O setor sucroalcooleiro merece respeito

Publicado em 11/04/2011 08:08
Mercado de Açúcar – Comentário Semanal – de 04 a 08 de abril de 2011
O mercado de açúcar em NY fechou a semana em queda nos dois primeiros meses de vencimento, com pressão substancial no maio/2011 que encerrou na sexta a 25,78 centavos de dólar por libra-peso, com queda de 37 dólares por tonelada. Os fundos que estavam comprados começaram a rolar suas posições para o vencimento seguinte e com isso pressionam o spread que se desvalorizou na semana ao redor de 24 dólares por tonelada. O vencimento seguinte, julho de 2011, perdeu quase 13 dólares por tonelada. Os demais vencimentos a partir daí fecharam com altas entre 1 e 15 dólares por tonelada. A curva continua inclinando descontando os vencimentos mais curtos e apreciando os vencimentos do próximo ano.

A demanda de açúcar no físico é fraca, mas para quem tem produto para embarque imediato o prêmio chega a 200 pontos acima do maio, derretendo para 45 pontos acima do maio para embarque início de maio, 100 pontos acima do julho para embarque junho e 30 pontos sobre o julho para embarque julho. Ou seja, o mercado trabalha com uma queda de quase 300 pontos no preço de agora até julho. 64 dólares por tonelada mais barato lá na frente.

As bizarrices do governo Dilma contra o setor sucroalcooleiro, que uma vez mais é feito de bode expiatório para todos os problemas que afligem o setor energético, deixaram pasmas as principais cabeças pensantes do setor. O que se ouviu do governo durante a semana passada demonstra uma atitude recheada de anacronismos e – pior – a sensação de que não conhecem a fundo o assunto do qual estão falando. Uma falta de respeito sem precedente para uma indústria que em 10 anos destinou ao mercado de combustível 140 bilhões de litros de etanol equivalentes a 1,21 bilhão de barris.

Decidiu-se que a fiscalização sobre a cadeia produtiva do etanol passará à Agência Nacional do Petróleo (ANP). Agora sim, os problemas acabaram. No Brasil a maioria das agências, como se sabe, é muito competente. Vai ser assim também com a ANP tomando conta do etanol. A cana vai passar a crescer 8 metros, nossa produtividade vai ultrapassar os 150 de ART e o consumidor, feliz, vai poder comprar seu etanol no posto da esquina a R$ 0,50 o litro.

Qual a eficácia dessa mudança? Como qualquer empresa num mercado livre, as usinas vão produzir o produto que melhor lhes der retorno financeiro. Nas quatro últimas safras, de acordo com os dados de preços publicados pela ESALQ e a curva de custo elaborada pela Archer Consulting, o açúcar no mercado internacional foi negociado abaixo do custo de produção em 40% dos dados pesquisados, ou seja, mais de uma safra e meia no vermelho; o etanol hidratado em 30% das ocasiões negociou abaixo do custo de produção. Num pico, o açúcar de exportação chegou a ser negociado com preço de 42% abaixo do custo de produção. A média de rentabilidade dos dois produtos pesquisados nos últimos quatro anos foi de 19,4% e 8,7%, sem considerar o custo financeiro. Ou seja, apenas nessa última safra tivemos preços que ajudaram as usinas a sair do vermelho, diminuir seu endividamento e começar a pensar com seriedade e pés no chão na tão necessária expansão do setor.

No entanto, a presidente deixou vazar que está “muito aborrecida” com os usineiros e ameaçaria até a taxação da exportação de açúcar. Essa atitude ao estilo Chaves nos remete aos anos 60 em que o país era a República das Bananas. A presidente desconhece a lei da oferta e procura que, infelizmente para ela, não pode ser revogada com uma penada. Se levar adiante essa insanidade, teremos uma distorção nos mercados de tal magnitude que pode comprometer ainda mais a produção de etanol e o fornecimento de combustível para os próximos anos. Se taxar o açúcar, o mercado internacional fica mais volátil e o importador paga o preço inflado num primeiro momento, se ele precisar repor estoques. Preços artificialmente altos incentivam os países que competem com o Brasil a produzir mais açúcar, fazendo com que o país perca fatias de mercado ao longo do tempo. Além disso, a demonstração para os investidores estrangeiros de que o país não tem estabilidade, não tem clareza nas políticas e nem economia de mercado, fará com que os investimentos necessários para a expansão da indústria diminuam substancialmente. E olha que precisamos de 60 bilhões de dólares nos próximos 6 anos para atender a demanda projetada de etanol em 2017/2018.

Procurei mas não achei na Constituição Brasileira que estejam nas atribuições constitucionais do presidente da república ficar aborrecido com este ou aquele grupo. Em vez de olhar o mercado com visão estratégica de longo prazo, a presidente faz um sórdido jogo popularesco e joga nas costas dos usineiros o ônus da falta de planejamento do seu governo e do anterior de criar estoques reguladores, de ser o indutor de financiamentos de estoque para o setor através dos inúmeros instrumentos disponíveis no mercado financeiro, de fomentar uma reforma tributária que equalizasse o ICMS ou diminuísse as diferenças de preços entre estados consumidores, entre outras coisas. Mas, não. Ao seu estilo Chaves de saia, preferiu achar um culpado.

A presidente culpa também a entrada das multinacionais que não resolveu o problema (?). Como se as multinacionais tivessem obrigação de investir no país em atividades que não dão lucro. Se a presidente tivesse cercada de técnicos competentes ao invés dos apadrinhados políticos que participam de eventos do setor com aquele discursinho enjoado de palanque dos tempos do coronelismo, saberia, por exemplo, que o anacronismo de manter um mercado de combustíveis controlado num pais dessa dimensão só poderia dar nisso. Basta deixar o preço da gasolina livre e o mercado se ajusta. Livre mercado para o governo, no entanto, é quando o setor estiver com as calças na mão, quando estiver trabalhando no vermelho e passando o chapéu.

As bobagens que lemos nesta semana preencheriam umas 20 folhas de comentários. Mas a mais risível (está difícil o concurso) é a que a presidente teria encomendado a quatro auxiliares estudos para reduzir "substancialmente" a mistura de etanol à gasolina, que hoje varia de 20% a 25%. Ou seja, reduz a participação do etanol e coloca o que no lugar? Leite de cabra? Não, tem que colocar gasolina. E aí vai ter que importar mais gasolina a preços mais altos do que entrega na bomba. Som na caixa, coloca a trilha dos Três Patetas.

O modelo desenvolvido pela Archer Consulting indica que as fixações de açúcar para a safra 2011/2012, estão entre 12,9 e 15,1 milhões de toneladas ao preço médio de 24,78 centavos de dólar por libra-peso sem o prêmio de polarização.

A volatilidade histórica de 20 dias anualizada despencou para 44,2%.

No Fundo Fictício da Archer Consulting compramos 285 lotes na abertura de segunda-feira a 27,55. Fechamos a semana com uma posição long no delta em 693 lotes. Vamos liquidar todas as posições na segunda próxima e ir para as Bahamas fictícias. Esta semana ganhamos US$ 636.103,82 e elevamos nosso ganho acumulado para US$ 7.378.102,42 em 827 dias de existência. Isso dá um ganho anual de 155,69%. Maddof morreria de inveja.

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Fonte:
Archer Consulting

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