Com o isolamento, as pessoas estão enlouquecendo dentro de casa, alerta psiquiatra

Publicado em 15/05/2020 17:48 e atualizado em 17/05/2020 04:39
Giovani Missio - Psiquiatra e Pesquisador da USP
Entrevista com Giovani Missio - Psiquiatra e Pesquisador da USP

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Com isolamento, as pessoas estão enlouquecendo dentro dentro de casa

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Além do elevado nivel de stress, insegurança e ansiedade trazido pelo confinamento social, a população urbana brasileira está sendo submetida à uma outra pressão psicológica - a provocada pelas noticias de contágio e mortes da Covid-19. A carga constante e repetitiva de notícias sobre o mesmo assunto (principalmente na TV) está incutindo medo e pavor na mente dos brasileiros.

Entre a maioria das pessoas que absorvem as notícias com um maior grau de preocupação, há também os que já registravam doenças mentais e que lutavam contra ela, mas agora, com a carga opressiva, os sintomas aumentam de grau e intensidade. O resultado se vê nas ruas, nos consultórios, e, principalmente, dentro das casas.

O alerta é do médico psiquiatra e pesquisador da USP, Giovani Missio, que recomenda que as pessoas evitem o aumento da carga emocional "afastando-se da frente da TV, desligando-se das notícias, e aproveitando o tempo para ganhar paz e tranquilidade através da leitura de um livro, ou até mesmo aproveitando para fazer um curso de aperfeiçoamento, ou aprender algo de seu interesse", diz o médico.

Giovani Missio discorda dos métodos de confinamento social, e, através das mídias sociais, tem publicado textos onde questiona os resultados do isolamento total. "O lockdown é apavorante, e o resultado é aumento de doença mentais. Temos de reagir a isso".

Junto com grupo de pesquisadores, o dr. Missio criou uma start-up (a mentalme), para, através de um aplicativo, possibilita que mais pessoas tirem informações e possam diminuir as duvidas sobre a carga de estress a que estão sendo submetidas.

(Abaixo um de seus artigos publicados na internet) 

SAIAM DA FRENTE DA TELEVISÃO E APROVEITEM O TEMPO PARA FAZER COISAS MAIS ÚTEIS 

Existem três conceitos em Medicina para se avaliar o resultado de uma intervenção. São eles a Eficácia, a Eficiência e a Efetividade.

Eficácia descreve a capacidade de uma intervenção em controlar uma doença, qualquer que seja o custo.

A Eficiência descreve a capacidade de uma intervenção em controlar uma doença da maneira mais precisa, com o menor custo. Ou seja, o melhor custo-benefício. Por exemplo: um antibiótico que controle uma infecção mas mate também o paciente, tem alta eficácia mas baixa eficiência.

Já a Efetividade descreve a capacidade de produzir um resultado final vantajoso. Por exemplo: O antibiótico mata a bactéria com mínimos efeitos adversos, sem precisar de internação, é barato, o paciente consegue voltar a trabalhar no dia seguinte e ainda pode tomar vinho pra comemorar o aniversário da esposa. Tem alta eficácia, alta eficiência e alta efetividade.

O Isolamento tem evidência de eficácia no controle da disseminação da COVID-19 mas sejamos realistas: não há evidência nenhuma de eficiência dessa intervenção nem no curto, muito menos médio ou longo prazo. Logo, não há evidência de efetividade.

Milhares de pessoas estão deixando de fazer exames gerais. Milhares de pessoas estão deixando de serem diagnosticadas com câncer ou problemas cardiovasculares e quando retornarem com seus exames já será tarde demais.

Com o isolamento, o consumo de álcool está aumentando vertiginosamente na população (do mundo todo). Isso terá consequências em aspectos de saúde e também sociais.

Milhões de pessoas estão sendo forçadas ao sedentarismo. Além dos problemas cardiovasculares, os problemas ortopédicos irão aumentar: como eu, muitas pessoas sofrem de artrose e o fortalecimento muscular é o único jeito de evitar a cirurgia. Fechar as academias é botar a gente na cadeira de rodas ou no centro cirúrgico.

Não estou ainda colocando na conta os custos sociais e econômicos: o empobrecimento com a consequente perda de assistência médica, de capacidade nutricional e etc.

Segundo artigo de 2017 do The Lancet, o aumento de 1% no desemprego provoca aumento 0,5% na taxa de mortalidade geral na população, em especial nas camadas mais pobres e mais jovem. É só fazer as contas!

Nossos "gestores" estão (apostando) "all in" em uma intervenção com eficácia mas sem evidência de eficiência nem efetividade. Mais uma vez, estamos enxugando gelo e pensando só no curto prazo.

Giovani Missio, é médico psiquiatra, doutor em medicina pela USP

Denúncias de violência contra mulheres aumentaram 35% em abril, diz ministra Damares

A ministra da Mulher, da Familia e dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou nesta sexta-feira, 15, que as denúncias de violência contra a mulher aumentaram 35% em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado.

Segundo a ministra, o aumento é reflexo do isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus. "Agressores e vítimas passaram a conviver 24 horas na mesma casa", disse no evento de lançamento da campanha de conscientização e enfrentamento à violência doméstica.

Damares anunciou que, além do Ligue 180, as denúncias poderão ser registradas pela internet, por meio de um aplicativo específico. O programa também foi desenvolvimento para registro em Libras. A ferramenta, segundo ela, possibilita que a vítima denuncie a violência de forma silenciosa.

Durante discurso, a ministra lamentou que o governo tenha que lançar uma campanha sobre violência doméstica. Ao falar que a pandemia atrapalhou planos do governo, a ministra se referiu ao novo coronavírus como um "bichinho". (Estadão)

ONU alerta para estresse e problemas psicológicos causados ​​pela pandemia do coronavírus

pandemia do novo coronavírus pode desencadear uma crise de saúde que causa problemas psicológicos associados ao luto, medo de doenças ou desemprego, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU), nesta quinta-feira, 14, em um relatório.

O esforço global para combater o coronavírus esconde a disseminação dos problemas de saúde mental "após décadas de negligência e falta de investimento", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. "A pandemia da covid-19 agora está afetando famílias e comunidades, causando mais estresse", disse ele em uma mensagem de vídeo para apresentar o relatório. "Mesmo quando a pandemia está sob controle, a dor, a ansiedade e a depressão continuam afetando pessoas e comunidades", acrescentou.

O relatório destaca o estresse relacionado ao medo de ser contaminado ou que a doença, que deixou quase 300 mil mortos em todo o mundo desde seu aparecimento na China no final de 2019, contamine os membros da família. Também aponta o impacto psicológico nas pessoas que perderam ou podem perder suas fontes de renda e naquelas que foram separadas de seus parentes ou sofreram longos confinamentos.

"Sabemos que a situação atual, o medo e a incerteza, a turbulência econômica, geram ou podem gerar sofrimento psicológico", disse Devora Kestel, diretora de Saúde Mental e Abuso de Substâncias Psicoativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), em uma entrevista coletiva virtual.

O pessoal que trabalha na linha de frente contra a pandemia, começando pelos profissionais de saúde, trabalha, em condições "imensamente estressantes" e é especialmente vulnerável, disse Kestel, citando o aumento das taxas de suicídio do pessoal médico revelado pela mídia.

Além disso, as crianças e as mulheres, forçadas a ficar em casa, são as mais expostas à violência doméstica. Por sua vez, os idosos e aqueles com doenças crônicas, que os enfraquecem diante do novo coronavírus, têm grande ansiedade devido ao medo de se contaminar e de sofrer uma forma grave da doença. As pessoas que já são psicologicamente frágeis e que não podem acessar o tratamento habitual também podem ter sua saúde deteriorada.

O relatório cita, entre outros, um estudo na região de Amhara, na Etiópia, o qual mostra que 33% da população sofre "três vezes mais" sintomas de depressão do que antes da pandemia. Outros estudos indicam que a prevalência de estresse mental durante a crise atinge 60% no Irã e 45% nos Estados Unidos.

A ONU também pede investimentos maciços por parte dos governantes. Antes da pandemia, os países destinavam uma média de 2% de seus gastos em saúde para as doenças mentais. / AFP

Em meio à pandemia, impacto à saúde mental pode ser maior do que o do coronavírus

O sinal de alerta está aceso entre psicólogos, psiquiatras e grupos que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade. A preocupação é que a saúde mental seja deixada de lado agora e se torne um problema ainda maior mais para frente

Os impactos da pandemia do novo coronavírus serão sentidos sobre a saúde mental da população por um tempo ainda mais longo que sobre a saúde física e podem afetar a capacidade de retomada do País quando o período de isolamento acabar. Por isso, é preciso, além de cuidar da doença em si, prestar assistência para que não haja uma adoecimento ainda mais amplo da sociedade.

O sinal de alerta está aceso entre psicólogos, psiquiatras e grupos que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade. A preocupação é que a saúde mental seja deixada de lado agora e se torne um problema ainda maior mais para frente. Não à toa, têm pipocado lives nas redes sociais com dicas sobre como lidar com as emoções durante o isolamento. Mas  algumas situações podem precisar de intervenções reais. 

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O cenário envolve diversos gatilhos para sintomas de ansiedade e depressão Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

“Em uma pandemia, o medo aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis e intensifica os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos pré-existentes. Durante as epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior que o número de pessoas afetadas pela infecção”, aponta um grupo do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas e do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em artigo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, eles fazem uma revisão das implicações para a saúde mental em outras epidemias, como ebola e zika, e ponderam sobre o que pode ocorrer agora, com uma pandemia sem equivalente na nossa história recente.

“Tragédias anteriores mostraram que as implicações na saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência do que a própria epidemia e que as impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis se considerarmos sua ressonância em diferentes contextos”, escrevem os autores liderados pelo psicólogo Felipe Ornell, que atua no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Em outro artigo, publicado na mesma revista, o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina e colegas lembram que “em tempos de medo e incerteza, quando ameaças à própria sobrevivência e à dos outros se tornam um dos principais problemas da vida cotidiana, muitos acreditam que os cuidados com a saúde mental podem esperar e que os esforços devem se concentrar na preservação da vida”. 

Mas, alertam que adotar medidas que preservem a saúde mental pode ajudar a amenizar a crise na prestação de serviços de saúde: “A saúde mental é precisamente uma das chaves para sobreviver a esta pandemia recente e tudo o que isso implica a curto, médio e longo prazo, desde a potencial crise na prestação de serviços de saúde até ajudar a preservar e reconstruir uma sociedade pós-pandêmica”. 

O cenário, atual, porém, envolve diversos gatilhos para sintomas de ansiedade e depressão. Começa com os efeitos do isolamento da quarentena e se amplifica com os medos diversos – da doença ao desemprego – e com os lutos que já estão vindo e que ainda virão.

Fuga ou luta

“Temos um mecanismo muito primário de luta e fuga. Em uma situação de perigo, de medo, a gente aciona muito rápido esse mecanismo, que gera alterações fisiológicas que nos permitem lutar ou correr. Ele enrijece músculos, o sangue é direcionado para as regiões centrais do corpo, as mãos ficam mais frias, o corpo sua para poder escorregar num atrito, o coração bombeia mais rápido. Esses também são elementos comuns em diversos transtornos psiquiátricos, nas fobias, nas ansiedades, no TOC (transtorno obsessivo compulsivos)”, explicou Ornell ao Estado.

“O problema é que estamos diante de um fenômeno que aciona todo esse mecanismo na gente, mas não podemos lutar contra ele, porque é invisível, nem correr dele, porque nem podemos sair de de casa. Mas o processo fisiológico continua acontecendo”, continua o psicólogo.

“Em primeiro e em último grau, estamos falando de medo: nesse momento de ser contaminado, de contaminar, do que vou fazer com o meu filho que está o dia inteiro em casa e eu preciso também trabalhar. Lá na frente vão ser outros medos, como o socioeconômico”, afirma. 

“Isso começa a aparecer em forma de tensão muscular, de insônia, de candidíase, de herpes labial e doenças psicossomáticas relacionadas. Mas se continuar estressando, acionando esse mecanismo biológico de luta ou fuga constantemente sem poder direcionar isso para alguma coisa… a chance de ter um agravamento de transtornos psiquiátricos ou de desenvolvimento pra quem não tinha, é bastante grande. É o que nos preocupa”, diz o pesquisador.

Ele afirma que isso ocorreu com o surto de ebola em 2014. “Depois de um ano do surto, mesmo as pessoas que não ficaram doentes, continuaram com sintoma psiquiátricos ou desenvolveram quadros graves.”

O psiquiatra Rodrigo Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP, que tem feito lives no instagram sobre saúde mental em tempos da covid-19, afirma que já está vendo o sofrimento psíquico de forma geral, como sintomas depressivos, de ansiedade, alteração do sono e aumento do consumo de substâncias como álcool e drogas.

“No médio e longo prazo começaremos a ter outros complicantes: situações de luto, de perdas de pessoas próximas, começarão a surgir os problemas com as questões financeiras. A saúde mental se altera como decorrência de uma somatória de fatores.”

Ele recomenda uma atenção especial para algumas populações específicas. “Quem ficou na linha de frente contra o coronavírus, quem não consegue se proteger, quem já tinha uma fragilidade anterior, quem já fazia tratamento psiquiátrico e pode romper a logística de tratamento com a dificuldade de locomoção com o isolamento e pode piorar a situação”, diz.

Leite estima que aos atendimentos a quem já têm diagnóstico vão se somar novos pacientes que podem se desenvolver por causa da situação. “Isso vai aumentar a demanda por saúde mental. Precisamos cuidar que isso não se torne crônico, que essas pessoas não acabem ficando incapacitadas para o trabalho nem que aumente a taxa de suicídio. Mais do que nunca, temos agora de reforçar essa vigilância porque o tamanho do que pode acontecer é imprevisível.”

Nem todos, explica o psiquiatra, vão precisar necessariamente de medicação ou atendimento médico, mas as pessoas vão precisar de acolhimento, de orientação. “Os investimentos estão voltados para a doença, mas temos de considerar investir nesse momento também em saúde mental. Nossa geração nunca passou por algo assim, não temos ideia do impacto que terá, de como se planejar, mas temos de ter isso em mente.”

Preste atenção

Os especialistas ouvidos pelo Estado dão algumas pistas que as pessoas podem prestar atenção para avaliar como estão lidando mentalmente com a epidemia:

  • “Pergunte-se sempre: como estou me sentindo hoje? Como eu estava ontem, nos últimos dias? Algo mudou?”, recomenda Felipe Ornell, da UFRGS

  • Segundo ele, é normal e saudável ter medo diante de algo que de fato é assustador. “Mas é importante reconhecer quais são os medos essa situação tem me despertado: de morrer, de infectar outros, de não dar conta da situação financeira, de não ter contato com as pessoas, de não poder sair para comprar drogas no caso dos usuários”, diz.

  • “Com base nessas respostas, tente avaliar: tem alguma coisa que eu possa fazer a esse respeito nesse momento? Mais do que isso: é uma coisa segura?”, orienta.

  • Alguns elementos podem ser controlados, há alguns mecanismos para conseguir controlar a ansiedade, como exercícios de respiração. “Isso ajuda muito, mexe na oxigenação cerebral, engana o cérebro no mecanismo de luta e fuga. Eu não consigo controlar quanto tempo essa crise vai durar, quantas pessoas vão morrer, mas tenho controle de como vou lidar, mas preciso saber quais são os meus medos”, afirma Ornell.

  • A partir disso também é possível dividir: o que dá para resolver agora e o que pode deixar para depois. Ou o que eu não dá para resolver agora e necessariamente vai ficar para depois ou quais demandas podem ser postergadas.

  • Ornell também recomenda alguns testes na internet validados para sociedade brasileira e que permitem mensurar o nível de estresse, de ansiedade. “Sabendo em qual nível de ansiedade ela está, vale fazer uma listinha mental de pessoas que pode acionar, quais serviços podem apoiar. Eventualmente a pessoa não vai dar conta sozinha mesmo e vai precisar de uma atenção mais especializada”, diz.

  • Rodrigo Leite, da USP, afirma que vale a pena buscar um acolhimento inicial com os muitos grupos de ajuda que têm surgido, mas se não forem suficiente, é caso de procurar um atendimento profissional. Com a regulamentação da telepsiquiatria, é possível ajudar quem vai precisar de tratamento ou de medicação. 

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Fonte:
Notícias Agrícolas/Estadão

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