Macro e chuvas pressionam o café com fundos muito vendidos, por Rodrigo Costa

Publicado em 23/10/2017 10:12

O senado americano votou favoravelmente uma resolução ao orçamento do governo de 2018 que permitirá à Donald Trump implementar seus planos de reduzir impostos, como prometido em sua campanha.

Com o prognóstico benéfico ao investimento nos Estados Unidos, incluindo uma eventual troca no comando do FED, o S&P500, o Dow Jones, o Russel3000, o..., enfim todos os índices norte-americanos fizeram novas máximas históricas – está fácil, não é? Por ora...

A recuperação forte do índice do dólar na semana, principalmente a reversão na sexta-feira, fez o CRB cair e fechar o gap deixado na semana anterior.

O café em Nova Iorque negociou no nível mais baixo desde o fim de junho com os fundos pressionando as cotações e encontrando bom interesse de compra dos comerciais. Londres também caiu na quarta-feira, mas subiu novamente com o spread entre os contratos de novembro e janeiro pulando para um prêmio de US$ 54 por tonelada. A arbitragem do primeiro mês, entre as duas bolsas, encerrou a US$ 33 centavos por libra na semana – mais barato que grinders.

Pelo que parece o mercado aguardava uma confirmação do retorno das chuvas no cinturão de café brasileiro para encorajar os fundos a adicionarem mais vendas às suas posições. Prenúncios mais assertivos de institutos meteorológicos foram o suficiente, indicando uma normalização das precipitações.

Isto não significa que necessariamente os agentes naturais estejam certos sobre o quanto será produzido no ano que vem, já que muitos produtores, agrônomos e exportadores tem alertado para um grau de incerteza crescente em função da desfolha em diversas áreas do arábica.

O nosso querido amigo, o experiente e respeitado profissional do mercado, Jayme Neto, lembrou um ponto muitíssimo importante que muitos esquecem ou as vezes relevam: “a concentração de pés de café por hectare atual (entre 4 e 4,500 árvores) demanda bastante água e fertilização” para manter os elevados níveis de produtividade. Neto lembrou o efeito das chuvas abaixo da média entre janeiro e março deste ano que causaram a diminuição no volume de peneiras e possivelmente do tamanho da safra 17/18.

É bom termos cuidado. Excesso de otimismo no potencial produtivo do ano que vem, com os fundos estando vendidos em um novo recorde (considerando o movimento entre quarta e sexta-feira), pressionam a mola deixando menos espaço de quedas para o terminal – assumindo como temporária a desvalorização do Real.

Se já está precificada uma safra acima de 60 milhões de sacas, restam os ajustes da expectativa, mas estes podem demorar outros dois ou três meses, com a confirmação do que vingou da florada.

O argumento de que Brasil perdeu participação de mercado para outras origens vale temporariamente, pois isto se deu quando o país mantinha as exportações elevadas (fruto de participantes terem um livro comprado em diferenciais baratos) e com os estoques de naturais no spot (no destino) confortáveis. Não podemos esquecer que próximo de um terço das exportações mundiais saem de nosso país, e não há quem substitua todo o volume.

A entrada atrasada da safra de Honduras e mesmo de Vietnã podem também favorecer uma alta no curto prazo. Além disso tem a questão de limitações de espaços em navios, dado os problemas da profundidade e limite de calado no Porto de Santos.

A sustentação de ganhos da bolsa é o que sempre vira o “X” da questão, ainda mais em um mercado que há um ano aguarda um rally significativo.

Para não abordar apenas assuntos altistas em um comentário, há o raciocínio baixista para o arábica com uma recuperação forte da safra de conilon no Brasil em 18/19. Todos sabemos que a história do conilon impacta o arábica, pois um aumento da produção da variedade vai devolver mais arábica para o mercado. No mercado físico o preço do conilon já começou a descolar, muito cedo ainda já que tem muito tempo até abril/maio de 2018.

O cenário macroeconômico pode dar um empurrão para as commodities, menos por estarem baratas absolutamente e muito mais por estarem relativamente baixas comparadas ao mercado acionário. Com múltiplos inchados nas ações americanas e europeias, os emergentes também podem continuar se beneficiando, afinal o excesso de liquidez no mundo leva dinheiro para as mesas de operações, e os operadores de fundo tem que colocar o dinheiro para trabalhar. Traduzindo pode ser renovado o interesse de compra em commodities e de compra de Reais para nova entradas de capitais no IBOVESPA, por exemplo.

Tecnicamente o contrato de dezembro precisa se manter acima de US$ 123.00 centavos por libra para gradativamente trazer as médias-móveis para baixo e começar a eleger uma recompra dos fundos, que sem muita dificuldade podem levar Nova Iorque para pelo menos próximo de US$ 135.00 centavos por libra.

Uma ótima semana e bons negócios a todos,

Rodrigo Costa*

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Archer Consulting

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário