos de Covid-19 na China, principalmente com um alerta maior sobre a variante delta. De acordo com as agências internacionais, a nação asiática já está revisando suas medidas de restrição, fechando cidades e fronteiras, cancelando vôos e reacendendo no mercado global temores sobre sua demanda por diversas commodities. 

"A ressurgência de novos casos de COVID-19 e seus impactos na cadeia de commodities adereça sobretudo na constrição da demanda agregada chinesa e sua capacidade de manter a sustentabilidade do pib potencial no país", afirma Victor Martins, analista de mercado da Hedge Point Global Markets. 

Os primeiros setores a sentirem de forma mais agressiva o novo surto seriam os de consumo, o varejo, refletindo a contração da atividade econômica da nação asiática devido aos lockdowns, como foi registrado no início da pandemia. 

"Hoje, a China é a maior potência em vendas de varejo do mundo. Somente no ano passado as vendas de varejo somaram U$$ 6,05 trilhões, redução de 3,9% em relação a 2019", lembra o especialista.

Na sequência, ainda como explica Martins, os efeitos poderiam ser sentidos pela redução da demanda agregada das famílias, impactando também no setor industrial, que contribui com 39% do PIB chinês. 

Uma das preocupações dos especialistas se dá sobre a rapidez do contágio com a variante delta. Aproximadamente metade das 32 provínicias chinesas foi atingida em duas semanas e os sinais são de que o vírus se desenvolve muito rapidamente. Em Najing, epicentro do novo surto, as pessoas já foram isoladas e a orientação para  a população na capital Pequim é de que não deixem a cidade. 

Nanjing é a capital de Jiangsu e vizinha de Zhejiang, sedes dos principais centros manufatureiros e responde por cerca de 10% da demanda interna chinesa por diesel. Assim, as instituições de classe do setor já prevêem em seus relatórios uma diminuição de consumo de pelo menos 100 mil barris por dia caso os isolamentos continuem. 

PETRÓLEO

O petróleo é um dos destaques. Depois de começar o dia operando em campo positivo, perto de 11h35 (horário de Brasília), os futuros do brent perdiam mais de 1% para levar o barril a US$ 72,16, enquanto o WTI tinha baixa de 1,23% - depois de chegar a testar mais de 2% de queda - para valer US$ 70,48. Os chineses são o maior consumidor de petróleo de Ásia e a notícia pesa no dia dos mercados. 

Segundo apurou a Bloomberg, já é possível afirmar que com os vôos de entrada e saída de Pequim tendo sido cancelados, além das demais medidas restritivas, o consumo de combustíveis para aviação deverá ser o setor mais afetado. 

"Esta rodada de infecção pode, potencialmente, eliminar 5% da demanda de petróleo de curto praz", disse à agência internacional Wang Lining, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Tecnológica da CNPC. O desdobramento das medidas deverão ser avaliados nos próximos dias e em como a infecção vai se desenvolver e o que exigirá da população. 

ALGODÃO

Também na indústria poderia sentir a cadeia do algodão e a indústria têxtil, uma das mais importantes do gigante asiático. Em 2020, o impacto mais severo causado pelo coronavírus se deu em Hubei, província que responde por cerca de 6% de toda a produção industrial chinesa. "E por esse motivo a pluma de algodão caiu mais de 35% pelo setor industrial ter sido severamente afetado", explica o analista da Hedge Point Global Markets. 

No primeiro surto de Covid-19, os preços do algodão caíram 35% em 11 semanas, enquanto a soja cedeu 'somente' 14%. 

"Na ressurgência do Covid temos como primeiro efeito um impacto no algodão pelo aumento de estoques no setor varejista, pelo fechamento das lojas e pelo lockdown.. O algodão sente na hora. Mas, a soja sentiu depois pela queda no consumo alimentício", explica. 

SOJA

Nesta terça-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago lideram as perdas entre os grãos e, por volta de 12h10 (horário de Brasília), as baixas variavam entre 36,25 e 41,25 pontos nos principais contratos, com o agosto sendo cotado a US$ 13,82 e o novembro, US$ 13,12 por bushel. Embora parte desse recuo se dê por conta do clima sinalizando alguma melhora no curto prazo para o Corn Belt e o último boletim semanal de acompanhamento de safras do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aumentando o índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições, as preocupações com a China também pesam severamente sobre os preços. 

"Para a soja, o impacto seria na menor demanda interna de farelo para rações, pois um impacto imediato seria refletido no menor consumo do setor de carnes vis-a-vis as medidas de lockdown e consequente fechamento de redes de restaurante e polos de alimentação", complementa Victor Martins. 

Na análise de Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, o efeito sobre esse temor com a demanda chinesa em função da ressurgência da Covid-19 na China tem impacto sobre as cotações em Chicago, porém, deve ter vida um pouco mais curta. Além disso, explica ainda que o mercado já conhece melhor o que pode estar a frente e, dessa forma, reage diferente e com um 'temor mais limitado'. 

"Na primeira onda ela foi rapidamente suprimida, os chineses foram muito eficientes em combater o vírus e dessa vez será semelhante. Apesar do medo, não acreditamos que esse será um fator relevante para se considerar uma possível demanda chinesa por soja", diz. "Mas os chineses vão reduzir sua demanda por soja física? Não acredito". 

No entanto, a questão cambial e o comportamento da moeda chinesa pode também impactar sobre o consumo chinês de soja ao afetar diretamente as indústrias esmagadoras da oleaginosa. 

"Uma desvalorização do renminbi (RMB, a moeda chinesa) seria péssima nesse momento, visto que as indústrias esmagadoras teriam menor poder de originação de soja, sobretudo de soja americana", explica Martins.  Atualmente, as indústrias chinesas possuem margens de esmagamento negativas ao longo da principal janela de exportação americana, que se estende entre outubro e dezembro, ainda como traz o analista. 

"Ou seja, além de menor demanda interna por rações e consequente queda nas ecomendas pelas fábricas, visto uma redução na escala de abate de suínos, as indústrias teriam menor 'poder de fogo' de originação de soja importada, coincidindo com a janela de colheita americana, combinação baixista para os futuros da soja tanto pelo balanço da demanda como da oferta", conclui.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

3 comentários

  • Adilson Dilmar Dudeck Cascavel - PR

    Será que a vacina não está surtindo efeito nos chineses? Talvez devessem usar vacinas de outros laboratórios. E com essa delta, vão parar de comer, de fornecer ração a suas criações?

    6
  • Selso Costa Cachoeira - RS

    Quem ainda não conhece as artimanhas da China ?

    3
  • Merie Coradi Cuiaba - MT

    Cada dia uma desculpa pior que a outra. A China, por incrivel que pareça não chega a 5.000. No EUA e BR se chegou perto disso em um único dia. Portanto, se alguém sabe controlar a epidemia é a China. Aí está a prova de que o dinheiro é bem covarde, qualquer ventinho ao contrário se refugia e procura lucros. Amanha volta tudo e os bocós que venderam ficam no prejuízo.

    3
    • carlo meloni sao paulo - SP

      Coloquem o autor desse artigo na lista negra e nunca mais leiam algo dele---

      5
    • carlo meloni sao paulo - SP

      Merie o seu e' comentario, o artigo e' da noticia

      4