MERCADO AÇÚCAR: Tateando no escuro

Publicado em 10/03/2012 09:27 e atualizado em 12/03/2012 10:09
Comentário Semanal – de 05 a 09 de março de 2012. Por Arnaldo Luiz Correa.

O mercado de açúcar em NY fechou a semana com significativa baixa de 130 pontos (29 dólares por tonelada) no vencimento maio/2012, seguido por variações igualmente negativas de 75 a 145 pontos, de 16 a 32 dólares por tonelada de queda, empurrado pelos fundos que liquidaram parte de suas posições compradas construídas ao longo das ultimas 3-4 semanas. O maio encerrou cotado a 23,66 centavos de dólar por libra-peso. É bom lembrar, no entanto, que o real se desvalorizou frente ao dólar na semana em aproximadamente 3% , enquanto o açúcar em NY caiu 5%. Essa relação deve ser vista sempre para evitar pânico e tomadas de decisão equivocadas.

As distribuidoras de combustíveis vão ter que sair da zona de conforto em que estavam e passar a buscar, na visão de executivos do setor, a inteligência de mercado. “Acabou aquele comportamento de almoxarifado, de tirador de nota”, provocou um deles. Explica-se: pelo menos 70% da demanda de anidro, com base no volume comercializado pelas distribuidoras no mesmo período do ano anterior, devem ser contratadas por elas, em conformidade com a resolução 67 de ANP, até o dia 1º de abril. Contratada não quer dizer que o preço precisa estar fixado. O mercado aponta que esse anidro vai ser negociado por meio de um prêmio sobre o hidratado, abrindo aí a possibilidade de operações de proteção na BM&F Bovespa. O anidro passa a ter o risco de base que conceitualmente é a diferença entre os dois preços (anidro e hidratado). O mercado vai ficar mais interessante e com boas oportunidades de negócio.

As distribuidoras, algumas com reduzido time de profissionais para comprar etanol em todo o Brasil, terão que se debruçar com disciplina sobre os fundamentos do mercado e os mecanismos que movem os preços, ou seja, analisar a oferta e demanda, seus efeitos na curva de preços, as correlações entre os produtos, apenas para citar alguns. 

Historicamente, nos últimos quatro anos, o anidro tem negociado em média com um prêmio de 15,84% sobre o hidratado. Dados coletados pela Archer Consulting nesse período, no entanto, apontam que em 95% dos casos houve uma variação entre 2,49% de desconto e 34,17% de prêmio. É sob esse cenário que os preços internos deverão ser negociados. Para esse efeito, foram excluídos os dados de março/abril/maio do ano passado quando o preço do anidro explodiu internamente. Outro trader aponta que a situação assemelha-se ao sujeito que entra numa sala escura e tateando o que encontra pela frente no breu não sabe se vai pegar um pé de cana, uma bengala ou uma tromba de elefante. Alea Jacta Est.

O governo brasileiro aumentou de 2 para 3 anos o prazo de incidência do IOF (Impostos sobre Operações Financeiras) de 6% nas liquidações de operações contratadas de câmbio. Os pré-pagamentos de exportação também foram atingidos e agora a isenção do IOF só ocorre quando eles forem financiados pelo próprio comprador. Fala-se também na redução de prazo do ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) para 180 dias, dos atuais 360.

Dessa forma, no caso do açúcar, as usinas perdem poder de negociação uma vez que só poderão levantar recursos dessa modalidade junto às próprias tradings, enquanto os bancos financiadores saem do cenário. Não se viu ninguém gritando nem rangendo os dentes. Parece até que o setor está anestesiado com tantas medidas que só fazem minar o seu crescimento. O governo, por sua vez, é medíocre na maneira como lida com questões dessa natureza, em seu peculiar estilo de culpar os outros (o tal “tsunami financeiro” mencionado por Dilma) ao invés de fazer sua lição de casa, cortando gastos, reduzindo o juro real, promovendo melhoras na infraestrutura. 

No Brasil é assim: usando a velha e esfarrapada desculpa de que os especuladores estão valorizando o real, o governo apena o setor produtivo restringindo o fluxo de capital estrangeiro para investimentos de médio e longo prazo.

Trabalho elaborado pela MB Associados ao qual a Archer Consulting teve acesso demonstra que o preço da gasolina nas refinarias nacionais esteve em média (de 2005 até hoje) 11% abaixo do praticado no Golfo do México. O diesel é pior: 21%. Se o governo elevasse o preço de ambos para zerar essa distorção, e zerando também a CIDE, o impacto no IPCA seria de 0.32 e 0.02 pontos percentuais para gasolina e diesel, respectivamente. Será que tem alguém em Brasília que saiba usar uma simples calculadora?

O contrato de etanol na BM&F Bovespa está com uma posição em aberto de 6.764 lotes em futuros mais 700 lotes em opções. Queda de volume e posição em aberto pelo segundo mês consecutivo.

A volatilidade do mercado nos últimos 20 dias atinge 23,52%, baixa ainda, mas ligeiramente melhor que a do mês passado, avançando 1,50 pontos percentuais; a volatilidade de 50 dias derreteu ainda mais para 27,34% (há um mês era 30,56%) e a de 100 e 200 dias 28% e 34,85% (há um mês 32,62% e 37,45%), respectivamente. 

Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.

Arnaldo Luiz Corrêa
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Fonte:
Archer Consulting

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