Indústria alemã expressa frustração com atraso no acordo UE-Mercosul
![]()
Por Maria Martinez
BERLIM, 19 Dez (Reuters) - As associações empresariais da Alemanha, a maior economia da Europa, expressaram decepção e frustração com o adiamento da assinatura de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul para janeiro.
"O novo adiamento é um retrocesso para a credibilidade da Europa como ator geoestratégico", disse Tanja Goenner, diretora administrativa da associação industrial BDI.
Goenner pediu aos Estados membros da UE que superem suas reservas e deixem de lado interesses particulares em favor da competitividade da Europa.
A associação da indústria automobilística alemã, VDA, fez eco a esse apelo.
"Em um momento em que uma economia europeia forte é crucial, a UE está enviando um sinal de fraqueza", afirmou a presidente da VDA, Hildegard Mueller. Ela acrescentou que a UE está colocando em risco sua credibilidade como parceira de negociação para acordos comerciais se nenhum acordo for fechado após mais de duas décadas de negociações.
O pacto comercial com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que vem sendo construído há 25 anos, seria o maior da UE em termos de cortes tarifários. Alemanha, Espanha e países nórdicos afirmam que o pacto impulsionará as exportações atingidas pela ofensiva tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, e reduzirá a dependência da China ao garantir o acesso a minerais.
Mas os críticos, incluindo França e Itália, temem que um acordo com o Mercosul possa trazer um influxo de commodities baratas que poderiam prejudicar os agricultores europeus, milhares dos quais realizaram um protesto com seus tratores em Bruxelas na quinta-feira.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse no início da sexta-feira que espera que um número suficiente de Estados membros da UE apoie o acordo comercial entre a UE e o Mercosul para aprová-lo.
Os acordos de livre comércio são vistos como um instrumento central para diversificar as relações econômicas e construir autonomia estratégica, especialmente diante das tarifas de Trump.
"Enquanto os EUA se voltam cada vez mais para o protecionismo, mercados abertos e estruturas confiáveis para comércio e investimento são mais importantes do que nunca para as empresas alemãs", disse Volker Treier, chefe de comércio exterior da Câmara de Comércio Alemã DIHK.
Cerca de 85% das exportações europeias para os países do Mercosul estão sujeitas a tarifas, afirmou Treier, resultando em custos adicionais de cerca de 4 bilhões de euros (US$4,69 bilhões) por ano.
"O fato de o acordo com o Mercosul ter sido adiado mais uma vez mostra que a UE não é uma âncora estável em tempos de turbulência na política comercial", disse Treier.
Um acordo com o Mercosul poderia aumentar as exportações da UE em até 39% até 2040, de acordo com estimativas da associação comercial BGA.
"Quando a Europa entenderá o que está em jogo aqui?", disse o presidente da BGA, Dirk Jandura. "Este é o momento errado para simbolismo e manobras políticas."
0 comentário
Dólar tem alta leve no Brasil com mercado à espera de leilões de linha
Crescimento na zona do euro é altamente incerto devido à guerra comercial e às tensões, diz membro do BCE
Câmara decide cassar mandatos de Eduardo Bolsonaro e Ramagem
Minério de ferro sobe na semana com apostas de reabastecimento para feriado na China
Indicador salarial do BCE sinaliza normalização gradual das pressões salariais
Indústria alemã expressa frustração com atraso no acordo UE-Mercosul