Pânico geral no mercado financeiro. Soja fecha perto dos 30 pts de baixa
Especialistas em economia acreditam que esse temor visto nos últimos dias reflete a possibilidade de a economia mundial crescer menos do que o esperado principalmente por conta da atual fragilidade da situação dos Estados Unidos.
No início da semana, o presidente norte-americano Barack Obama sancionou um acordo para o aumento do teto do endividamento público do país e a expectativa é de que venha pela frente um período de sérios e pesados cortes de gastos públicos.
Nesse cenário, as commodities seguem perdendo valor, o que, de acordo com analistas, contribui para a forte queda da Bovespa, já que ela segue os mesmos movimentos das bolsas internacionais.
A aversão ao risco segue aumentando por parte dos traders e resultando, ainda segundo analistas, na alta do dólar frente ao real, fator que acaba atuando como catalisador do forte e preocupante recuo das agrícolas.
Bolsas europeias desabam por medo de crise mundial
Riscos de que a crise da dívida europeia se espalhe a grandes nações do bloco e de que a economomia americana entre em recessão preocupam investidores
O pânico voltou a tomar conta dos investidores. As preocupações ainda refletem as turbulências desta quarta-feira causadas pelos temores de que Itália e Espanha sejam afetadas pela crise da dívida (veja quadro sobre o endividamento europeu) que se arrasta pelo continente. Nesta quinta-feira, a Comissão Europeia (CE) inflamou ainda mais os humores dos mercados ao admitir que a crise da dívida soberana não está mais restrita à periferia da zona do euro. As declarações do presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet, sobre a necessidade de rápida implementação dos programas para Grécia, Irlanda e Portugal, também contribuíram para as quedas generalizadas. Por fim, a economia dos Estados Unidos também inquieta os analistas. Dados ruins do mercado local sinalizam que o país pode estagnar ou entrar em recessão, o que seria péssimo para a economia internacional.
Bolsas na Europa – As bolsas europeias despencaram nesta quinta, em uma sessão volátil. Todos os principais índices europeus operavam com quedas maiores de 3% no fechamento dos mercados. O IBEX 35, principal índice da Bolsa de Madri, destacou-se entre as maiores perdas da região, com queda de 3,89%; seguido de perto pelo indicador da Bolsa de Milão, o FTSE MIB, que amargou declínio de 3,21%. Espanha e Itália seguem no centro das desconfianças dos mercados.
O CAC 40, índice da Bolsa de Paris, cedeu 3,90%; seguido por um decréscimo de 3,40% que se verificou no índice DAX, da Bolsa de Frankfrut, e por um recuo de 3,20% do FTSE 100, da Bolsa de Londres.
Bovespa – O Ibovespa registrava às 14:10 uma perda ainda mais profunda que as verificadas na Europa, de 4,62%, sendo que, mais cedo, atingiu a mínima de 5,81%. Ao mesmo tempo, em Nova York, os principais índices do mercado acionário registravam perdas intensas. O Dow Jones caía 2,40%, o Nasdaq, 2,66% e o S&P 500, 2,65%.
O ouro, visto como um ativo seguro pelos investidores, após bater recordes de valorização, passou a operar em queda de 0,53%.
Se o Ibovespa registrar quedas maiores que 10% em relação ao dia anterior, há uma interrupção nas negociações, chamada circuit breaker, de 30 minutos. A última vez que isso aconteceu foi no dia 22 de outubro de 2008, no início da crise financeira. Nesse dia, a bolsa registrou queda de 10,18%.
Guerra cambial – Alguns países passaram a implementar medidas de controle de capital para conter a valorização de suas moedas. Enquanto o Japão vendeu ienes, conseguindo uma queda de 4% em relação ao dólar; a Suíça reduziu suas taxas de juros a quase zero, após o franco ter valorizado 36% nos últimos doze meses.
Ao fim da entrevista à imprensa do presidente do BCE, o euro despencou e passou a operar com baixa de cerca de 1,3%, se aproximando da mínima histórica de 1,0795 franco.
Derretimento, por FERNANDO CANZIAN
(NA FOLHA):
Até que demorou a correção que os mercados começaram a experimentar nesta semana.
O ponto fundamental da volta, com força total, do pessimismo com a economia mundial é um só: o gasto das famílias (consumo) e do setor privado (investimentos para gerar renda e emprego) não compareceram.
Desde o início da Grande Recessão de 2008/2009, vários países ricos passaram a gastar o que não tinham (com forte endividamento do setor público) para tentar dar oxigênio a economias à beira da depressão.
As dívidas monumentais de EUA e de outros países são resultado dessa estratégia.
O raciocínio era o seguinte: o setor privado e as famílias iam mal. Logo, o setor público deveria gastar mais e reduzir juros para induzir, mais à frente, o consumo privado.
A aposta era como uma corrida de bastão. Onde o setor privado, na virada de 2010/2011, deveria assumir o bastão que vinha sendo carregado pelos gastos públicos.
No início deste ano, muitos acreditaram que daria certo. Os EUA emitiram alguns sinais animadores, assim como outros países. Por isso os mercados subiram.
Mas esses sinais foram ficando cada vez mais fracos com o passar dos meses. Até serem definitivamente sublinhados pelas crises de endividamento e embates políticos (nos EUA e na Europa) que assistimos nas últimas semanas.
Agora, finalmente prevalece a percepção de que as dívidas acumuladas no período mais longo de expansão econômica e de crédito dos últimos 30 anos (entre 2003 e 2007) são pesadas demais.
Americanos e europeus nunca deveram tanto. Assim como o governo de seus países.
Com o desemprego em 9% nos EUA e entre 10% e 20% em muitos países europeus, não há otimismo com o futuro entre as famílias. Elas colocam as barbas de molho e só pensam em uma coisa: poupar, a espera de dias piores.
Do lado dos governos, vimos agora o fim da possibilidade de continuarem se endividando para sustentar a atividade. Ao contrário, agora devem economizar, deprimindo mais seus mercados.
A percepção de que algumas economias (especialmente os EUA) voltem a escorregar numa recessão é o final dessa história.
Por isso as bolsas desabam, refletindo a expectativa de fracos resultados futuros das empresas.
É que não sobrou ninguém para segurar o bastão.
1 comentário
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Carlos Mendonça de Barros Cuiabá - MT
Quem ainda não vendeu, deveria aproveitar os preços altos que ainda estão atualmente e vender, antes que a crise derrube os preços para abaixo do custo de produção.