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Trabalho sustentável e social: Rondônia recebe primeira Denominação de Origem de café canéfora sustentável do mundo

Publicado em 04/06/2021 15:46 e atualizado em 04/06/2021 16:50
Enrique Alves - Pesquisador da Embrapa Rondônia
Entrevista com Enrique Alves - Pesquisador da Embrapa Rondônia sobre a Cafeicultura da Amazônia

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Entrevista com Enrique Alves - Pesquisador da Embrapa Rondônia sobre a Cafeicultura da Amazônia

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 Rondônia acaba de ter reconhecida a primeira Indicação Geográfica (IG), do tipo Denominação de Origem (DO), de café canéfora (robusta e conilon) sustentável do mundo. Este reconhecimento da IG Matas de Rondônia para Robustas Amazônicos do tipo Denominação de Origem foi concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI e consolida a qualidade dos cafés da espécie Coffea canephora.

A Indicação Geográfica serve para designar produtos ou serviços, que tem características positivas únicas e indissociáveis dos fatores que compõem a sua origem. Para produtos agrícolas, estes fatores também são conhecidos como “terroir”. Uma mistura que leva em consideração clima, solo, genética e aspectos culturais da população envolvida no processo produtivo. “O saber fazer é crucial na definição de uma IG. Afinal, o fator humano e sua capacidade de modificar o ambiente, selecionar materiais genéticos e manejar lavouras, não pode ser ignorado. Neste caso, se trata de uma interferência, quase sempre, positiva e este é o princípio da Indicação de Procedência (IP)”, afirma o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves. 

Ele explica que, no caso da Denominação de Origem, é um processo ainda mais complexo, pois, além do saber fazer e seus aspectos culturais, leva em consideração que, o café e suas qualidades intrínsecas, têm uma relação direta com as características do "terroir" da região. Para a Denominação de Origem Matas de Rondônia, esta delimitação é formada por 15 municípios: Alta Floresta d’Oeste, Cacoal, São Miguel do Guaporé, Nova Brasilândia d’Oeste, Ministro Andreazza, Alto Alegre dos Parecis, Novo Horizonte do Oeste, Seringueiras, Alvorada d’Oeste, Rolim de Moura, Espigão d’Oeste, Santa Luzia d’Oeste, Primavera de Rondônia, São Felipe d’Oeste e Castanheiras. 

Dada a complexidade e importância do processo de reconhecimento da cafeicultura da região Matas de Rondônia, coube à Embrapa documentar e justificar os aspectos que tornam o café e a região únicos e merecedores deste selo de origem. “Sabemos que a cafeicultura é formada de boas práticas agronômicas, história e ciência. Esse verdadeiro dossiê que subsidiou o pedido de reconhecimento retratou e documentou este conjunto de valores da cadeia de produção e transformação. Isso só foi possível graças a um trabalho de mais de quatro décadas que a Embrapa vem realizando, com a geração e transferência de soluções tecnológicas para a cafeicultura na Amazônia”, destaca o pesquisador.

 
A Indicação Geográfica pode ser uma ferramenta poderosa de valorização de um produto. Mas ela não tem a função de trazer notoriedade. A todos que desejam traçar o longo caminho de obtenção de um selo de IG, o pesquisador da Embrapa ressalta que é preciso responder algumas perguntas: o meu produto tem características únicas e qualidade especial? Como se diferencia dos seus pares? Existe uma relação de causa e efeito com fatores ambientais, genéticos e culturais? Tudo isso pode ser delimitado geograficamente? Outras pessoas, além de mim, reconhecem a notoriedade do que eu produzo? Se é possível responder estas questões sem titubear, mãos à obra! É preciso organizar os interessados e comprovar técnica e cientificamente a cada uma destas respostas.

Antes de mais nada, há uma regra primordial no que diz respeito às IGs e que, às vezes, passa desapercebido: por mais habilidosos e dedicados que os atores de uma cadeia produtiva sejam, não se pode criar uma IG! Este é um processo de reconhecimento e valorização, da qualidade de um produto e a sua origem. Outro equívoco comum é que não existe IG para produtos medíocres! Não se trata de uma ação solidária. É, antes de tudo, um selo que atesta a originalidade e a singularidade de um produto ou serviço.

Dito isto, se entende a complexidade e a importância de se obter um selo de origem de um produto agrícola. Após o reconhecimento da IG é preciso que toda a cadeia produtiva e de transformação trabalhe para aproveitar, ao máximo, seus benefícios e conquistar novos mercados que valorizem a história por trás do produto. 

Na cafeicultura, as IGs não são exatamente uma novidade, existem casos de sucesso como o da Região do Cerrado de Minas que tem grãos com alto padrão de qualidade, mundialmente reconhecidos. Possui grande organização da cadeia e emprega tecnologias de ponta que tornam a cafeicultura dessa região eficiente e sustentável. Mas, apesar dos avanços, o Brasil ainda não é devidamente reconhecido pela diversidade e especialidades de suas regiões produtoras. Ainda é o país das commodities, sendo responsável por quase 40% do mercado mundial. Isso está para mudar, aos poucos estão aprendendo a valorizar e compreender que a singularidade da cafeicultura brasileira tem origem em sua pluralidade cultural, ambiental e genética. 

Nesse contexto, a cafeicultura na Amazônia é uma das mais emblemáticas do Brasil. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (2021), o Estado de Rondônia é o quinto maior produtor de café do país e o segundo da espécie canéfora. Com uma produção superior a 2,2 milhões de sacas de café, é responsável por 97% de todo o café produzido no Norte do País. Incrustrada no interior do estado, a Região Matas de Rondônia é considerada o berço e a origem dos Robustas Amazônicos. 

Nem só de commodities é feita a cafeicultura da Amazônia. É, antes de tudo, a terra de cafés especiais, colhidos em plantas que se adaptaram às condições amazônicas, com características sensoriais distintas e que têm agradado especialistas e consumidores exigentes, no Brasil e no mundo. A combinação entre características sociais, ambientais e genéticas fizeram com que, nesta região, se encontrassem cafeicultores de base familiar, especializados na produção de cafés Robustas finos. São produtores tradicionais, homens, mulheres, indígenas, jovens, enfim, uma legião que trabalha diariamente para levar à mesa dos consumidores o que a cafeicultura amazônica tem de melhor. São grãos especiais que carregam, de forma intrínseca, a história, a preservação ambiental e a marca de sua gente.

A cafeicultura na Amazônia é o resultado de décadas de evolução, baseada em tecnologia, ciência e boas práticas agronômicas. Mérito dos cafeicultores, destemidos pioneiros, que passaram a manejar suas lavouras de forma mais eficiente e criteriosa. Alguns chegaram a selecionar os materiais genéticos que possuíam características favoráveis à produção e finalmente, qualidade. Atualmente, entre os clones lançados pela pesquisa e os selecionados pelos produtores, existem mais de uma centena que são cultivados nas lavouras Rondonienses e que começam a ganhar outros estados.

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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