MERCADO DE AÇÚCAR: Ponto Crítico

Publicado em 09/04/2012 07:26
Comentário Semanal – de 02 a 06 de abril de 2012. Por Arnaldo Luiz Corrêa.
O mercado de açúcar em NY fechou a semana encurtada pelo feriado de Páscoa mostrando leve pressão sobre os primeiros meses de vencimento: maio, que fechou a 24,58 centavos de dólar por libra-peso com queda de 13 pontos (2,87 dólares por tonelada) e julho, a 23,70 centavos de dólar por libra-peso com queda de 12 pontos (2,65 dólares por tonelada). Os demais meses ao longo da curva, que vai até março de 2015, fecharam com variações positivas de até 25 pontos (5,50 dólares por tonelada).

Olhando os spreads de fechamento, o maio/julho fechou com 88 pontos a favor de maio, o julho/outubro com 26 pontos de desconto para o julho. No final de 2011, eram 61 e 27 respectivamente. Ou seja, embora tenhamos a sensação que algo mudara, na realidade pouca coisa mudou. O maio/julho se apreciou em função de percepção de atraso na moagem e rolagem dos hedges. O julho/outubro está na mesma.

Um leitor assíduo observa que o mercado está chegando num ponto crítico no que se refere à trajetória de preços. “O principal argumento baixista não muda há nove meses”. O preço tem que cair até um ponto em que alcance a paridade do etanol e comece a fazer sentido mover o mix de produção de açúcar para etanol. Os spreads julho e outubro enfraquecem e vão para o custo e carrego e criam incentivos aos compradores no destino para a reconstrução de seus estoques. 

Esse é o ponto crucial. O mercado continua sua trajetória de baixa, com descontos enormes desde a alta recente em 27 de fevereiro, deteriorando os spreads numa indicação de que os hedges foram rolados para os vencimentos seguintes e o inicio da safra - desde que tudo o mais corra perfeitamente bem em termos de clima - vai pressionar os preços. Muito bem, mas a questão que preocupa essa análise é que: 1) os fundos não podem dar suporte ao mercado nesses níveis mais baixos, que certamente provocaram sangria nos seus portfolios; 2), no entanto dificilmente eles (os fundos) virariam a mão de comprados para vendidos num mercado descendente e sem suficiente atrativo na baixa se analisarmos a razão risco/prêmio; 3) as tradings, que continuam baixistas, não poderiam adicionar vendas nas posições atuais por risco de se verem sobrehedgeadas num mercado em queda quando se deparam com a perspectiva – por menor que seja – de termos uma oferta e demanda apertada; 4) as usinas estão bem fixadas. Assim, pergunta nosso leitor, “quem é que vai dar liquidez aos vendidos a descoberto quando eles decidirem recomprar suas posições em futuros?” Participe da nossa enquete, caro leitor, e deixe-nos saber para onde você aposta que estão os próximos 300 pontos nesse mercado? 20,70 ou 26,70? Sua identidade será preservada.

Nunca apreciei muito mercados em que existe um consenso geral. Quando todo mundo está pensando igual, significa que ninguém está pensando. E até relógio quebrado mostra a hora certa duas vezes por dia. Temos argumentado ad-nauseum desde o último trimestre de 2011 que 22 centavos de dólar por libra-peso é uma excelente oportunidade de compra. O mercado nunca chegou naquele nível desde 25 de maio de 2011. Mesmo com toda a crise na Europa cujo pico foi sentido no último trimestre do ano passado, o mais baixo que negociamos em reais equivalente por libra-peso nos últimos 8 meses foi 40,43 centavos; com o dólar de quinta-feira a 1,8247 equivaleria hoje a 22,16 centavos de dólar por libra-peso. 

Isso quer dizer que o mercado não vai abaixo de 22 centavos de dólar por libra-peso? Bem, é muito difícil afirmarmos que não vai. Pode até ir numa situação de pânico e estresse, no entanto o risco de queda em tal nível é limitado por conta de todo o argumento fundamentalista que permeia esse raciocínio, constituindo-se assim num atraente ponto de compra se for atingido.

A imprensa paulistana publicou na semana um quadro estarrecedor sobre as condições financeiras de 1/3 das usinas. O endividamento delas somado à falta de planejamento, de má gestão e outros fatores colocam em dúvida se o Centro-Sul conseguirá moer as 512 milhões de toneladas que é a nossa previsão. Condições adversas de preço, a falta de financiamento, baixa renovação dos canaviais, o abandono nos tratos culturais, a diminuição na manutenção nos equipamentos industriais e as dificuldades financeiras de toda a ordem vão explodir lá na frente quando a ficha cair.

Num exercício futurístico imaginando a queda da produção de 2012/2013 para 495 milhões de toneladas (usando o mesmo número do ano passado) teríamos uma redução da oferta de açúcar em 1,1 milhão de toneladas e 700 milhões de litros de etanol. Com uma base tão baixa, o crescimento para a 2013/2014 coloca-se em xeque. 

Algumas usinas de primeiríssima linha possuem custos de produção de açúcar abaixo de 20 centavos de dólar por libra-peso equivalente FOB Santos. É evidente que as mais capitalizadas nem piscam em recomprar seus hedges se o mercado despencar ainda mais. 

Um leitor dos EUA disse estar surpreso que o volume de NDF seja de apenas 3%. E citou várias operações de balcão que são feitas em volume no Brasil. Essas chamadas OTC não estão computadas nos 3%, apenas as operações de NDF.

Acreditamos que o governo vai aumentar a mistura de anidro para 25% tão logo sinta-se confortável com o cenário. Não pelo “especial” carinho que dedica ao setor, mas por pura necessidade de diminuir a sangria no fluxo de caixa que a estatal do petróleo vem experimentando vendendo gasolina com prejuízo. 

O contrato de etanol na BM&F Bovespa está com uma posição em aberto de 5.056 lotes em futuros mais 600 lotes em opções. Queda de volume e posição em aberto pelo terceiro mês consecutivo.

A volatilidade do mercado nos últimos 20 dias atinge 26,37%, se recuperando em relação ao mês a passado, avançando mais de 3 pontos percentuais; a volatilidade de 50 dias derreteu ainda mais para 24,07% (há um mês era 27,34%) e a de 100 e 200 dias 27,51% e 33,73% (há um mês 28% e 34,85%), respectivamente. 
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Fonte:
Archer Consulting

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