Desancoragem persistente de expectativas aumenta muito custo de desinflação, diz Guillen, do BC
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Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou nesta terça-feira que o risco de desancoragem das expectativas de inflação aumentou no país no período recente, e destacou que uma desancoragem mais persistente e prolongada aumenta muito o custo de reduzir a inflação.
"A desancoragem das expectativas aumenta muito o custo de desinflação", disse Guillen em evento do Goldman Sachs. "Você passa a depender mais de outros canais de política monetária --de abertura do hiato, por exemplo."
Guillen frisou que as expectativas de inflação estão desancoradas até 2027 e disse que entre os fatores por trás desse movimento estão uma possível percepção de leniência do BC, indícios de uma política fiscal persistentemente mais expansionista e discussões sobre alteração da meta oficial de inflação.
O diretor disse que é difícil "tentar separar o quanto foi cada um" responsável pela desancoragem, mas destacou a "relação com a discussão sobre a meta".
"Nesse sentido, acho que decisões que induzam uma reancoragem das expectativas seriam importantes; a credibilidade da meta é muito importante no regime de metas de inflação", disse Guillen, que passou a acumular temporariamente esta semana a diretoria de Política Monetária do BC após o fim do mandato de Bruno Serra.
Guillen disse ainda que, mais importante do que a meta de inflação em si, o relevante é observar a diferença entre o objetivo oficial e as expectativas para a alta dos preços.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados têm criticado à atuação do Banco Central e o nível da taxa Selic --atualmente em 13,75%-- desde fevereiro, e o petista chegou a defender alterações no atual regime de metas de inflação.
O centro da meta oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e, para 2024 e 2025, é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada mais cedo nesta terça, já havia enfatizado a importância de melhorar as expectativas de inflação.
Na semana passada, BC decidiu manter a Selic sem apresentar sinal concreto sobre um eventual afrouxamento monetário à frente, contrariando expectativas no mercado e no governo por uma indicação sobre o momento em que poderia iniciar os cortes na taxa básica de juros.
FISCAL E CRÉDITO
Em meio à espera pela proposta de arcabouço fiscal do governo, Guillen reforçou a mensagem presente na ata do Copom de que a relação entre a apresentação do texto e a convergência dos preços para as metas não é direta, e passa pelas expectativas.
"O canal principal do arcabouço fiscal afetando a inflação é via canal expectacional, é afetando como é que vai se dar a ancoragem das expectativas, como é que vão se dar os prêmios de risco. É esse canal que a gente considera como o mais importante para ter efeito sobre a desinflação", disse Guillen.
Sobre o cenário de crédito --que tem dominado a atenção de economistas e agentes do mercado financeiro após o colapso de bancos no exterior e a crise da varejista Americanas no Brasil--, Guillen afirmou que o BC está monitorando a extensão dos riscos e tem ferramentas para lidar com eles.
"Se há uma distorção, uma fricção, em alguma modalidade, em algum mercado, você tem o uso de medidas macroprudenciais e de liquidez que estão disponíveis e são apropriadas para lidar com isso", disse o diretor, ponderando que uma desaceleração da oferta de crédito já era esperada pelo BC e faz parte do processo de aperto monetário.
Segundo ele, a dúvida é se a desaceleração será maior do que é compatível com a política monetária.
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