Soja: Melhora dos prêmios no Brasil estimula vendas, mas não tira cautela do produtor brasileiro

Publicado em 15/05/2023 15:48 e atualizado em 16/05/2023 08:23

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Como previsto e adiantado pelos analistas de mercado ao Notícias Agrícolas, os prêmios da soja têm melhorado nos últimos dias, abrindo algumas janelas - mesmo que mais estreitas e talvez menos frequentes - de negócios para o produtor brasileiro. Afinal, a grande oferta nacional segue entregando ao mundo, ao menos por enquanto, soja bastante competitiva em termos de preços e qualidade muito elevada. 

Embora ainda haja muita soja para ser vendida, uma vez que, como explica o analista de mercado e diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, o ano de 2023 se iniciou com "o maior volume de grão não comercializado - 120 milhões de toneladas - da história", a demanda está bastante presente e o fluxo do escoamento melhorou, dando o espaço para o respiro dos prêmios. 

"Inchamos a oferta, mas estamos escoando. A demanda está agressiva. Hoje a China possui margem lucrativa com a nossa soja e não só a China, mas grandes produtores de soja estão tendo margens lucrativas com o nosso grão. Hoje estamos com duas embarcações - uma de 38 mil e outra de 45 mil toneladas - em direção ao sul dos Estados Unidos, onde possivelmente será processada, uma vez que para a essa indústria esmagadora está sendo mais barato vir ao Brasil, colocar soja, em especial por portos do Arco Norte, do que buscar no próprio território. Então, a soja está sim 'muito barata', mas a demanda está usufruindo destes preços extremamente interessantes do nosso produto", detalha Pereira. 

A procura intensa pela soja brasileira pode ser ilustrada também pelo line-up nos portos do país, que na soja chega a 15,891,85 milhões de toneladas, de acordo com os números apurados pela Royal Rural. Deste total, cerca de 5,793 milhões de toneladas já foram embarcadas e o principal destino, sem surpresa, é a China. Os maiores volumes estão concentrados no porto de Santos, em São Paulo, seguidos por Paranaguá, Itaqui e Barcarena, entre os terminais mais demandados. 

O analista de mercado da Royal Rural, Ronaldo Fernandes, deu entrevista ao Notícias Agrícolas nesta segunda-feira detalhando um pouco mais dos momentos que o mercado pode viver nos próximos meses. Reveja:

Aos poucos, ainda como relatam analistas e consultores de mercado, os produtores brasileiros vão aproveitando essa considerável melhora dos prêmios e avançam com os negócios, mesmo que de forma ainda bastante reticente. Dos piores momentos, quando os prêmios chegaram a ficar negativos em 230 cents de dólar - ou US$ 2,30 a menos do que os preços praticados em Chicago, renovando suas mínimas em mais de 20 anos, a recuperação é considerável e o maio já está algo entre 60 e 80 centavos de dólar negativos, como explica o Vlamir Brandalizze. 

"Depois de estarem muito congestionados entre março e abril, estamos com melhor fluxo nos portos e isso tem permitido essa recuperação, mesmo com eles ainda negativos", diz o consultor de mercado da Brandalizze Consulting. "E agora já temos os prêmios positivos de agosto em diante, com o agosto entre 30 e 50 cents positivos, o setembro de 80 a 120. Isso faz com que o setembro, nos portos, já pague acima dos R$ 150,00 por saca, contra pouco mais de R$ 140,00 do que vimos hoje". 

São as oportunidades que um mercado muito demandado, mas também muito ofertado, vem oferecendo neste momento. E que poderiam voltar a ficar escassas mais a diante não só com a entrada da nova safra dos Estados Unidos - em especial depois de setembro - mas na disputa mais acirrada que os portos irão registrar entre soja e milho com a colheita da segunda safra brasileira e as perspectivas de muito milho sendo escoado para exportação no segundo semestre deste ano. 

A expectativa é de que o Brasil se consolide como maior exportador mundial do cereal, exportando perto de 50 milhões de toneladas. O mercado já trabalha, inclusive, com a possibilidade de novos cancelamentos de compras de milho por parte da China nos EUA diante da maior competitividade do grão nacional. Nas últimas três semanas, os cancelamentos chineses somaram 832 mil toneladas. E uma nota da agência internacional de notícias Bloomberg, desta segunda-feira (15), já apontavam para preços de milho brasileiro cerca de US$ 30,00 por tonelada mais barato do que o norte-americano. 

Para atender a toda esta demanda sem que os prêmios fossem tão penalizados como aconteceu nesta temporada, o Brasil teria que, pelo menos, dobrar sua capacidade portuária. Afinal, são perto de 300 milhões de toneladas de grãos - entre soja e milho - para serem escoados e, segundo os especialistas, o país não está, logisticamente falando, preparado ainda para isso. 

Assim, ainda segundo Brandalizze, "o mercado da soja nesta ova semana deve enfrentar um mercado vendedor, com produtores buscando fazer caixa para quitar dívidas, ainda limitando grandes mudanças nos indicativos. Mas, o apelo positivo nos prêmios deve continuar, com o julho podendo passar para o lado positivo já nas próximas semanas. Assim, devemos seguir observando um apelo interno e negócios estáveis nos portos", explica Brandalizze. 

E o consultor complementa afirmando que o dólar, na casa dos R$ 4,90, poderia ser também um limitador da melhora dos indicativos no mercado nacional. A semana começou com a moeda americana recuando e testando já os R$ 4,92 nesta segunda-feira.

A safra 2022/23 de soja do Brasil tem criado cenários distintos e emoções contrárias, em especial entre os produtores que vêm os excelentes resultados no campo se chocando com preços pressionados, ao mesmo tempo em que todo potencial produtivo também se choca, mas com a estrangulada infraestrutura logística com a qual conta o maior produtor de soja do mundo. Talvez por conhecer a fundo essa realidade, o ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios Dr. Roberto Rodrigues tenha dedicado, em seu último artigo no Estadão, a análise sobre a necessidade de financiamento para infraestrutura que deveria constar no Plano Safra. 

Afinal, nas palavras de um dos maiores conhecedores do agronegócio brasileiro, "custo de produção e preços na colheita são dois dos pilares que definem lucro ou prejuízo da safra".

O diretor comercial da Novo Rumo e da Agrosoya commodities, Mário Mariano, ao visitar o Mato Grosso recentemente, afirma que jamais viu tamanha contradição entre euforia e expectativas sobre os preços dos grãos e o nervosismo momentâneo não só para soja, mas também para o milho. Afinal, cerca de 60% da produção ainda não comercializada do estado terá de ficar nos armazéns e a capacidade é limitada. 

"Contradizendo o que o mercado esperava, a soja e o milho não têm como compartilhar o mesmo espaço de armazém, mas com as vendas ainda muito pequenas - em especial o milho de segunda safra - a demanda por big bags (silo-bolsas) mais do que dobrou e está com preços 115% maiores do que os do ano passado, e não há grandes volumes disponíveis, estão esperando as importações chegarem", explica o executivo. 

A situação, portanto, exige que o produtor fique mais tempo com seus grãos armazenados, porém, o dilema se intensificando entre vender ou não, e o que vender, soja ou milho. Há produtores que agendaram retiradas de milho, por exemplo, para setembro e que já solicitam que seja feita antes para liberar espaço. 

"Não consigo enxergar uma (efetiva e duradoura) melhora de preços. Haverá um aumento de preços, por alguma razão, como está sendo sinalizado pelos prêmios recentemente, vai ter muita venda porque o produtor precisa escoar o milho estocado da safra 2022 e o que virá a partir de junho juntamente com a soja, e não dá para traçar nenhum comentário altista de tendencias de preço daqui para frente, porque há necessidade de  limpar esses estoques", conclui Mariano.

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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