Safra 23/24 de cana próxima do fim confirma otimismo e moagem pode ficar em recorde de cerca de 650 mi de t no Centro-Sul

Publicado em 06/03/2024 14:31 e atualizado em 06/03/2024 18:11
Para o próximo ciclo de produção, expectativa é de moagem levemente menor na principal região produtora do país; chuvas têm ocorrido nas últimas semanas

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O mês de março tem início e, com ele, a safra 2023/24 (abril-março) de cana-de-açúcar se encerra no Centro-Sul, principal região produtora do Brasil. Com isso, o otimismo com o atual ciclo de produção vai se confirmando. Estimativas de entidades e consultorias preveem que a moagem de cana atinja nível recorde, de cerca de 650 milhões de toneladas, diante do clima favorável aos canaviais. Para 2024/25, porém, o cenário não deve ser tão positivo.

"Entendemos a safra 2023/24 como uma supersafra, perto de 650 milhões de t no Centro-Sul, o que é quase 20% a mais em volume de cana moída ante o ciclo anterior. A nível Brasil, considerando a região Nordeste, podemos ultrapassar as 700 milhões de t de cana moída", explicou ao Notícias Agrícolas José Guilherme Nogueira, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA).

Essa produção na região abrange uma área prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 7,39 milhões de hectares com produção prevista pela autarquia em 614,08 milhões de t. "Já tivemos safras grandes no Centro-Sul em outros anos, mas a área de cana era maior. O que surpreende é a produção obtida até o momento nessa área. A produtividade, por exemplo, está em cerca de 87 toneladas por hectare", complementa o executivo.

"A safra 2023/24 termina bastante favorável, seja no aspecto de produtividade de cana, preços favoráveis do açúcar, apesar de cenário nem tão positivo no etanol, e um arrefecimento dos custos com insumos. No ciclo anterior, os insumos representaram um impacto bastante alto. Já a 2024/25, inicia com algumas incógnitas", afirma Almir Torcato, gestor corporativo da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste).

Com essa moagem recorde e em meio aos altos preços, a produção de açúcar foi maximizada no ciclo 2023/24 pelas usinas. A projeção da ORPLANA é de uma produção do adoçante de cerca de 42 milhões de t, cerca de 25% maior do que a do ciclo anterior. "A grande maioria das usinas migraram do etanol para o açúcar ou estão fazendo investimentos com foco no adoçante", diz Nogueira reforçando que a tendência para 2024/25 é parecida.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) irá fechar a safra 2023/24 apenas no início do mês de abril. Porém, segundo sua última prévia, o acumulado até a primeira quinzena de fevereiro também já reforça o cenário positivo da safra que está prestes a finalizar. A moagem acumulada está em 646,60 milhões de t, ante 543,21 milhões de toneladas registradas no mesmo período no ciclo 2022/2023, um avanço de 19,03%.

No acumulado da safra atual desde 1º de abril, a fabricação do adoçante totaliza 42,16 milhões de t, contra 33,57 milhões de t do ciclo anterior, salto de 25,59%, segundo a UNICA. A fabricação total de etanol acumulada no Centro-Sul totaliza 32,48 bilhões de litros (+15,53%), sendo 19,46 bilhões de etanol hidratado (+20,54%) e 13,03 bilhões de anidro (+8,78%).  A ORPLANA diz que apenas duas usinas em São Paulo ainda devem moer neste mês de março.

SAFRA 2023/24 NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE

A colheita da safra 2023/24 de cana-de-açúcar ainda ocorre nas regiões Norte e Nordeste do país, com cerca de 80% dos trabalhos finalizados até o dia 15 de fevereiro. Até o momento, o processamento alcançou 52,90 milhões de t, cerca de 5% acima do igual período da moagem anterior, segundo a Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio).

Aa produção de açúcar chegou a 3,08 milhões de toneladas, aumento de 13,8% ante 2,71 milhões de toneladas no final da segunda quinzena de fevereiro do ano passado. A NovaBio reúne 35 usinas e destilarias de etanol em 11 estados brasileiros. A fabricação total de etanol, considerando o anidro e o hidratado, cresceu 1,1%. Foram produzidos 2,01 bilhões de litros contra 1,99 bilhão de litros fabricados na mesma data do ciclo 2022/23.

Colheita de cana - Foto CNA
Próxima safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil deve ser menor, mas com insumos mais baratos - Foto: CNA

SAFRA 2024/25 DEVE SER MENOR QUE ANTERIOR NO CENTRO-SUL

Depois de um cenário climático quase perfeito para a safra 2023/24, o próximo ciclo produtivo, 2024/25, que começa em abril, já está mais complicado no campo, apesar de chuvas voltarem a ser registradas em áreas produtoras nas últimas semanas. A ORPLANA, por exemplo, espera uma quebra entre 8% a 10%, principalmente por conta das precipitações irregulares entre os meses dezembro a fevereiro no Centro-Sul do país.

"Não vamos ter uma safra tão pequena quanto em 2021, mas também não será tão boa quanto a anterior. Projetamos que a moagem fique entre 610 a 622 milhões de t. No número de açúcar, pelos contratos de fixação já fechados [com altos preços internacionais], não devemos ter tanta diferença ante o ciclo anterior, devendo oscilar em uma produção entre 42 a 43 milhões de t", explicou o executivo da entidade que representa os produtores.

"Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro tiveram chuvas muito abaixo da média histórica para os canaviais do Centro-Sul. O déficit hídrico nesse período, ou seja, as chuvas abaixo dessa média histórica, oscilaram de 11% a 17% dependendo da região produtora. Agora, os mapas de chuva, pelo menos no mês de março,  mostram precipitações mais fortes, inclusive acima da média histórica, e que podem neutralizar parte do déficit hídrico", afirma Mauricio Muruci, analista da Safras & Mercado.

A consultoria já revisou a moagem de cana da região Centro-Sul nos últimos meses e agora também vê um volume de 650 milhões de t de cana para 2024/25. "Nossa previsão inicial de 670 milhões de t de dezembro caiu para 650 milhões. Ainda assim, é muito elevado", afirma Muruci. A produção de açúcar no novo ciclo é apontada pela consultoria em cerca de 41 milhões de t. "Saímos de um padrão absolutamente recorde para um ainda alto", diz.

Em evento de abertura de safra, realizado nesta quarta-feira (06), a consultoria Datagro trouxe previsão de moagem de cana no Centro-Sul do país em 592 milhões de t, o que representa uma queda de 9,8% ante o recorde do ciclo passado, com chuvas abaixo da média nos principais estados produtores nos próximos três meses. A produção de açúcar na nova safra é estimada em 40,5 milhões de t, com uma queda de queda 4,8% ante 2023/24.

A produção de etanol na principal região produtora do país deverá cair 9,3%, totalizando 30,42 bilhões de litros, incluindo o biocombustível de milho.

A moagem da nova safra de cana poderia começar já no início de março, segundo algumas expectativas, mas de acordo com Nogueira, ORPLANA, esse cenário sofreu algumas mudanças. "As usinas concluíram que sobrou muito pouca cana da safra passada, o que tirou essa pressão de iniciar muito cedo o novo ciclo. Agora, o que vejo é que elas comecem um pouco depois por conta das chuvas, porque a cana pequena não gera volume interessante", diz.

Torcato explica que, na área da Canaoeste, as chuvas têm sido bastante irregulares para a safra 2024/25. "Temos áreas com produtividade similar ou ligeiramente menor que a safra passada, talvez em 3% a 5% de deságio, mas tem algumas áreas que a gente já prevê ter queda de produção de 10% a 12%. Então, isso é algo que pra gente precisa ainda se desenhar [nas próximas semanas]", explica o gestor corporativo da entidade.

CUSTOS DE PRODUÇÃO MAIS BAIXOS EM 2024/25

Os preços dos insumos ligados à atividade agrícola tiveram queda nos últimos meses, o que deve gerar um cenário um pouco mais favorável para a próxima safra de cana do Brasil, mas Nogueira explica que o cenário ainda é longe do ideal. "Os custos financeiros e administrativos e as depreciações também impactam, além dos insumos. A partir do momento que se têm juros altos, já há um aumento no custo financeiro. A atividade da cana precisa de capital".

"O preço dos grãos está baixo e alguns desses produtores [utilizados na atividade] devem deixar de fazer grandes investimentos, sobrando mais produtos no mercado, o que pode causar redução nos preços dos insumos sim", complementa o executivo da ORPLANA.

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Por:
Jhonatas Simião | Instagram @jhonatassimiao
Fonte:
Notícias Agrícolas

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