Farelo de Soja: Demanda forte, logística comprometida e inverno rigoroso nos EUA devem manter cenário favorável para os preços

Publicado em 13/11/2014 15:11

Um momento de mercado sustentado e preços em alta do farelo de soja nos Estados Unidos tem sido o principal fator de sustentação para as últimas altas registradas no complexo soja há algumas semanas. Ambos os produtos têm passado por um rally no mercado futuro americano e, desde o início deste mês, os vencimentos dezembro/14 e março/15 do farelo já acumulam ganhos de mais de 6% e 7% até esta quinta-feira (13), respectivamente, superando os US$ 400,00 por tonelada curta no primeiro vencimento.

Além de uma falta de produto e de uma demanda extremamente aquecida, uma complicação na distribuição do farelo de soja nos Estados Unidos criaram um cenário favorável para esse avanço das cotações.  

A nova temporada comercial norte-americana, iniciada em primeiro de outubro, já começou com as vendas antecipadas de 6 milhões de toneladas de um total previsto de 11 milhões, o que é 50% a mais do que registrado no ano anterior, quando já a comercialização já tinha sido recorde, segundo explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest. "Isso é um programa de exportação muito agressivo, a demanda externa muito concentrada nos Estados Unidos", diz. 

Paralelamente, o mercado interno norte-americano também se mostrava pouco estocado, em função de uma produção recorde de soja no país, o que deveria resultar em uma oferta regular de farelo. No entanto, a colheita se atrasou por conta de adversidades climáticas, o que refletiu em um mercado sazonalmente mais firme entre novembro e dezembro, e fez os consumidores virem ao mercado de forma mais intensa temendo não conseguir garantir o produto a tempo. 

Ainda segundo o analista da Agrinvest, além das demandas interna e externa muito fortes, principalmente pelo setor de rações, as margens de esmagamento nos Estados Unidos estão bastante positivas e há um movimento de reposição dos animais no país depois dos grandes abates registrados em 2012, o que também mantém o mercado de carnes aquecido. 

Somado a isso, o mercado observa ainda o farelo de soja disputando espaço na logística ferroviária com produtos de energia. "Os EUA vêm sendo cada vez mais exportador de derivados de petróleo, coisa que não acontecia há dois anos (...) As refinarias americanas tendem a diminuir a produção e o escoamento a partir de janeiro e fevereiro, quando teremos temperaturas mais frias, e em função disso, as refinarias antecipam a produção para um consumo maior de óleos de aquecimento para o inverno", explica Vanin. "Então, a questão logística interna nos EUA deve ter um alívio entre janeiro e fevereiro", completa. 

Veja a entrevista com Eduardo Vanin na íntegra:

>> Eduardo Vanin - Analista de Mercado da Agrinvest

Inverno rigoroso nos EUA e mais ração

As últimas previsões climáticas vindas dos Estados Unidos já indicam que o inverno por lá deverá ser muito rigoroso. Nesta semana, uma massa de ar ártico trará as temperaturas para 40 graus a menos do que o normal para as regiões centro e norte do país, de acordo com o Serviço Nacional de Clima do país. O mapa abaixo é do NOAA - Departamento Oficial de Clima do Governo dos EUA - que mostra as regiões em azul com 40 a 90% de probabilidade de as temperaturas nos EUA ficarem abaixo do normal. A previsão é para o intervalo entre 18 e 22 de novembro. 

Mapa EUA NOAA

De acordo com as últimas informações do site norte-americano AccuWeather, a frente fria que está sobre os Estados Unidos deve se expandir para o leste durante essa semana e irá acompanhada de neve em algumas regiões. Assim, as temperaturas devem cair de 20 a 30 graus no final desta semana em relação aos últimos dias. As imagens abaixo são do AccuWeather e mostram a atuação e força dessa massa de ar ártico presente nos EUA. 

AccuWeather 1

AccuWeather 2

Dessa forma, os animais que seguem para o confinamento irão necessitar de mais energia para se manterem aquecidos, o que deverá fazer com que os produtores, principalmente os granjeiros, aumentem seus estoques de ração - que tem como base o farelo de soja e milho. 

Para Eduardo Vanin, esse deverá ser sim mais um fator positivo para os preços do farelo americano. "Além disso, a exemplo de 2013 e início de 2014, quando os EUA também passaram por um inverno muito rigoroso e houve uma complicação no escoamento de farelo local". 

No entanto, a medida em que os preços do farelo avançam em Chicago, bem como os prêmios para o produto, isso se transmite para os preços para exportação. Dessa forma, ainda de acordo com o analista da Agrinvest, para quem vendeu antecipadamente vale mais a pena fazer o chamado "washout" desses contratos (uma espécie de cancelamento) e revertê-los para o mercado interno, onde os valores estão mais atrativos. 

E a tendência é de que esse movimento ganhe força à medida em que os preços para exportação se distanciem - ficando cada vez mais caros - dos praticados na Argentina e no Brasil, "e o mercado já está trabalhando para corrigir esse problema".

Nesta quarta-feira (12), o mercado em Chicago foi pressionado por rumores de que os Estados Unidos teriam importado alguns cargos de farelo de soja da Argentina. Isso deve se confirmar, ainda de acordo com o analista, uma vez que os preços aqui na América do Sul estão mais competitivos. "Esse é o trabalho que o mercado tem que fazer nesse momento, fazendo a migração da demanda, pelo menos na exportação, dos Estados Unidos para outros esmagadores, a exemplo do Brasil e da Argentina".

Segundo uma análise feita pela consultoria alemã Oil World, nas últimas semanas, o mercado já pôde observar uma presença mais significativa dos processadores argentinos no mercado efetivando novas vendas em função desse recente rally registrado pelos preços.  

"Aparentemente, os processadores de soja da Argentina excederam suas expectativas nas últimas semanas e os produtores se tornaram vendedores mais ativos", informou a Oil World. Em outubro, o esmagamento de soja argentino somou 3,1 milhões de toneladas, contra 2,96 milhões do mesmo mês do ano anterior. E isso, ainda assim, é menos do que as 3,4 milhões de toneladas processadas em setembro. 

Este ano, os sojicultores da Argentina estão com a comercialização da safra 2013/14 batante atrasada diante de preocupações excessivas sobre a economia e o futuro do país, além da fraqueza da moeda local recorrente. No entanto, enquanto as vendas aumentaram ligeiramente nos últimos dias, os estoques dos processadores locais ainda continuam bastante ajustados, segundo a consultoria. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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