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Novas práticas e tecnologias reduzem consumo de água no setor sucroenergético

Publicado em 23/12/2021 11:15 e atualizado em 27/12/2021 09:30
Glaucia Mendes Souza - Coordenadora da BIOEN
Do plantio ao processamento da cana, novas técnicas e pesquisas buscam tornar mais eficiente o uso da água; Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) tem apoiado e participado de grande parte dessas pesquisas

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Entrevista com Glaucia Mendes Souza - Coordenadora da BIOEN sobre Uso da água na cana-de-açúcar

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A produção de cana de açúcar já sofre com a maior frequência e intensidade das estiagens no País, impulsionando importantes pesquisas científicas para reduzir o uso da água, sem perder produtividade no campo e nas usinas. Avanços significativos no uso racional da água têm sido registrados nas usinas, no processo de produção de açúcar e do álcool. A tecnologia desenvolvida e já adotada no País permite que as usinas não necessitem, literalmente, de uma única gota de água captada externamente para o processamento da cana e produção de açúcar e etanol.

O Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) tem contribuído diretamente com grande parte dessas pesquisas, seja por meio de financiamento, seja apoiando pesquisadores e empresas na estruturação de seus projetos. “As estiagens mais prolongadas aliadas às crescentes dificuldades de obtenção de outorgas para irrigação aumentam a preocupação dos produtores com o uso racional da água, não apenas do Estado de São Paulo, mas também de outras regiões do país”, atesta Heitor Cantarella, engenheiro agrônomo, pesquisador e diretor do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, e membro da Coordenação do BIOEN.

Sinal amarelo

O Relatório de Acompanhamento da Safra Brasileira de cana-de-açúcar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revela que, para a safra 2021/22, há previsão de queda de 9,5%, cerca de 60 milhões de toneladas a menos do registrado na safra 2020/2021. O estado de São Paulo, que concentra a maior parte da produção nacional de cana, apresenta hoje um índice de pluviometria média de 1.400mm ao ano, que ainda é suficiente para o bom desenvolvimento da cana (acima de 1.200mm, segundo parâmetro da Embrapa). Entretanto, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicam que algumas regiões do centro norte do estado de São Paulo registraram, em períodos anuais recentes, média pluviométrica abaixo dos 700mm.

Diante desse quadro, Cantarella destaca progressos no uso racional da água que estão ocorrendo na área de irrigação, no processo de plantio e colheita e na produção de açúcar e etanol. “Experimentos com irrigação por gotejamento possibilitam à cana manter bons níveis de produtividade com cerca de 50% do índice ideal de água”, exemplifica. Cita, em outras frentes, o uso de drones no apoio à irrigação e o georreferenciamento por satélite (GPS)nas máquinas agrícolas. “Na irrigação, em breve será possível usar imagens térmicas obtidas por drones que permitirão avaliar em detalhe a situação hídrica de grandes áreas e irrigar de acordo com a necessidade”, prevê.

A ampliação do uso de GPS no maquinário agrícola já contribui para evitar a compactação solo, cita o pesquisador. Durante o plantio e a colheita, as máquinas são guiadas com precisão para não invadirem as áreas das soqueiras, permanecendo em trilhas pré-determinadas. Com o solo menos compactado, o sistema radicular da planta pode se desenvolver melhor, aprofundar e extrair mais água e nutrientes do solo. “Isso permite que a planta acesse áreas mais profundas do solo, que tendem a manter a disponibilidade hídrica por mais tempo”, explica.

Usina autossuficiente em água

Em usinas como a Dedini Indústrias de Base, por exemplo, o processamento da cana para obtenção de açúcar e álcool utiliza parte da água extraída da planta em processos internos, tornando-a autossuficiente no insumo. Em alguns casos, cada tonelada de cana processada pode gerar um excedente utilizável de até 290 litros de água, calcula José Luiz Olivério, engenheiro mecânico de produção e consultor sênior da empresa. “Se a crise hídrica se aprofundar e ocorrer a ampliação do mercado de créditos de carbono, talvez essas unidades optem pela autossuficiência e até pela produção de excedentes de água. A tecnologia para isso já está disponível”, garante.

A Dedini lança mão de várias estratégias, como o aproveitamento de parte da água existente na própria cana, que é formada por 70% de água. Com o apoio do BIOEN, a empresa desenvolveu tecnologias para a recuperação e condensação de parte dos vapores do processo de produção de açúcar e álcool, reutilizados nos processos internos da usina. Em outra etapa da produção, substituiu o sistema de lavagem da cana pela limpeza à seco da cana e da palha por fluxo de ar, composto por uma série de esteiras que permitem a completa limpeza das impurezas.

Olivério destaca, ainda, a concentração parcial da vinhaça e a captação da água evaporada nesse processo. O produto resultante tem entre 60 e 65% de sólidos em seu teor, o que facilita seu uso como adubo, reduzindo, portanto, o número de viagens da adubação. “No caso das usinas certificadas pelo RenovaBio, isso pode até contribuir para gerar mais créditos de carbono (CBios)”, frisa.

Com informações BIOEN

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1 comentário

  • José Roberto de Menezes Londrina - PR

    O maior consumo de água no Brasil é causado pelo monopólio da hidreletricas. Verdadeira algemas do desenvolvimento brasileiro gerenciado pela ANEEL. Uma agência reguladora para proteger benefícios de algumas empresas e dobrar a arrecadação de impostos com a famigerada tarifa vermelha. O Brasil pode diminuir em 20 vezes o uso de água na irrigação. Apenas com a autorização para que o agricultor a produzir energia fotovoltaica e inserir o excedente na rede. O grande uso de água não está na irrigacão, mas nas geração de energia. Mais uma jaboticaba para as inúmeras proibições tecnológicas que dificultam o desenvolvimento no Brasil. Muito triste.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      AS HIDROELETRICAS NAO CONSOMEM ÁGUA , ELAS SIMPLESMENTE A ESTOCAM PARA REGULARIZAR O FLUXO DOS RIOS-----A ANEEL NAO TIRA AGUA DO RIO, QUEM TIRA AGUA E" A IRRIGAÇAO ------BOTA EM ORDEM A SUA CONFUSAO DE IDEIAS

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Me perdoem se eu estiver errado… mas as hidrelétricas de certa forma consomem água sim. Precisam dela para girarem as turbinas que produzem energia. Eles fazem os cálculos para não haver excesso de irrigação, caso contrário tiram a água que irá girar as turbinas na seca. Já vi brigas de cachorro grande por causa desse controle das bacias. Na minha área específica temos um limite e estudo da bacia específica, autorizando alguns irrigantes condicionados a fazerem barramentos para receberem a licença de irrigante. Como Brasil é altamente dependente de energia fluvial, essa briga já não é de hoje. Esse assunto é complexo e bom de se discutir. Melhor termos usinas atômicas para produzirmos mais alimentos por área irrigada ou não? Fica aí uma pergunta para essa complexa divergência.

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    • José Roberto de Menezes Londrina - PR

      Cada dia mais difícil para a ANE

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    • José Roberto de Menezes Londrina - PR

      Aluísio cada dia mais difícil para a ANEEL esconder a verdade. Os habitantes de UNAI, PARACATU E CRISTALINA sabem dis prejuízos da hidreletrica do São Marcos. Sequestrou 70% do excedente da água de chuva da região. Produzindo quase nada de agosto - outubro

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Sr Luiz Ribeiro, o excesso de ignorância está em nossos comentários ou o Sr. está relacionando a ignorância das instituições brasileiras?! Por favor nos esclareça. Se o senhor entende tão bem disso, nos ensine. Queremos compreender melhor essa relação das agências reguladoras nacionais e as empresas nacionais de energia hidrelétrica. Vai, diminua nossa ignorância porra!

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    • Gilberto Rossetto Brianorte - MT

      Diga aí Sr. Luiz Ribeiro, estamos ávidos para escutar sua sapiência.

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    • Luiz Ribeiro Villela São Paulo - SP

      Apenas digo que turbinas não comem água. Não vaporizam a água e se por absurdo o fizerem ,kkkk, essa agua subira para a atmosfera se precipitando como chuvas posteriormente.

      Quanto ao absurdo das tarifas, deixo para os especialistas explicarem.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Me parece que a explicaçao do Luiz Ribeiro e' cristalina---A usina hidroeletrica utiliza o potencial mecanico da agua nao utiliza a agua em si desviando-a para outras finalidades---Sera' que da' para entender a diferença dos dois conceitos??

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Vou tentar mais um pouco-----Eu posso utilizar a agua para irrigar, posso utiliza-la para fornecer bebidas as cidades, posso utiliza-la para lavar estabulos, casas , ruas etc----em todos esses casos eu gasto agua-----A hidroeletrica nao gasta agua ela so' aproveita o peso dela para gerar energia ----A hidroeletrica regulariza o fluxo da agua e forma lagos uteis para a piscicultura---Hidroeletrica e' so BENEFICIOS ECOLOGICOS pois grandes reservatorios tambem criam um microclima mais favoravel a agricultura--- DEU ou nao deu para entender

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Tenho muito respeito a inteligencia do sr Aloisio, por isso nao contestei antes

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. CARLO, os especialistas apresentam números que cada atividade "consome" em percentual de acordo com a capacidade de vazão da fonte ... No caso, o rio em questão.

      É sabido que a necessidade para atender a população (acho) é a menor delas, depois vem a Agricultura e, a geração de energia.

      Ocorre que: Quando essas hidrelétricas foram construídas, a realidade de exploração de suas bacias eram "anos luz" diferente das condições atuais.

      Não devemos nos esquecermos que a cobertura vegetal era, em sua maioria de vegetação nativa. Vegetação essa que foi se adaptando há milhares de anos. Nada contra, a abertura para a produção de alimentos. Mas, quais estudos foram feitos para REadaptar a exploração hídrica dessas bacias para a nova realidade?

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Sr Carlo Meloni, muito obrigado pela consideração.

      Eu entendo perfeitamente a questão do funcionamento das hidrelétricas e a função dos seus reservatórios. Já estive até dentro da área das turbinas de algumas. Entendi perfeitamente a sua explicação. Mas volto a questionar, se os reservatórios não tiverem volume de água suficiente no período da seca, o que acontece?

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Eu queria fazer outra pergunta… Vocês entenderam o que expliquei sobre a obrigatoriedade do estudos das bacias para determinar o uso da água e a sua influência na água destinada para uso dos reservatórios assim que passar o período chuvoso?

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Lembrando que o ideal é o nível do peso da água ser sustentado pelo volume que entra no reservatório.

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Sr Luiz Ribeiro, eu não sou a Dilma que tem a capacidade de estocar vento. Poxa, não alucina… kkk. Obrigado pela resposta.

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    • José Roberto de Menezes Londrina - PR

      Se desconsiderar a Bacia Amazônica. A irrigacão utiliza 2,4 % do excedente da água de chuva e as hidroelétricas

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Só queria mencionar também que a maior concentração de área irrigada se encontram nas micro e médias bacias, as quais estão antes dos reservatórios das usinas. Se nós usássemos toda a água disponível dessas bacias, o que acham q aconteceria nos níveis dos reservatórios? Lembrando que estamos mencionando períodos logo após as temporadas de chuvas. Até porquê, a maioria das irrigações são utilizadas no período seco.

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    • José Roberto de Menezes Londrina - PR

      As hidrelétricas sequestrão

      98 %. Por isso somos o país que mais irriga o Oceano Atlântico.

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Sr José Roberto, eu acho que foram os nossos colegas que não nos entenderam.

      Paulo Rensi, na minha interpretação o senhor está corretíssimo.

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      Não se esqueçam também do desastre ecológico que as usinas hidrelétricas mais antigas causaram e causam na estabilidade das espécies aquáticas, como a piracema(dos peixes) e na preservação dessas espécies aquáticas. Lembrando que mesmo nas novas usinas, os recursos construídos para tentar amenizar esse impacto na estabilidade das espécies de peixes ainda são insuficientes. Tenho conhecimento prático desse impacto nas espécies de peixes. Já mergulhei nos vertedouros de várias usinas. Entendo um pouco do impacto dessas represas na conservação dos nossos peixes. Principalmente nas barragens das bacias do Paraná e São Francisco. Posso alertar que conheço muito bem o impacto que isso tem causado nas nossas espécies aquáticas. Existem diversos outro fatores que influenciam ou influenciavam, mas esse é o mais catastrófico no meu entendimento. Entendo perfeitamente que os sistemas de produção de energia via hidrelétricas, são menos agressivos ao meio ambiente do que as demais fontes na equivalência de escala, mas isso é muito relativo quando existem usinas atômicas com baixíssimo risco de acidentes. Mas esse assunto já chegou nos níveis para especialistas nos esclarecerem melhor. Rs…

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