Entressafra crítica de cana-de-açúcar no Brasil pode resultar em menor oferta de etanol

Publicado em 04/08/2014 10:14
João Oswaldo Baggio é presidente da G7 Agrocommodities

A próxima entressafra de cana-de-açúcar, que neste ano começa mais cedo por causa da quebra de produção no Centro-Sul do Brasil, tem tudo para ser uma das mais críticas em termos de oferta de etanol hidratado. Cálculos da SCA, uma das maiores tradings de etanol do País, mostram que a disponibilidade do produto para o período em que as usinas ficarão paradas será de cerca de 3 bilhões de litros. Em ciclos recentes, o volume alcançava 5 bilhões de litros no encerramento da moagem de cana e dava conta da demanda de 1,1 bilhão de litros por mês até o início do ciclo seguinte, evitando alta dos preços.

A entressafra de cana costuma ser de dezembro a março, mas representantes ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado disseram que, em 2014, esse momento será antecipado em até um mês, começando em novembro. O motivo é a seca em janeiro e fevereiro, que prejudicou o desenvolvimento dos canaviais e, consequentemente, limitou o volume de matéria-prima apto a ser moído.

Segundo Luiz Carlos Corrêa Carvalho, sócio-diretor da consultoria Canaplan, esse um mês a mais de entressafra vai gerar um 'desequilíbrio'. Quanto ao anidro, não há preocupações, diz José Dirlei Marcello, gerente de Planejamento da SCA. 

'Não devemos ter problemas porque o combustível já está contratado e as usinas precisam honrar os compromissos. Já para o hidratado, a disponibilidade deve ser limitada', avalia. A trading prevê que, no início da entressafra, os estoques de anidro, misturado em 25% à gasolina, serão de 4 bilhões de litros.

Tanto Carvalho quanto Marcello dizem que uma das saídas para se evitar um choque de oferta seria a importação do biocombustível, mas ponderam que a medida tem limitações. 'Se falta hidratado em fevereiro, não adianta importar, porque há restrições nos portos para recebimento. Teria de começar já em outubro, mas não há nenhuma sinalização nesse sentido', explica o gerente de planejamento da SCA.

Assim, a tendência é de que as cotações do produto avancem com força já a partir de dezembro, mês tradicionalmente de maior demanda por conta do início do período de férias. Na BM&FBovespa, esse cenário já é sentido.

O metro cúbico do hidratado para janeiro de 2015 gira em torno de R$ 1.300, 6% superior ante a média de R$ 1.225 observada em igual mês deste ano, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).

Principal região produtora do País, o Centro-Sul pode processar até 40 milhões de toneladas a menos que as 596 milhões de toneladas de 2013/14, segundo projeções de representantes e consultorias. Até a primeira quinzena de julho, haviam sido produzidos 5,88 bilhões de litros de etanol hidratado, 3,70% mais que em igual intervalo do ano passado, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).

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Fonte:
João Oswaldo Baggio

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