Plano Brasil Soberano: Pacote de R$ 30 bi anunciado pelo governo contra o tarifaço é remendo até 2027, avalia especialista
Fôlego imediato, oxigênio com prazo: pacote de R$ 30 bi contra o tarifaço é remendo até 2027
Por Eduardo Berbigier
O anúncio do Plano Brasil Soberano nesta quarta-feira (13/08) mostrou que o governo decidiu reagir ao tarifaço norte-americano com um arsenal de medidas emergenciais: R$ 30 bilhões em crédito via Fundo Garantidor de Exportações, prorrogação do drawback, ajustes no FGE, possibilidade de compras públicas de produtos que perderem mercado externo e exigências de conteúdo nacional para quem acessar as linhas de financiamento. É um pacote robusto no papel, mas que nasce com data para expirar em 2027, quando a reforma tributária — se não for adiada — promete eliminar os resíduos tributários nas exportações.
No próprio ato, o ministro Fernando Haddad deixou claro o cerne do problema: “Como a reforma tributária ainda não está em vigor, temos resíduo de impostos que são exportados e isso encarece a mercadoria. Se o exportador tem a garantia de receber parte disso como crédito tributário, ele consegue baratear o seu produto e enfrentar uma concorrência internacional mais acirrada.” A declaração evidencia um diagnóstico antigo: tributamos errado quem vende para fora e, ao invés de corrigir a estrutura, oferecemos um benefício temporário que serve apenas para tapar o buraco por dois anos.
O crédito tributário anunciado funcionará como uma antecipação parcial de valores. Até 2027, o governo tenta reduzir a pressão imediata de um cenário hostil, no qual os EUA impuseram tarifas de até 50% a produtos brasileiros, afetando diretamente setores como carne bovina, café, laticínios e manufaturados. No entanto, a medida não altera o custo estrutural de produzir e vender no Brasil.
De Cuiabá, onde participei da Expoecos 2025 com palestra sobre economia tributária no atacado e varejo, acompanhei também a reação de diversas entidades. A Acrimat, que representa os pecuaristas do estado, foi taxativa: o produtor já está pagando essa conta desde o anúncio do tarifaço, com perda de quase R$ 400 por boi abatido e prejuízo diário de US$ 12 milhões com a queda da arroba. Na nota divulgada no evento, a associação reforçou que qualquer compensação deveria começar pelo pecuarista, não por quem repassa custos adiante. “Não há sentido algum dar incentivo a quem já se preveniu repassando seus prováveis futuros prejuízos ao produtor que sempre paga a conta”, disse a
entidade.
O impacto setorial é desigual. Grandes tradings e exportadores têm mais instrumentos para repassar custos ou ajustar contratos no mercado internacional. Já o produtor primário, especialmente na pecuária, enfrenta a perda direta de receita, sem margem para se proteger no curto prazo. A lógica da Acrimat é simples: se há R$ 30 bilhões para socorrer o setor exportador, que uma parte significativa desse valor vá para quem absorveu de imediato o golpe do tarifaço e hoje vê sua rentabilidade evaporar.
O crédito tributário, portanto, dá um sopro de fôlego, mas não é cura. É oxigênio de emergência para um paciente que segue no mesmo leito, com a cirurgia — a reforma tributária. Nesse intervalo, o risco é o de sempre: ou a medida expira antes de cumprir seu papel ou se eterniza, corroendo a lógica do sistema. O setor exportador agradece o gesto, mas sabe que respira por aparelhos — e que, no Brasil, o temporário raramente termina como planejado.
0 comentário
Maior desafio do potencial do agronegócio brasileiro em 2025 ainda foi o Governo Federal, afirma Antônio Cabrera
Avanço da reforma tributária no Congresso, Plano Clima e as expectativas para o acordo UE-Mercosul sendo assinado
Produtor brasileiro precisa estar atento ao fluxo da soja para definir estratégias de venda em 2026
Clima na última semana da primavera no BR, vitória da direita nas eleições do Chile e a soja do BR em 2026
Soja tem semana negativa e analista reforça que carregar produto no BR não compensa neste momento
BOM DIA AGRONEGÓCIO - AO VIVO