Grande aposta especulativa no açúcar bruto impulsiona produção do adoçante

Publicado em 29/10/2020 18:16

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Por Marcelo Teixeira

NOVA YORK (Reuters) - Uma grande aposta altista mantida por fundos de hedge e gestores de capital em contratos futuros do açúcar bruto negociados em Nova York está convencendo produtores globais a impulsionar a fabricação do adoçante, em movimento que, segundo analistas, pode acarretar um excesso de oferta em pouco tempo, devido à persistente fraqueza na demanda.

Especuladores possuem uma posição comprada de cerca de 200 mil contratos na ICE Futures, maior nível desde 2016. Os altos preços devem estimular a produção em países como o Brasil, maior fornecedor global da commodity, que pode desencadear uma nova safra recorde de 38 milhões de toneladas.

No entanto, analistas afirmam que as apostas especulativas dos fundos não estão alinhadas aos fundamentos do mercado de açúcar, que está passando de um déficit de oferta em 2019/20 para um excedente em 2020/21, devido especialmente ao aumento da produção no Brasil e na Índia.

Se a produção continuar aumentando, haverá ameaças de um excesso de oferta que pode, por sua vez, derrubar os preços.

"Acho que os fundos estão empurrando os preços para cima de forma artificial", disse Arnaldo Correa, diretor da Archer Consulting.

Recentemente, a S&P Global Platts reduziu sua projeção para a demanda por açúcar em 2019/20 e 2020/21 em um total combinado de 4,5 milhões de toneladas por causa da pandemia de coronavírus, diminuindo a demanda geral prevista para 2020/21 para 183,5 milhões de toneladas.

As compras por fundos levaram os preços do açúcar ao maior nível em oito meses nesta semana, com fechamento de 14,85 centavos de dólar por libra-peso na quarta-feira. O movimento atraiu uma enxurrada de fixações de preços por produtores da Austrália, América Central e, particularmente, do Brasil.

PRODUÇÃO ESPERADA

A Archer, que fornece serviços de consultoria em hedge para usinas brasileiras, estima que as empresas do país fixaram os preços de mais de 8 milhões de toneladas de açúcar da safra 2021, cuja colheita terá início apenas em março, ou cerca de um terço da produção total esperada.

Os produtores utilizam o hedge para garantir os lucros das safras que colherão no futuro.

Alguns fatores estão guiando o otimismo. Há preocupações de que a safra do Brasil possa ser menor do que o esperado, em função das chuvas abaixo da média registradas neste ano. Na Índia, o governo ainda não apresentou seus planos para os subsídios às exportações de açúcar.

Além disso, o dólar passou por um enfraquecimento, o que tende a impulsionar as cotações de commodities precificadas na moeda norte-americana.

Analistas disseram que fundos poderão liquidar as posições se a Índia confirmar as expectativas quanto aos subsídios para exportações, previstos em cerca de 5 milhões de toneladas, o que ampliaria a oferta.

Com os preços do açúcar acumulando alta de 60% em relação à mínima de 9,05 centavos de dólar verificada em abril, no ápice das medidas de restrição relacionadas ao coronavírus, a corretora Marex Spectron vê potencial para uma ampla liquidação quando a política da Índia for esclarecida.

Alguns especialistas do setor destacaram que quatro anos atrás os fundos construíram uma posição comprada de quase 340 mil contratos, o que levou os preços a quase 24 centavos de dólar. Assim que começaram a vender, o açúcar recuou 25% entre outubro e dezembro.

"Em 2016, tivemos uma situação semelhante, com fundos empurrando os preços para cima", disse Claudiu Covrig, analista de açúcar da S&P Global Platts. "Até que o mercado colapsou".

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Fonte:
Reuters

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