Safra 2017/18: Custo menor e renda mais alta devem aumentar área de soja nos EUA

Publicado em 21/02/2017 17:18

Os dias de mercado travado para a soja na Bolsa de Chicago, sem movimentações muito expressivas, podem estar contados, segundo analistas e consultores. As especulações para a nova safra de grãos do país está cada vez mais intensa e o início do plantio, cada vez mais próximo. A volatilidade, portanto, pode se acentuar. 

Entre quinta e sexta-feira desta semana - 23 e 24 de fevereiro - acontece o USDA Outlook Forum, um evento anual que chega com algumas das primeiras informações 'oficiais' sobre a nova safra dos Estados Unidos, trazendo dados que ajudam a desenhar um novo cenário não só para o país, mas para o mercado global de grãos. 

A disputa por área entre a soja e o milho na nova temporada norte-americana tende a ser um dos assuntos mais debatidos daqui em diante, com muita atenção ainda aos sinais que vêm sendo trazidos pelo mercado em Chicago. As perspectivas de consultorias nacionais e internacionais é de que a oleaginosa deverá contar com um espaço maior do que o cereal neste ano. 

Em seu reporte conhecido como baseline, que traz também projeções de longo prazo, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicou uma mudança expressiva dos produtores para a soja, que poderiam cultivar um recorde de 85,5 milhões de acres, um aumento de 2,1 milhões. No caso do milho, o número poderia cair 4 milhões de acres para que fossem cultivados 90 milhões. 

Dada a mais favorável relação de preços da soja do que do milho, algumas consultorias acreditam em uma área plantada com a oleaginosa que poderia ser ainda maior. Nesta terça (21) a relação entre ambos estava próxima de 2,59, nível que ainda estimula o plantio da soja em detrimento do milho. Essa cena muda com esse índice cai a 2,0 ou menos do que isso, segundo explicam analistas. 

Com isso, a Informa Economics estima uma área ainda maior para a soja, de 88,65 milhões de acres, e outras consultorias internacionais apostando ainda em algo perto de 90 milhões, podendo exceder a área de milho. 

Custos de Produção nos EUA

Essas decisões passarão, inevitavelmente, pelos custos de produção para ambas as culturas no país. Segundo o analista de mercado da Lansing Trade Group, Marcos Araújo, os custos estão em queda para os dois produtos nesta safra, segundo dados da Universidade de Illinois, porém, a rentabilidade maior da oleaginosa ainda chama a atenção do produtor. 

O estudo da universidade mostra que, em se tratando de lavouras com alta tecnologia e, consequentemente, alto potencial de produtividade, o custo estimado para a soja é de US$ 1336,81 por hectare. "Isso mostra uma diminuição de 7,36% em relação ao custo da safra anterior", diz Araújo. "Hoje, para o produtor americano, o custo da soja que será plantada a partir de abril/maio em Chicago tem que estar, na fazenda, em US$ 8,59 o bushel, ou com 30 cents/bushel de prêmio, Chicago tem que estar a US$ 8,89, para uma produtividade média de 70,6 sacas por hecatre", completa.  

Custo Soja

Assim, os atuais patamares de preços são bastante remuneradores para o sojicultor dos EUA. Na sessão desta terça, o vencimento novembro/17, referência para a nova temporada americana, era negociado a US$ 10,13. Ao considerar essa cotação em US$ 10,18, por exemplo, com o rendimento ainda na casa das 70 sacas, a receita líquida nos EUA, para o sojicultor, é de US$ 201,56 por hectare, explica o analista, descontando todos os custos inerentes. 

Soja Produtividade

Araújo explica ainda que, caso os preços percam o patamar dos US$ 10,00 por bushel e a produtividade alcançada não seja tão elevada, o produtor americano pode começar a encontrar alguma dificuldade. E é nessa hora que o mercado climático ganha mais força e espaço no mercado futuro. 

Enquanto isso, no caso do milho a queda nos custos de produção - que também é esperada pela Universidade de Illinois - é de 5%, estimado em US$ 1919,97 por hectare, com uma produtividade média de 207 sacas/ha. "Por mais que haja uma queda no custo de produção em dólar por hectare, o custo unitário tem uma leve alta. No ano passado, tivemos produtividade recorde e o mercado e até a própria Universidade de Illinois já não estimam que, neste ano, essa produtividade tão boa se repita", explica o analista da Lansing. 

Custo Milho

A rentabilidade do milho para o produtor americano, entretanto, não tem perspectivas tão positivas como a da soja, principalmente para o produtor que usa terras arrendadas. "Para o dono da terra do milho, sem considerar o custo do arrendamento, o custo do bushel fica erm US$ 2,80, porém, considerando, este custo sobe para US$ 3,92 por bushel, na fazenda", relata Marcos Araújo. No caso da soja, esses números são de, respectivamente, US$ 5,06 por bushel, com o custo e US$ 8,59, sem o custo da terra. 

Milho Arrendamento

Soja Arrendamento

O analista explica ainda que os preços atuais do cereal praticados em Chicago ainda estão um tanto distantes do ideal para o produtor americano. "Para mover o milho da fazenda até Chicago, há um custo logístico estimado em 25 cents de dólar, ou seja, o vencimento dezembro teria que estar trabalhando a US$ 4,17 por bushel", diz o analista. E nesta terça, a posição era negociada a US$ 3,95 por bushel. 

"Nessa realidade, com alta tecnologia e colhendo 207 sacas por hectare, ele já teria um prejuízo de US$ 113,00/ha", completa. "E é por isso que o mercado já está estimando que a safra de soja deva aumentarde 4 a 5 milhões de acres, reflexo da diminuição no plantio do milho e do trigo", conclui.

Milho Produtividade

Como explica Araújo, outros números também indicam essa maior área de soja podendo se confirmar nos Estados Unidos, como as vendas de sementes, e o potencial inicial estimado para a safra norte-americana 2017/18 de até 125 milhões de toneladas, contra 117 desta 2016/17.

No entanto, as contas com a demanda ainda fecham e mostra que o consumo se mostra forte, crescente e atuando como o principal combustível para os preços na Bolsa de Chicago. 

"Se temos um consumo mundial de soja, hoje, ao redor de 330 milhões de toneladas por ano, com um crescimento de 5% ao ano, todo ano, a produção de soja global tem que aumentar 15 milhões de toneladas. Os EUA estariam aumentando com um potencial de 8 milhões, o Brasil teria que completar a lacuna. Então, não vejo Chicago tão pressionado assim, uma vez que uma queda forte desestimularia o sojicultor na América do Sul, e o mercado tem que fazer o seu trabalho, com preços altos e motivar aumento de áreas de plantio ao redor do mundo", explica. 

Com informações ainda do Agrimoney. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

    Excelente trabalho da jornalista Carla Mendes e do analista Marcos Araújo. Muito importante é a exposição do comportamento do Custo Efetivo de Produção em razão da Produtividade alcançada... Algumas entidades costumam divulgar antes da conclusão da safra (às vezes até antes do plantio), algo que denominam como "Custo de Produção", muitas vezes trazendo informações errôneas e distorcidas ao mercado -- como, por exemplo, que as Receitas são menores do que o Custo de maneira genérica. Isso gera uma tremenda confusão para os produtores e para os financiadores do Agro... Um dado importante (e talvez contraditório com o relatório) dá conta de que esse ano alguns insumos deverão ter acréscimos nos valores nominais. Isso já está acontecendo nesse momento na China com os defensivos, e informações recentes indicam que o mesmo deverá haver com as matérias-primas de fertilizantes... No mais, o artigo merece os parabéns pela qualidade e consistência técnica.

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