Série de reportagens de João Batista Olivi mostra produção e preservação juntas no Noroeste de MT. Leia também especial da FOLHA

Publicado em 01/01/2016 13:09
Resumo das reportagens feitas por João Batista Olivi no Mato Grosso no momento em que o mundo desenvolvido, através da COP-21, aponta o desmatamento como fator de maior contribuição do Brasil ao aquecimento global.

 

Na FOLHA: "FLORESTA SEM FIM, COMO SALVAR A NATUREZA NO BRASIL E O CLIMA NA TERRA

Reportagem  especial da Folha de S. Paulo, reaizada por MARCELO LEITE, FABIANO MAISONNAVE, RAFAEL GARCIA, SÉRGIO ADEODATO e LALO DE ALMEIDA

Destruição de florestas não é sinônimo de desenvolvimento. O governo resiste a liquidar de vez a devastação, o que daria novo impulso à luta contra mudança do clima. A Folha vasculhou a Amazônia para mostrar em quatro capítulos, com 65 fotos, 26 infográficos e 8 vídeos, que zerar a devastação pode ser bom negócio para todos.

O Brasil é o herói das florestas tropicais, mas continua campeão de desmatamento no mundo. 

Na Amazônia Legal, a destruição recuou mais de 80% em uma década, mas empacou no limiar de 5.000 km² por ano. No cerrado a redução foi menor, de 54%. Ainda se devasta a savana brasileira com mais afinco que a floresta amazônica, à taxa de 6.000 km² anuais –uma área maior que a do Distrito Federal. 

No corte raso das matas, mais cedo ou mais tarde, madeira, folhas e raízes se convertem, pela queima ou pelo apodrecimento, em gás carbônico (CO₂) e outros gases do efeito estufa (GEE). Com a contenção do desmatamento, atividade que já representou 70% das emissões brasileiras de GEE, essa fatia encolheu para 35% do total. No entanto, o desflorestamento ainda é o que mais contribui para o aquecimento da Terra no Brasil.

Aqueles 11 mil km² destruídos a cada ano não são o preço a pagar pelo desenvolvimento do país, ao contrário do que muita gente acredita. Pará e Mato Grosso, Estados amazônicos onde mais se desmata, geram só 2% do PIB nacional e têm 5,6% da população, mas produzem 22% dos gases do efeito estufa que fazem do Brasil o sexto ou sétimo maior poluidor climático do mundo (a depender da lista que se consulte).

É nessa posição ambígua que o país vai anunciar suas metas para a Conferência de Paris, reunião da ONU em dezembro para adotar um acordo sobre a mudança do clima que substitua o ultrapassado Protocolo de Kyoto.

LIMITE DE SEGURANÇA

Cada uma das 194 nações que participam da negociação tem de apresentar suas “contribuições pretendidas e nacionalmente determinadas” (INDCs, na sigla em inglês). Somadas, essas promessas deveriam ser suficientes para manter o aquecimento da atmosfera em menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais, mas os INDCs até aqui divulgados indicam que ele ultrapassará a marca de 3°C. Falta ambição, portanto.

O Brasil, nos piores anos de desmatamento na Amazônia, chegou perto de lançar na atmosfera 3 bilhões de toneladas de CO₂ ou outros GEE convertidos a esse gás-padrão (abreviadamente, 3 GtCO₂eq). Caminhou, contudo, para uma posição confortável: em 2013, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg, iniciativa da rede de ONGs Observatório do Clima), houve emissão de 1,59 GtCO₂eq –menos de 8 toneladas por habitante a cada ano, perto da média mundial.

As emissões brasileiras caíram por causa da redução no desmatamento, mas continuam subindo em outros setores, tendo à frente o da agropecuária (sem contar a destruição de florestas) e o da energia (por causa dos transportes e das usinas termelétricas). Se nada mais for tentado, calcula-se que voltariam em 2030 aos 3 GtCO₂eq.

Reduzir o desmate a zero, em termos absolutos, permitiria subtrair mais de 500 milhões de toneladas dessa conta a cada ano. Mas também seria necessário fazer muita economia de carbono na pecuária e incentivar energias renováveis, como a dos ventos (eólica) e a da radiação solar (fotovoltaica), para que o país diminuísse, em vez de aumentar, a parte que lhe cabe no latifúndio do aquecimento global.

SEM COMPROMISSO

O governo Dilma Rousseff, no entanto, não avança nessa direção, como já havia deixado claro há um ano quando refugou a Declaração de Nova York sobre Florestas e a proposta de desmatamento zero nela contida. Em junho, ao encontrar-se com Barack Obama em visita aos EUA, a presidente explicitou seu tímido compromisso em favor do clima: desmatamento ilegal zero até 2030.

Ao incluir o qualificativo “ilegal” na expressão consagrada, o Estado brasileiro sinaliza que só tem expectativa de ver a legislação florestal plenamente respeitada daqui a 15 anos. Admite, assim, que permaneçam milhares de quilômetros quadrados de devastação a cada ano.

O governo propõe que a destruição tolerada seja compensada com o sequestro de carbono na restauração de 120 mil km² de matas (ao crescer, árvores retiram CO₂ do ar pela fotossíntese). Florestas demoram para se formar, contudo, e alguns especialistas estimam que seria necessário recompor 30 km² para sequestrar o carbono de cada quilômetro quadrado desmatado.

Há propostas bem mais audaciosas na praça. O Observatório do Clima, baseado nos números do Seeg, traçou um plano detalhado para não só impedir que as emissões nacionais cresçam como também para diminuí-las. A rede de ONGs calcula, setor por setor, como chegar a 1 GtCO₂eq em 2030, quando cada brasileiro estaria emitindo pouco mais de 4 toneladas anuais de CO₂ –uma cifra considerada factível também pelo respeitado climatologista Carlos Nobre.

Um papel preponderante nesse esforço caberia à pecuária, apontada como maior responsável pelo desmatamento na Amazônia. Com reforma de pastagens degradadas, rodízio de pastos e suplementação alimentar para o gado, o estudo “Cenários para Pecuária de Corte Amazônica”, da UFMG, estima que seria possível aumentar o rebanho de 212 milhões de cabeças para 250 milhões, ao mesmo tempo em que se diminui a área ocupada de 2,2 milhões de km² para 1,74 milhões de km², liberando 460 mil km² para a agricultura de grãos.

No processo, a criação de gado deixaria de induzir desmatamento e ainda capturaria carbono da atmosfera na forma de matéria orgânica acima do solo (folhas) e abaixo dele (raízes). O Observatório ABC (Agricultura de Baixo Carbono) estima que a recuperação de 520 mil km² de pastos degradados no Brasil possibilitaria evitar a emissão de 0,67 GtCO₂eq e ainda armazenar 1,1 GtCO₂eq ao longo de dez anos –o total de 1,77 GtCO₂eq vale mais de 13 meses de emissões brutas nacionais hoje.

É por essa razão que a atrasada pecuária amazônica ocupa o primeiro dos quatro capítulos desta reportagem multimídia. Assim como nos outros três textos (áreas protegidas/terras indígenas; madeira; e assentamentos de reforma agrária), o objetivo é menos o de denunciar a continuada destruição de florestas que o de revelar como já se tornou possível combater o desmatamento ao mesmo tempo em que se melhora a saúde do clima mundial, a vida e a produtividade de quem vive na Amazônia.

MAIS DO MESMO

O gargalo são as políticas públicas. A dificuldade de reconduzi-las para o rumo correto parece ser a razão tanto da resistência em Brasília a adotar metas mais ambiciosas para o desmatamento quanto do ceticismo de alguns especialistas com sua viabilidade.

Um deles é Gilberto Câmara, que já presidiu o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e hoje lidera um esforço para modelar com computadores o uso da terra no Brasil e suas consequências para o clima. “Pedir o céu e jogar para a plateia é fácil”, diz Câmara. “Difícil é fazer como fizemos no caso da redução do desmatamento: estabelecer uma política dura e conseguir mantê-la contra todos os ventos e eventos.”

Já para Tasso Azevedo, do Observatório do Clima/Seeg, “com esforço, mas sem sacrifício”, por meio da recuperação de áreas degradadas, a pecuária poderia estar emitindo entre 0,2 e 0,3 GtCO₂eq em 2030, no lugar de 0,8 GtCO₂eq projetada no cenário “mais do mesmo”.

O governo Dilma Rousseff tem uma escolha a fazer. Pode ousar com uma meta de desmatamento zero, de verdade, enfrentar a ventania doméstica e destacar-se em Paris como uma nação que faz mais do que o previsível para descarbonizar sua economia. Mas também pode abrigar-se das intempéries e ficar deitado no berço nada esplêndido do desmatamento ilegal zero e da tolerância com 11 mil km² de devastação improdutiva a cada ano.

Este especial foi financiado pela Clua (Climate and Land Use Alliance).

(lEIA MAIS NO CADERNO ESPECIAL DA FOLHA DE S. PAULO).

 

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1 comentário

  • Helder Diniz Silva Belo Horizonte - MG

    As fontes de Energia Solar, Solar Fotovoltaica e Eólica são uma saída para a mudança de nossa Matriz Energética. Esta tese defendi na maior Universidade Católica do Mundo e melhor Universidade Privada do país por seis anos consecutivos (PUC/MG). Ela foi defendida no ano de 2000 e teve a participação dos seguintes Professores:

    - Professor José Augusto Leão - Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987) e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990). Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Engenharia Elétrica. Professor do Instituto Politécnico da PUC Minas desde 1990 vinculado aos núcleos de Circuitos Elétricos, Sistemas Elétricos de Potência e Controle e Automação. Exerceu a função de Coordenador do Curso de Engenharia Elétrica da PUC Minas de 2002 a 2008

    - Professor Edgar Torres ? Trabalhos feitos ? trabalhos Premium e Grátis, Monografias e Notas.

    Assuntos

    Edgard Torres - PUC Trabalhos Escolares e Acadêmicos Prontos

    Tópicos

    TÓPICOS ESPECIAIS EM ENGENHARIA ELÉTRICA PROGRAMAÇÃO DAS PALESTRAS 1º SEMESTRE DE 2013 ? PROFESSOR EDGARD TORRES 1ª Aula ? Data: 07/02/2013 Tema: Introdução ao Curso Professor: Edgard Torres Equipamento: ---- Local: Sala de Aula ? Prédio 25 ? Sala 105 ? Campus Coração Eucarístico

    Eclusas

    Tópicos Especiais em Engenharia Elétrica, da Escola de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Palestrante: Edgard Torres Especialização: ? Professor Adjunto III Departamento Eng. Elétrica IPUC ? PUCMINAS; ? Experiência Profissional anterior: EPC e SAMARCO...

    Projetos Multidisciplinares

    Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Professor: Edgard Torres Palestrante: Edgard Torres Graduação: Engenharia Elétrica na E.E.U.F.M.G. Professor adjunto III do D.E.E. da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais...

    - Professora Elizabeth, Coordenadora do Green Solar

    O Grupo de Estudos em Energia (GREEN) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais é um laboratório referência no cenário nacional de estudos e pesquisas em energia solar.

    Criado em novembro de 1997, o GREEN representou uma visão estratégica da PUC Minas sobre a importância da energia renovável na sociedade humana. Devido à relevante contribuição de sua equipe ao desenvolvimento e divulgação da energia solar térmica no país, o laboratório passou a integrar uma rede de centros de referência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O Centro Brasileiro para Desenvolvimento da Energia Solar Térmica (GREEN Solar) funciona sob a coordenação executiva da PUC Minas e administração de um Conselho Gestor constituído, inicialmente, por representantes do MCT, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (SECT-MG) e da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA). A partir de 2003 a Eletrobrás/Procel passou também a integrar este Conselho)

    - Professor Ricardo Ruther

    Graduado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), com mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1991), doutorado em Electrical and Electronic Engineering ? The University of Western Australia (1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (1996) e na The University of Western Australia (2011). É professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da instituição, além de diretor técnico do Ideal. Foi fundador e primeiro presidente da ISES do Brasil (Seção Brasileira da International Solar Energy Society). Faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Energias Renováveis e Eficiência Energética na Amazônia (INCT-EREEA).

    Em meu texto figurava:

    - Há necessidade urgente de alterar a matriz energética brasileira.

    Agora, estamos trabalhando Energia Solar Térmica e Energia Solar Fotovoltaica.

    O Grupo Elektra, Grupo Claritek e a Elildo Carvalho Engenharia são nossos parceiros.

    Seria um prazer fazermos novas parcerias. Temos muito a crescer.

    Ministramos cursos para todo o Brasil.

    www.hdsgrupo.com.br

    [email protected]

    Energia e Engenharia. Negócios.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      O ETANOL FOI VISTO COMO A SALVAÇAO, POREM ACABOU LIMITADO PELO CUSTO----A ENERGIA FOTOVOLTAICA AINDA E' BEM MAIS CARA QUE AS DEMAIS--TAMBEM DE VEZ EM QUANDO OBSERVAM-SE CIENTISTAS AGRICOLAS COMPLETAMENTE ALHEIOS AO FATOR CUSTO, NAO SABEM QUE

      AGRICULTOR NAO VIVE DE SALARIO DO GOVERNO----

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