Juros futuros disparam com percepção de agravamento do impasse entre Brasil e EUA
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Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam em forte alta nesta terça-feira, quando a percepção entre agentes do mercado de agravamento do impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, principalmente após uma decisão judicial do ministro Flávio Dino na véspera, elevou os prêmios de risco do país.
No fim da tarde, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 estava em 14,12%, ante o ajuste de 13,953% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2028 marcava 13,5%, em alta de 24 pontos-base ante o ajuste de 13,262%.
Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,71%, com avanço de 23 pontos ante 13,477% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,83%, ante 13,622%.
O mercado doméstico continua monitorando as tentativas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negociar a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros, com as autoridades do Brasil tendo dificuldade em abrir canais de diálogo com os EUA.
Na segunda-feira, a perspectiva para as negociações pode ter piorado com a determinação, dada pelo ministro Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de que cidadãos brasileiros não podem ser afetados em território nacional por leis estrangeiras aplicadas sobre atos cometidos no Brasil.
A decisão indica que o ministro Alexandre de Moraes, também do STF, não poderá sofrer no Brasil as consequências de sanções impostas a ele pelo governo dos EUA no mês passado, com base na Lei Magnitsky.
O governo Trump acusa Moraes de autorizar prisões arbitrárias antes do julgamento e de suprimir a liberdade de expressão. O ministro é relator do processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu, acusado de tramar um golpe de Estado.
Trump tem vinculado a imposição da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, entre outros pontos, à "caça às bruxas" que Bolsonaro viria sofrendo pela Justiça do Brasil.
Na esteira da decisão de Dino, investidores chegaram à conclusão de que o espaço para negociações com os EUA se fechou ainda mais, expressando também receios de que possa haver uma reação por parte do lado norte-americano, o que eleva o risco sobre os ativos do Brasil.
Já no cenário externo, o dia foi marcado por cautela nos mercados, à medida que os investidores se posicionam para o simpósio econômico de Jackson Hole, do Fed, a partir de quinta-feira. O destaque do evento será um discurso do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira.
Operadores têm precificado uma chance elevada de o Fed cortar a taxa de juros em setembro, segundo dados da LSEG, com mais uma redução totalmente precificada até o fim do ano. Entretanto, um discurso de Powell com postura agressiva contra a inflação poderia impactar essas projeções.
O rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha queda de 2 pontos-base, a 3,75%.
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